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Arthur, um sedutor
Sai na França "Correspon-dência" de Rimbaud, que reúne todas as respostas e todos os documentos ligados às cartas do poeta
PATRICK KÉCHICHIAN
Se compararmos esta
obra de mil páginas ao
volume real da correspondência conhecida de Rimbaud -21
cartas para o período literário
(1870-1875) e 194 para os anos
de 1876-1891-, a desproporção
salta aos olhos. Mas o autor das
"Iluminações" suscita, à altura
de seu gênio, um entusiasmo
específico.
Jean-Jacques Lefrère, que
também é hematólogo e professor de medicina, publicou
nos últimos sete anos, além de
uma biografia de referência
(Fayard, 2001), vários álbuns
de documentos autógrafos e fotografias em torno de Rimbaud. A notável edição que fez
dessa "Correspondência" é
provavelmente única no gênero. Ela reúne, anota e comenta
todas as respostas e todos os
documentos ligados às cartas
do poeta.
"Como a parte propriamente
literária ocupa menos de 200
das mil páginas", explica Jean-Jacques Lefrère, "é menos a
correspondência de um "escritor" -sempre temos dificuldade para classificar Rimbaud
nessa categoria quase profissional- que a de um negociante em importação-exportação
no final do século 19, em plena
Abissínia".
"Muitas cartas de Rimbaud,
escritas entre 1870 e 1875, ano
provável de seu abandono da literatura, não foram conservadas, mas a raridade das que sobreviveram confere a cada uma
delas um interesse de primeiro
plano."
Sobre o método, continua
Lefrère, "pareceu-me útil colocar sob os olhos do leitor o que
se escreveu e às vezes imprimiu sobre Rimbaud. Depois de
tudo reunido, bastou aplicar a
ordem cronológica dos documentos para ver a que ponto a
existência de Rimbaud e a descoberta de sua obra foram linhas paralelas, que nunca se
cruzaram".
"A primeira coletânea de
suas poesias, intitulada "Reliquaire", foi posta à venda nas livrarias de Paris poucas horas
após sua morte, em Marselha.
A glória e a morte disputaram
uma corrida e chegaram empatadas."
A ambição desta edição é reduzir ou explicar o famoso "mito Rimbaud"? Então o editor,
como que espicaçado, responde com vivacidade:
"Querer combater o mito de
Rimbaud com um volume como este, da edição de sua correspondência, é mais ou menos
como construir um bolo de
areia ao lado da pirâmide de
Quéops. Na verdade, o mito de
Rimbaud só desaparecerá
quando for substituído por outro mito."
Dívida antiga
Jean-Jacques Lefrère anuncia praticamente no prefácio
uma próxima edição das cartas
trocadas após a morte de Rimbaud "pelos que se interessavam por sua poesia ou sua lenda nascente". "O projeto é reunir o que foi escrito ou impresso sobre Rimbaud entre 10 de
novembro de 1891, dia de sua
morte, e os anos 1930. O canteiro está aberto e é coletivo.
Ele pretende terminar logo
com Rimbaud?
"Espero, realmente, mas sem
acreditar totalmente. Cada vez
eu me digo que é meu último
volume sobre Rimbaud e anuncio isso aos meus próximos. E
cada vez um novo projeto me
atrai, e o único meio de me livrar dele é afinal realizá-lo",
analisa Lefrère, antes de continuar sua introspecção.
"Na verdade, eu reembolso
uma dívida antiga com Rimbaud, cuja obra foi importante
para mim. Tenho várias dívidas
desse gênero, aliás, mas, como
se trata de escritores desaparecidos há muito tempo, são credores cujo comércio continua
suportável e até agradável. Em
suma, de Rimbaud eu certamente tirarei férias um dia, assim como, no dia de nossa morte, temos certeza de que não viveremos nem mais um dia."
A íntegra deste texto saiu no "Le Monde".
Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves.
ARTHUR RIMBAUD - CORRESPONDANCE
Autor: Jean-Jacques Lefrère
Editora: Fayard
Quanto: 59, R$ 150 (1.032 págs.)
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