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Cartas-BOMBA
EM TROCA DE MENSAGENS, STEVEN JOHNSON DEFENDE A WEB COMO ESPAÇO
DE AMPLIAÇÃO DA CIDADANIA, ENQUANTO PAUL STARR DIZ QUE MÍDIA IMPRESSA É CENTRAL
PARA O COMBATE À CORRUPÇÃO E PARA A SOBREVIVÊNCIA DA DEMOCRACIA
Alex Wong - 1º.mai.09/Getty Images/France Presse
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Jornais à venda em máquinas em Washington, nos EUA
ECOSSISTEMA
6 de abril de 2009
Prezado Paul,
Comecemos pelos
pontos sobre os
quais provavelmente
concordamos. Em
primeiro lugar, os
jornais historicamente forneceram e fornecem bens cívicos
e públicos essenciais para uma
cultura democrática saudável.
Em segundo, eles se encontram em situação financeira difícil, em razão de transformações de longo prazo operadas
em grande medida pela internet, também em razão da crise
econômica -que esperamos
ser de curto prazo- e, no caso
de alguns jornais, por decisões
financeiras insensatas de seus
proprietários.
Sejam quais forem as causas
subjacentes, porém, acho que
você e eu concordamos que,
dentro de cinco ou dez anos, o
setor dos jornais -e, portanto,
seu produto editorial- terá
aparência fundamentalmente
diferente da atual.
A dúvida é se vai ou não
emergir um novo modelo que
forneça os bens públicos antes
garantidos pelos jornais por
meio de seus monopólios locais
que geravam alta margem de
lucro (pelo menos nos EUA).
Acho que existem boas razões para pensar que o sistema
de notícias que está se desenvolvendo on-line será melhor
que o modelo dos jornais com o
qual convivemos nos últimos
cem anos.
Uma maneira de enxergar
essa transformação é pensar na
mídia como um ecossistema.
Na maneira como ela circula
a informação, a mídia de hoje é,
de fato, muito mais próxima de
um ecossistema do que era o
velho modelo industrial e centralizado da mídia de massas.
O novo mundo é mais diversificado e interligado. É um sistema no qual as informações
fluem com mais liberdade. Essa complexidade o torna interessante, mas dificulta as previsões de como será sua aparência em cinco ou dez anos.
Ecossistemas
Em vez de começar pelo futuro, proponho que olhemos
para o passado.
Quando os ecologistas pesquisam os ecossistemas naturais, procuram as florestas mais
antigas, onde a natureza teve
mais tempo para evoluir.
Para estudar as florestas tropicais, não analisam um campo
desmatado dois anos antes.
Por analogia, devemos examinar as partes do noticiário
on-line que passaram por uma
evolução mais longa.
Uma dessas áreas é a reportagem sobre a própria tecnologia.
Esta vem crescendo e se diversificando há décadas, fazendo
dela uma floresta antiga de notícias on-line.
Tomemos a política como
outro exemplo. A primeira eleição presidencial que acompanhei de maneira obsessiva foi
em 1992. Todo os dias o "New
York Times" publicava um punhado de matérias sobre escalas nas campanhas, debates ou
pesquisas de opinião.
Todas as noites eu assistia a
programas da TV a cabo para
ouvir o que os palpiteiros tinham a dizer sobre os acontecimentos do dia. Lia "Newsweek", "Time" e "New Republic" e vasculhava a "New Yorker" em busca de seus ocasionais artigos políticos.
É verdade que tudo isso estava longe de constituir um deserto de noticiário. Mas compare-se o que havia então com as
informações disponíveis na
eleição de 2008.
Tudo que existia em 1992
ainda estava presente, mas fazia parte de uma nova e vasta
floresta de notícias, dados, opiniões, sátira -e, o que possivelmente seja mais importante,
experiências diretas.
Sites como Talking Points
Memo e Politico faziam reportagem direta. Blogs como o
Daily Kos traziam relatos aprofundados sobre corridas individuais, algo que o "New York Times" jamais teria tinta suficiente para cobrir.
Blogueiros como Andrew Sullivan reagiam a cada nova virada no ciclo noticiário, e novos
analistas como Nate Silver, no
Fivethirtyeight.com, faziam
análises de pesquisas que superavam de longe qualquer coisa
oferecida pela CNN.
Pense no discurso de Barack
Obama sobre a questão racial,
possivelmente um dos acontecimentos-chave da campanha.
Oito milhões de pessoas o
acompanharam no YouTube.
Teriam as redes de TV transmitido esse discurso na íntegra
em 1992? Com certeza, não. Ele
teria sido reduzido a um minuto no noticiário noturno. A
CNN talvez o tivesse transmitido ao vivo, para 500 mil pessoas. A Fox News e a MSNBC
nem sequer existiam.
Para mim, não há dúvida de
que o ecossistema do noticiário
político em 2008 foi muito,
muito superior ao de 1992.
Algumas pessoas argumentam que essa nova diversidade
é parasítica: os blogueiros são
interessantes, é claro, mas, se
as organizações noticiosas tradicionais perdessem peso, os
blogueiros não teriam mais sobre o que escrever.
Amadurecimento
Isso talvez fosse verdade no
início desta década, mas não é
mais. Imagine quantos barris
de tinta foram comprados para
imprimir comentários em jornais sobre a gafe de Obama em
relação a "pessoas que se apegam a suas armas e à religião".
Mas essa frase não foi reportada originalmente pelo "New
York Times" ou o "Wall Street
Journal", e sim pelo Huffington Post. Não é que os jornais
irão desaparecer -é apenas
que deixarão de ser a espécie
dominante.
A cobertura política da campanha de 2008 foi fértil pelas
mesmas razões por que a cobertura das notícias na web é
fértil: porque a web já é uma
mídia de crescimento antigo.
As primeiras ondas de blogs
eram focadas na tecnologia;
mais tarde, se voltaram à política. Agora, as coberturas de esportes, economia, cinema, livros, restaurantes e notícias locais -todas os temas padrões
do velho formato dos jornais-
estão proliferando on-line. Há
mais perspectivas e mais profundidade.
E isso é apenas o crescimento
mais recente. As notícias on-line estão apenas começando a
amadurecer.
Cordialmente,
Steven
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