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Filósofo deve continuar preso
ROBERTA BARNI
especial para a Folha, de Roma
Ao contrário das previsões, o
professor Antonio Negri ainda vai
passar pelo menos seis meses no
cárcere Rebibbia, em Roma.
No começo de julho passado, a
volta dele de Paris -onde se exilou por 14 anos- contribuiu para
animar o Congresso italiano a analisar um projeto de lei sobre a concessão do indulto para ex-terroristas. A questão, porém, tornou a dividir o país.
Na terça-feira passada, dia 29 de
julho, a Comissão para a Justiça da
Câmara aprovou um projeto de lei
sobre o indulto para os ex-terroristas, que prevê a redução das penas
desde que os condenados não sejam responsáveis por atentados a
bomba ou tenham sido foragidos.
Durante a votação, a maioria governamental, de centro-esquerda,
rachou: o Partido Popular Italiano, herdeiro da ex-Democracia-Cristã, votou contra.
A coalizão da direita também declarou-se contrária, anunciando
forte oposição. Após o recesso parlamentar de verão, em setembro, o
projeto voltará a ser discutido e só
será aprovado se obtiver dois terços dos votos no Congresso. O
que, à luz dos fatos atuais, parece
bastante improvável.
A direita acusa os deputados governistas de terem elaborado um
dos artigos especialmente para o
indulto de Negri. O professor rebateu numa entrevista ao diário "La
Repubblica": "Graças a Deus este
projeto não me diz respeito. Eu dependo da lei atual; se tivesse de esperar por esta nova lei, eu não sairia nem em três anos". Pela lei carcerária vigente, Toni Negri deveria
estar fora da prisão em seis meses.
Giovanni Moro, filho de Aldo
Moro, estadista da Democracia
Cristã e ex-primeiro ministro assassinado pelas Brigadas Vermelhas em 1978, declarou: "É correto
rever a legislação de emergência
varada durante os 'anos de chumbo', mas não deste modo".
O Presidente da Comissão de
Justiça, Giuliano Pisapia, rebateu
o coro de críticas: "Ninguém quer
esquecer o passado, vamos porém
reequilibrar as penas da emergência". Quanto ao caso de Negri,
"dele é preciso apreciar a escolha
de voltar para a Itália: isto deverá
ser avaliado pelo tribunal".
O relator do projeto, o deputado
de Refundação Comunista Nichi
Vendola, propõe que não se use a
mesma ótica dos terroristas para se
refletir sobre a questão: "Os terroristas atiravam num símbolo, esquecendo que o que morria era um
homem. Nós, diante de 224 pessoas condenadas a penas duríssimas pelas leis daqueles anos, não
podemos raciocinar como se estivéssemos diante de símbolos".
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