São Paulo, Domingo, 11 de Abril de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Os dez Mais! brasileiros

1º - Casa Grande e Senzala (1933) - Gilberto Freyre (1900-1987). Record (R$ 32,00).
Pioneiro na reavaliação do influxo africano na cultura brasileira, esse ensaio histórico seminal procura caracterizar a família patriarcal brasileira, considerada como célula da sociedade escravista colonial. A plasticidade do colonizador português abre espaço para o fenômeno da mestiçagem, primeiro em âmbito familiar, mas logo como marca distintiva da civilização brasileira.

2º - Raízes do Brasil (1936) - Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982). Companhia das Letras (R$ 18,50).
As raízes ibéricas da tradição colonial brasileira são vistas pelo ensaísta, sem traço de nostalgia ou grandeza, como entraves à democracia. O iberismo, agravado pela escravidão, deixou como herança uma excessiva ruralização e um padrão de comportamento pautado pelo personalismo. Sérgio Buarque localiza o começo do declínio dessa ordem na Abolição, contemporânea da urbanização, que seria propícia à impessoalidade democrática.

3º - Os Sertões (1902) - Euclides da Cunha (1866-1909). Ática (R$ 34,90), Francisco Alves (R$ 30,00).
Narrativa da Guerra de Canudos baseada num esquema explicativo cientificista, racial e geográfico: a "sub-raça" sertaneja enfrenta o "mestiço" do litoral. A guerra é entendida como expressão aguda da descontinuidade entre sertão e litoral. Nas partes finais desse livro, que traçou um verdadeiro mapa sociológico e etnográfico do país, ganha força a denúncia do massacre cometido em 1896 pelo Exército republicano.

4º - Formação da Literatura Brasileira (1959) - Antonio Candido (1918). Itatiaia (R$ 48,90, dois vols.).
Arcadismo e romantismo são vistos como momentos complementares e decisivos para a constituição do "sistema literário" nacional, ou seja, um conjunto articulado de público, autores e obras dotado de continuidade e dinâmica próprias. A preocupação onipresente em construir uma cultura brasileira deu origem a uma "literatura empenhada", da qual o crítico entretanto sabe tomar distância para analisar igualmente o teor estético das obras.

5º - Formação do Brasil Contemporâneo (1942) - Caio Prado Jr. (1907-1990). Brasiliense (R$ 30,60).
Primeiro grande aporte materialista à explicação do Brasil. O passado colonial, matriz do presente, é considerado como sistema de características socioeconômicas próprias, voltado para o mercado externo e baseado na organização da propriedade como latifúndio monocultor e na organização do trabalho sob forma escravista. Ambos os fatores inibem o desenvolvimento do trabalho livre e do mercado interno.

6º - Um Estadista do Império (1897-1899) - Joaquim Nabuco (1849-1910). Topbooks (R$ 85,00, dois vols.)
Cético quanto ao futuro da República e sob pretexto de uma biografia política do pai -o senador Nabuco de Araújo-, Joaquim Nabuco, prosador brilhante, traça um amplo painel do Segundo Reinado e faz um elogio tácito do monarquismo parlamentar.

7º - Os Donos do Poder (1958) - Raymundo Faoro (1926). Globo (R$ 19,80).
Trata da formação do patronato político brasileiro. Interpreta a história política do Brasil a partir da análise weberiana da burocracia. Graças à predominância do estamento burocrático, constitui-se no Brasil um Estado patrimonialista que se aparta da nação e dá origem a uma cisão entre a "legalidade" teórica e os "costumes e tradições" populares.

8º - Visão do Paraíso (1959) - Sérgio Buarque de Holanda. Brasiliense (R$ 26,50).
Ao tratar dos "motivos edênicos no descobrimento e colonização do Brasil", contrastando seu lugar nas empresas colonizadoras portuguesa e espanhola, Sérgio Buarque escreve um livro pioneiro de história das mentalidades no Brasil.

9º - O Abolicionismo (1883) - Joaquim Nabuco. Vozes (R$ 10,26).
Libelo do movimento abolicionista que vai além da propaganda e oferece uma análise lúcida da "influência da escravidão sobre a nacionalidade", imune ao determinismo racial então em vigor. Toma a escravidão como obstáculo ao desenvolvimento da indústria e das liberdades modernas.

10º - Dicionário do Folclore Brasileiro (1954) - Câmara Cascudo (1898-1986). Itatiaia (R$ 70,00).
O pesquisador potiguar reuniu nessa obra verbetes sobre manifestações populares do Brasil: literatura oral, festas, lendas, superstições, danças etc. Ao lado de "História da Alimentação no Brasil", é a suma de uma vasta obra voltada exclusivamente à cultura popular brasileira.



Texto Anterior: Jean Marcel Carvalho França: Duas sínteses do Brasil
Próximo Texto: Duas mulheres figuram na lista
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.