São Paulo, domingo, 12 de fevereiro de 2006

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Biblioteca básica

O Mito de Sísifo

ANA MARIA MACHADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Impossível não ser marcada por um livro, lido aos 20 anos, que começa assim: "O único problema filosófico realmente sério é o do suicídio. Decidir se a vida vale ou não vale a pena de ser vivida".
Um livro cuja leitura, em seguida, cumpre a promessa desse início.
Ao fazer de "O Mito de Sísifo" o ponto de partida para examinar o sentido da existência (ou sua falta), Albert Camus (1913-60) destaca o absurdo da experiência de viver. Nesse absurdo, a inteligência se alimenta -desesperançada, mas consciente da desesperança. Cheia de dignidade. E de revolta. Movida pelo ímpeto de dizer não.
Citei esse livro porque tinha que escolher. Podia também ser "O Homem Revoltado", que o completa. Volto sempre a Camus. Dei seus livros a meu pai e a meus filhos. Suas reflexões sobre arte, ética, liberdade, justiça têm ajudado a me nortear ao longo da vida. E como escrevia bem! Que prazer nos dá a luz poética de seu texto!
No 11 de Setembro, enquanto assistia pela televisão à queda das torres gêmeas, não conseguia deixar de pensar, com ele, na primazia da moral sobre a própria noção de revolta. Em minha memória, uma frase garantia que uma causa que utiliza meios injustos deixa de ser justa. Palavra de Camus.


Ana Maria Machado é escritora, autora de "Palavra de Honra" (Nova Fronteira) e "Brincadeira de Sombra" (Global). É membro da Academia Brasileira de Letras e recebeu o Prêmio Hans Christian Andersen, o mais importante da literatura infantil.

A obra
"O Mito de Sísifo", de Albert Camus. Trad. Ari Roitman e Paulina Watch. 160 págs., R$ 28,90. Ed. Record (tel. 0/xx/ 21/2585-2000).


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