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+Livros
O homem do presidente
Livro traça
os perfis
de Nixon
e de Kissinger
e investiga
sua relação
intensa
e nada
pacífica
OSCAR PILAGALLO
ESPECIAL PARA A FOLHA
O presidente americano Richard Nixon [que governou
os EUA de 1969 a
1974] e Henry Kissinger, seu secretário de Estado, prorrogaram desnecessariamente a Guerra do Vietnã
[1959-75] por quatro anos, provocando milhares de mortes
evitáveis, e tramaram intensamente contra o presidente Salvador Allende, do Chile, morto
no golpe de 1973.
Era isso o que diziam os críticos daquela administração republicana, que terminou há 35
anos com a renúncia do presidente para evitar o impeachment em decorrência dos crimes praticados no caso Watergate [que vieram à tona em
uma série de reportagens do
jornal "The Washington Post"
revelando a existência de um
esquema ilegal montado pelo
governo Nixon para vigiar o
Partido Democrata, no prédio
Watergate].
Agora, o que eram suposições largamente aceitas ganha
o peso de verdade factual, com
a divulgação de extensa documentação analisada pelo historiador Robert Dallek em "Nixon e Kissinger - Parceiros no
Poder".
Embora Dallek também trabalhe com dados divulgados
anteriormente, suas conclusões são referendadas pela consulta a material de arquivos oficiais que ainda não havia sido
utilizado. O autor teve à disposição milhões de páginas de documentos da Segurança Nacional, 2.800 horas de fitas gravadas por Nixon e 20 mil páginas
com transcrições de conversas
telefônicas de Kissinger.
Dallek, que escreve bem e
não sufoca o leitor com a grande quantidade de informações,
pinta um bom perfil dos personagens que dominaram a política externa dos Estados Unidos por cinco anos e meio, entre 1969 e 1974. Não deixa dúvida de que eram muito diferentes. Nixon era "um quacre de
uma cidade pequena do sul da
Califórnia que conquistou
proeminência por meio da política"; Kissinger era um "imigrante judeu-alemão cuja inteligência inata o levou ao primeiro escalão dos acadêmicos
americanos".
Os dois tiveram uma convivência intensa e nada pacífica.
Nixon, diz Dallek, "estava certo
ao suspeitar que Kissinger se
considerava um intelectual superior manipulando um presidente maleável". Para Kissinger, o presidente era um "cérebro de ameba", o que dizia em
conversas particulares. Para
Nixon, o secretário era "o meu
garoto judeu", o que dizia até
na sua frente, para humilhá-lo.
O ponto em comum entre
eles, nota o historiador, era o
sonho grandioso de reformular
as questões internacionais. A
principal delas era a Guerra do
Vietnã, problema herdado da
administração anterior, democrata [Lyndon Johnson, 1963-69]. Os dois queriam acabar
com a guerra, claro. Mas faziam
questão de "um acordo com
honra", ou seja, desejavam um
Vietnã do Sul autônomo, "o
que justificaria os sacrifícios
feitos até então pelos EUA".
Os comunistas do Vietnã do
Norte, no entanto, não aceitavam condições para a retirada
das tropas americanas do Vietnã do Sul. E estavam em condições de impor sua vontade. O
próprio Kissinger tinha ciência
disso. Mesmo antes de assumir
o cargo, avaliava que a guerra
era impossível de ser vencida.
Diante dessa admissão, a
continuação do conflito só pode ser classificada como um ato
de hipocrisia política. A dupla
se sentia acuada: se eles retirassem os soldados sem contrapartida, estariam derrotados; se os mantivessem em
combate, estariam apenas
adiando o fim, sem mudar o
desfecho. Foi o que acabou
acontecendo quando, em 1975,
os comunistas tomaram Saigon
[hoje Ho Chi Minh], a capital
sul-vietnamita.
Dallek aponta um segundo
equívoco na posição de Nixon e
Kissinger. "Eles acreditavam
erroneamente que abandonar
Saigon ao seu próprio destino
teria terríveis consequências
para a política externa dos Estados Unidos em todo o mundo, principalmente em sua luta
contra o comunismo".
Para ele, o presidente francês
Charles de Gaulle estava certo
ao dizer que "uma saída rápida
do Vietnã teria ajudado e não
arruinado a credibilidade dos
Estados Unidos".
No Chile, Nixon e Kissinger
cometeram o mesmo erro,
achando que o governo socialista de Allende representava
ameaça aos EUA. Dallek, que
considera a suposição paranoica, descreve detalhadamente
como a CIA [agência de inteligência dos EUA] tentou evitar
sua eleição e, uma vez eleito,
como fez de tudo para sabotar
seu governo e apoiar os militares que acabaram dando o golpe em [11 de] setembro de 1973.
Menos de um ano depois, Nixon renunciou. Passaria o resto
de sua vida, os 20 anos seguintes [Nixon morreu em 1994],
tentando fixar a imagem do
grande estadista, responsável
pelo degelo entre EUA e China,
como forma de minimizar Watergate e uma política externa
por vezes desastrosa.
Dallek não tira o mérito de
Richard Nixon em relação à
China, mas redimensiona a iniciativa ao contrastá-la com os
equívocos cometidos no Vietnã
e no Chile.
OSCAR PILAGALLO é jornalista e autor de "A
Aventura do Dinheiro" e "A História do Brasil no
Século 20" (Publifolha), entre outros.
NIXON E KISSINGER
Autor: Robert Dallek
Tradução: Bárbara Duarte
Editora: Jorge Zahar (tel. 0/xx/21/
2108-0808)
Quanto: R$ 89 (750 págs.)
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