São Paulo, domingo, 13 de janeiro de 2002

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O ator Jorge Dória estrela montagem de "O Avarento", de Molière (1622-73). Dirigida por João Bethencourt, a peça deve estrear em São Paulo em fevereiro.

Qual a atualidade de "O Avarento"?
Molière explora um fenômeno, a avareza, que é atualíssimo. Veja os políticos que amealham para si o patrimônio público. A avareza também explica a desigualdade das nações, e os ataques de 11 de setembro são um ato de revolta contra isso.
O espetáculo é fiel ao texto original?
Sim, na medida em que mantém a intriga do texto, os acontecimentos. No figurino e na cenografia, procuramos ser fiéis ao classicismo de Molière, na concepção da Comédie Française. Mas eu faço mais "O Avarento" de Jean-Baptiste Poquelin [nome de nascimento do dramaturgo" do que o de Molière, isto é, dou preferência ao estilo que ele adotava na sua fase inicial, um teatro mais popular, de rua. Pretendemos ser fiéis não tanto ao que Molière disse na peça, mas ao que queria dizer e não podia, pois não era livre para criticar a classe dominante. Com João Bethencourt, examinei tudo o que ele gostaria de ter feito e falado -e também o que lhe dava medo-, pois a avareza é medo da vida, da pobreza, do asilo, da solidão.
Poderia exemplificar essa "adaptação"?
Quando o avarento diz ao seu filho para que ele só case se for por amor, e não para agradar aos pais, eu acrescento: "Nada é mais bonito do que dois jovens que se casem por paixão. O tempo machuca as pessoas, as enfeia, as fragiliza. Como é difícil manter a longevidade de um casamento, aguentar o ronco, a baba, o arroto do outro. Só mesmo gostando".


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