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Fauna se recupera de massacre
Uma das coisas que impressionam os viajantes na Antártida é a quantidade de
animais que se vê por todo canto. É difícil
navegar no verão sem ver pinguins saltando, petréis rodeando o navio e uma
baleia ou outra borrifando no horizonte.
Alguém que caminhe distraído pela península Keller, na vizinhança da estação
Ferraz, possivelmente tropeçará numa
foca adormecida, fácil de confundir com
uma pedra.Tudo isso alimenta a imagem
de um continente selvagem, onde o homem não conseguiu praticar a sua conhecida lista de perversidades ambientais. Uma imagem falsa, diga-se logo. Entre meados do século 19 e a década de
1960, a Antártida foi palco de um dos
maiores massacres de fauna já realizados na era moderna. A instalação de estações baleeiras por países como Noruega,
Reino Unido e Argentina levou a população da baleia-azul, o maior animal da
Terra, a 2% da original. Só entre 1930 e
1931 foram abatidos 31 mil animais. A
das baleias jubartes, a 3%. E as focas, que
fazem a alegria dos biólogos e dos 15 mil
turistas que visitam todo ano o continente, só escaparam da extinção porque
uma convenção internacional -a Convenção para a Conservação das Focas
Antárticas- foi criada especialmente
para protegê-las em 1972. A própria descoberta das ilhas Shetlands do Sul tem a
ver com o comércio de peles das focas-de-pêlo da Antártida ("Arctocephallus gazella"). A notícia de lucros fabulosos com as
peles de animais capturados nas Malvinas, no fim do século 18, provocou uma
corrida à região. Só nas ilhas Juan Fernandez, relata o britânico Alan Gurney no
livro "Abaixo da Convergência", foram
levadas 3 milhões de peles em sete anos.
O esgotamento rápido das presas fez o
capital foqueiro buscar mais lucros ao
sul. Em 1819, o comerciante britânico William Smith descobria a ilha Rei George,
abrindo o arquipélago ao massacre. O
russo Thaddeus Bellingshausen, primeiro homem a avistar terra abaixo do Círculo Polar, testemunhou a matança de 80
mil focas nas ilhas em 1821. Só Londres
recebeu 200 mil peles naquele ano. Preocupado com a perspectiva da extinção,
ruim para os negócios, o foqueiro James
Weddell propôs um teto para a captura
de "só" 100 mil focas por temporada. Ironicamente, esse mesmo caçador daria
nome a uma das seis espécies de foca antártica, a foca-de-weddell ("Leptonychotes weddelli").
(CA)
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