São Paulo, domingo, 13 de janeiro de 2008

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+ Música

O regente contra-ataca

Lorin Maazel, diretor da Filarmônica de Nova York, ensaia a Metropolitan Opera depois de 45 anos

DANIEL J. WAKIN

Condutor certo, pódio errado? De modo algum. Lorin Maazel, o diretor musical da Filarmônica de Nova York, tem conduzido ensaios no Metropolitan Opera, do outro lado da praça Lincoln Center. Estreou na segunda-feira uma temporada das "Valquírias", de Wagner, 45 anos após sua estréia no Met, em 1962.
Para um condutor de sinfônica tão envolvido em ópera, a ausência de Maazel do Met foi estranha. Ele já dirigiu a Ópera Alemã de Berlim e a Ópera Estatal de Viena; hoje é diretor musical da Ópera de Valência, na Espanha. Mas seus empregos mais destacados foram na direção de orquestras como as de Cleveland, Pittsburgh e, nas seis últimas temporadas, Nova York. "Sempre me considerei um condutor de sinfônica que de vez em quando rege uma ópera", disse em uma entrevista recente. "Mas esse de vez em quando se tornou um hábito."
Maazel estreou no Met em novembro de 1962, aos 32 anos, regendo "Don Giovanni" de Mozart. Era um ex-menino prodígio que regera a Filarmônica de Nova York aos 12 anos. O crítico Harold Schonberg, do "New York Times", elogiou sua "liderança forte e enérgica" e achou sua abordagem lógica, equilibrada, não-sentimental, com uma "plena compreensão do clima da ópera".

Maleabilidade
Hoje, aos 77 anos, Maazel diz que não cabe a ele especular como mudou enquanto regente. "Mas também envelhecemos de maneiras construtivas", diz. Pelo menos um membro da atual orquestra do Met, o violinista Sandor Balint, 79, tocou para Maazel em sua estréia no Met. Os músicos temiam que aquele jovem gênio fosse arrogante. "Na verdade ele era bastante tranqüilo e muito eficiente. Não se apoiava nas pessoas, era fácil trabalhar com ele." Depois dos ensaios recentes, Balint disse que pouco mudou.
Apesar da proximidade das duas casas, poucos diretores musicais da Filarmônica atravessaram a Plaza nos últimos anos. Dimitri Mitropoulos foi um convidado freqüente do Met nos anos 1950; Bernstein conduziu "Falstaff" enquanto esteve na Filarmônica; Pierre Boulez, Zubin Mehta e Kurt Masur nada fizeram.

Desafio
Enquanto ensaiava no Met, Maazel continuou na Filarmônica. Maazel diz que não poderia ter aceitado o convite do Met se os programas da Filarmônica fossem mais pesados. Mas os ensaios têm sido duros. Num dia, Maazel regeu a Filarmônica em um ensaio aberto das 10h às 12h15. Às 13h estava no palco do Met. Falou pouco e avançou rapidamente para os pontos problemáticos, muitos deles sugeridos por um regente assistente do Met. Às 15h25 o ensaio terminou. Maazel encontrou os cantores e o staff e foi para casa descansar antes de uma apresentação da Filarmônica, às 19h30.
"Estou começando a gostar do desafio", disse, com o sorriso de alguém que certa vez conduziu as nove sinfonias de Beethoven em um único dia.


Lorin Maazel rege "As Valquírias" no Met em 14/1, 28/1, 2/2 e 6/2. Mais informações em www.metopera.org.
A íntegra deste texto foi publicada no "New York Times".
Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves.


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