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LIVROS
Essência do classicismo
MAURICIO PULS
da Redação
Coordenado por Jacó Guinsburg, "O Classicismo" reúne um
abrangente painel de ensaios sobre o estilo que marcou a arte ocidental do século 15 ao século 18.
Segundo João Alexandre Barbosa, o classicismo resulta de uma
imbricação entre poética e poesia.
O artista faz uma releitura da arte
precedente, da qual retira os padrões para sua práxis artística. A
partir de então, o poeta está "condenado a ver sempre seu trabalho
individual à sombra da tradição".
Essa releitura possui dois sentidos: de um lado, valoriza a arte da
Antiguidade pagã (Grécia e Roma); de outro, desvaloriza a arte
cristã medieval. A metalinguagem
clássica tem, portanto, um objetivo preciso: enaltecer a ordem burguesa em formação e criticar a ordem feudal em decomposição.
De fato, o classicismo expressa a
ascensão da burguesia no interior
da sociedade feudal, como mostra
um belo ensaio de Giselle Beiguelman. É uma arte apolínea e objetiva, cujos elementos são o equilíbrio, a harmonia, a serenidade e a
clareza. "É o domínio do diurno.
Avesso ao elemento noturno, o
classicismo quer ser transparente
e claro, racional", esclarecem J.
Guinsburg e Anatol Rosenfeld.
O clássico se propaga numa série
de ondas por artes diversas. O que
unifica essa pluralidade estética é,
como diz Seincman, o objetivo de
exprimir o máximo de significado
em um mínimo de significante.
O estilo emerge na arquitetura,
no século 15. Fernanda Fernandes
analisa cuidadosamente sua gênese, com Brunelleschi e Alberti, e
seu apogeu, com Bramante, Rafael, Michelangelo e Palladio, o
qual define a beleza a partir da
harmonia do todo e das partes,
"de modo que os edifícios pareçam um inteiro e acabado corpo".
Não por acaso, o Renascimento
converte o corpo humano na medida de todas as coisas, como assinala Annateresa Fabris. Nas artes
plásticas, o classicismo começa
com Donatello, Masaccio e Mantegna, atinge sua expressão máxima no século 16, com Leonardo,
Rafael e Michelangelo, e continua
com Guido Reni, Poussin e David.
Em oposição à arte da "Idade das
Trevas", ele visa refletir o homem
e a natureza, "fazendo da imitação o objetivo supremo da arte".
Fabris mostra que essa imitação
não busca reproduzir a aparência
(o que é), mas a essência (o que
deve ser). A beleza clássica é fruto
de uma construção em que o artista seleciona, na realidade, só os
elementos que se ajustam aos critérios de harmonia e equilíbrio.
No teatro, essa imitação da essência se expandiu no século 17,
com Corneille, Moliére e Racine.
"A verossimilhança é a regra
maior do classicismo", explica
João Roberto Faria. O objeto da
poesia não é o verdadeiro, mas o
verossímil: "Veja-se o quanto Racine modificou certos dados colhidos na história para tornar suas
tragédias mais eficazes".
Para realçar o essencial, é preciso eliminar o acessório. Na literatura, o movimento tenta depurar
do discurso tudo aquilo que parecia supérfluo, do vocabulário precioso aos excessos dramáticos do
barroco, observa Aguinaldo José
Gonçalves. A partir da França, o
estilo influencia escritores ingleses
(Pope), alemães (Goethe e Schiller) e brasileiros (Gonzaga, Claudio Manuel, Basílio da Gama).
O classicismo musical, que surge
no século 18, é o tema dos bons
estudos de Eduardo Seincman e
Lauro Machado Coelho. Seincman
indica que, com Haydn e Mozart,
a música adquire mais clareza e
simplicidade. Esse despojamento
melódico e harmônico dá ao ouvinte "a possibilidade de refletir e
reconstruir, no tempo mesmo da
execução musical, aquilo que já
fora anteriormente veiculado".
Com isso, a melodia sofre uma
revolução: desenvolve-se a elaboração temática, mediante a qual
um tema é reelaborado até converter-se em outro tema. Essa
"auto-análise" confere maior
densidade significativa à linguagem musical, que ganha independência em relação ao texto.
A coletânea encerra ainda um
ensaio admirável de Franklin Leopoldo e Silva sobre filosofia clássica e artigos de Silvana Garcia, Vera
Lúcia Felício, Ana Claudia de Oliveira e Kathia Castilho Cunha.
A OBRA
O Classicismo - Organização
de Jacó Guinsburg. Ed. Perspectiva (av. Brigadeiro Luís Antônio,
3.025, CEP 01401-000, SP, tel.
011/885-8388). 389 págs. R$ 49,00.
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