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PONTO DE FUGA
O pintor e a guerra
JORGE COLI
em Nova York
Exposição Picasso, de 1937 a
1945, na grande espiral do museu Guggenheim, em Nova
York. O início do percurso já
pulsa com obras altamente
dramáticas. "Guernica" não
está lá: o quadro, durante muito tempo exilado, hoje não sai
mais da Espanha. A arte de Picasso, que, até então, fora indiferente às questões políticas, dá
uma guinada com o bombardeio de Guernica pelos nazistas. Depois dessa obra maior,
os comentários diretos sobre a
guerra quase desaparecem de
seus quadros. Mas o conflito
determina uma nova expressividade e uma nova angústia
nos retratos, naturezas-mortas, nus. À medida que se sobe
pela rampa contínua do museu, os quadros sucedem-se,
tensos, atormentados. As cores
sombrias ou esmaltadas alternam-se, tornando-se evidente
a lembrança de Van Gogh nas
estruturas implacáveis, subvertidas por tensões dolorosas.
No final da guerra, porém, a
efervescência criadora parece
esfriar. As obras, sempre de
grande qualidade, vibram menos. Depois de sua adesão ao
Partido Comunista, em 1944,
Picasso seria, às vezes, aplicadamente militante. Desses,
"Le Charnier" é o quadro melhor, mas uma linearidade elegante tende a substituir-se ao
horror do tema. O "Monumento aos Espanhóis Mortos"
é quase uma caricatura. Picasso renasceria das cinzas da
guerra -e das suas próprias-
ao encontrar a luminosidade
feliz de seu período mediterrâneo.
BARRO - Basta atravessar a
Quinta Avenida para descobrir
esse Picasso luminoso. O Metropolitan Museum apresenta
uma admirável escolha de suas
obras em argila, e o contraste
com a sombria mostra do Guggenheim impressiona. São pequenas esculturas ou grandes
vasos, é uma ciranda, graciosa
e viva, de faunos, centauros,
músicos, tânagras, pássaros.
Nada mais eufórico. Logo depois da guerra, Picasso instala-se na Costa Azul e põe-se a
trabalhar com oleiros de Vallauris, uma pequena aldeia de
antiga tradição em cerâmica.
Essa prática suscitaria nele os
personagens saídos da mitologia e dos vasos gregos. É o momento mais sinceramente prazeroso de toda sua obra, hedonístico, anacreôntico. Um clima de felicidade plena que vai,
essencialmente, até 1962. Depois, na velhice dos seus 80
anos, ele abandona a manipulação da argila. Tornar-se-ia
mais e mais obcecado por uma
sexualidade violenta e suas telas adquiririam uma brutalidade radical de signos e de feitura. A mão infalível do Picasso-oleiro, porém, soube, antes
disso, ressuscitar os antigos e
amáveis gênios do Mediterrâneo.
EMULSÃO - Os museus "de
arte", de escultura e pintura,
vêm investindo na fotografia.
Guggenheim expõe pela primeira vez sua coleção, iniciada
em 1993. As obras mais recentes sugerem uma concorrência
com as grandes telas figurativas. São formatos enormes.
Mostram tal precisão e acabamento que, às vezes, é preciso
confirmar de perto não se tratar de óleo ou guache. É como
se a fotografia quisesse negar
suas características mais imediatas para enfrentar as salas
dos museus.
GAY - Mapplethorpe dispunha, com cuidado, seus modelos, as luzes e os acessórios. Eram fotos de estúdio, "artísticas", buscando a perenidade da escultura, viés de diálogo entre a grande obra e o erotismo. O Guggenheim alterna suas imagens com as de Platt Lynes, um evidente precursor. De ambos, sem fronteira, passa-se aos "beefcakes" de Lon of New York, fotógrafo de revistas "atléticas" dos anos 50. Com 87 anos, Lon tem importante retrospectiva no Village (galeria Wessel+O'Connel). São rapagões musculosos e reluzentes apoiando-se em colunas gregas.
Jorge Coli é historiador da arte.
E-mail: M
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