São Paulo, domingo, 14 de maio de 2000


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+ 3 questões Sobre beleza

1. Está havendo uma mudança no conceito do belo?
2. Quem dita hoje o padrão?
3. Como isso influencia os adolescentes?


Costanza Pascolato responde

1.
Desde os anos 80 já entendemos que as influências, inspirações e padrões do belo estavam se estilhaçando. Isso aconteceu em parte por causa da globalização, da mistura de raças mais afirmada -não só no Brasil, mas no mundo inteiro. Isso produziu, nas gerações mais recentes, tipos físicos mais fortes, mais saudáveis, mais bonitos mesmo. Já não é mais tão fácil identificar de onde essas mulheres, loiras ou morenas, vêm.
Um dos detalhas mais marcantes na beleza de hoje é a boca. As bocas cresceram, estão mais cheias (o que eu chamava de "beiçolas"). Outra coisa é que as pessoas já nascem com o gestual do jeans, mais soltas e informais. Não existe mais um padrão de beleza clássico.

2.
O padrão de beleza é ditado principalmente por artistas em geral, da TV ou do cinema, e, agora, por estas supermodelos "stile brasiliano" -que são uma coisa assombrosa, frutos de uma coincidência ótima. Veja o caso de uma mulher belíssima como a Gisele Bündchen, uma mistura de Ava Gardner com não sei mais o quê, talvez a mulher mais bela do país nos últimos 50 anos. Ela tem um rosto que não é moderno, é de corte mais clássico.
Também as revistas de moda estavam precisando mudar o perfil "heroine chic", das mulheres magérrimas, de aparência esquálida, largadonas, sempre com cara de drogadas -um tipo que predominou até o final dos anos 90. Essa volta para o saudável é a Gisele. Alongada, elegante, mas com uns "peitões" e uma vitalidade impressionante, além do charme sensual de uma naturalidade tipicamente brasileira. Tudo isso sem abrir mão do estilo casual, hoje consolidado.

3.
O padrão de beleza das modelos, seja ele magro ou saudável, é sempre algo difícil para as adolescentes, porque as modelos são realmente tipos excepcionais, com 15 cm de altura acima da média, cinturas finíssimas etc. Enfim, é sempre problemático para as meninas o confronto com esses padrões.

Oswaldo Pigossi Jr. responde

1.
Beleza é um conceito predominantemente subjetivo. Tentar definir padrões de beleza é uma tarefa no mínimo difícil. Segundo nosso mestre, o prof. Ivo Pitanguy, belo é o que tem harmonia em suas formas, o que não choca a visão, que não destoa no seu conjunto - um conceito muito mutável, variando conforme a época. Assim sendo, há cerca de dois séculos, até o início deste, as mulheres mais "gordinhas" eram o tipo de beleza padrão; nos anos 60, ser magérrima era o preferido; hoje nos deparamos com formas mais voluptuosas e sensuais, daí o aumento da procura pela cirurgia de aumento das mamas, o grande número de pessoas frequentando academias de ginástica, buscando "tornear" o corpo etc.

2.
Infelizmente, hoje o padrão de beleza é estabelecido pelas artistas da televisão, mas sem nenhum bom senso. Assim, apesar de o resultado estético da "Feiticeira", pelos padrões médicos, não ser o ideal, é exatamente esse que a maioria das mulheres cita como exemplo e também busca como seu próprio padrão, sem lembrar que cada um tem sua própria característica de distribuição de tecidos e volumes pelo corpo. Desse modo, uma prótese mamária de cerca de 250 ml em uma pessoa com 1,50 m nem sempre pode dar um resultado bonito; mas a fulana da televisão, que foi ao programa do Gugu, tem, e então é essa que ela vai querer. Ainda por cima, temos uma crescente comercialização da atividade médica ligada à área de estética, que facilita muito a ocorrência desses problemas.

3.
A adolescência é uma fase da vida em que estamos construindo nossa personalidade, por isso somos muito sujeitos a todo tipo de influência. É preciso lembrar que, hoje, a informação fornecida direta ou indiretamente a um adolescente é enorme, principalmente na área estética, no anseio de nos tornarmos mais desejados, principalmente as meninas. Assim, porque a Sabrina fez uma lipo ou qualquer outra coisa, então ela também vai querer -e assim por diante, na grande onda dos modismos. Cabe ao profissional tentar esclarecer o que é possível e o que vai produzir bons resultados, quais serão satisfatórios ao longo da vida dessas pacientes.

Costanza Pascolato
É consultora de moda, autora do livro "O Essencial - O Que Você Precisa Saber para Viver com Mais Estilo" (Ed. Objetiva).

Oswaldo Pigossi Jr.
É cirurgião plástico, formado pela Faculdade de Medicina da USP, e membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.



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