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Geografia do medo
De Londres ao Cairo, de Pequim a São Paulo, pesquisa indica que está surgindo uma nova ansiedade global
FRANK FUREDI
Vivemos em uma era
de medo? Estará o
medo, mais que a
esperança, moldando a imaginação
cultural do início do século 21?
Esta nova era já ofereceu ao
mundo uma série de convites
apocalípticos ao pânico, começando pelo bug do milênio. Em
2005, a gripe aviária foi comparada a "uma combinação de
aquecimento global com HIV/
Aids" por autoridades de saúde
da ONU, prevendo uma pandemia que poderia matar até 150
milhões de pessoas.
Essa constante promoção de
advertências dramáticas sobre
a sobrevivência humana sugere
que o mercado do medo está
próspero.
Em 2008, cidadãos de dez
grandes cidades do mundo foram pesquisados pelo Fórum
Social Mundial (FSM) para ver
como Londres, Paris, Roma,
Moscou, Nova York, Mumbai,
Pequim, Tóquio, São Paulo e
Cairo vivenciam o medo e a insegurança. O relatório final,
chamado "Medo nas Megacidades", revela muito sobre a situação da ansiedade global.
Enquanto a experiência da
preocupação é universal, o relatório mostra como em alguns
centros urbanos, como São
Paulo e Cairo, a incerteza muitas vezes se transmuta em puro
medo. Das cidades ocidentais,
Roma veio a ser a menos otimista -e Londres, curiosamente, a mais.
Problemas locais
Dos grandes centros asiáticos, Pequim não apenas teve
nota alta em confiança como
também foi a única cidade cujos moradores disseram que
seus temores tinham de fato diminuído nos últimos anos: o dinamismo econômico parece ter
tido um impacto significativo
em sua visão.
De modo geral, não são as
ameaças globais que as pessoas
mais temem. Em todo o mundo, as ansiedades se concentram em problemas locais e individuais que afetam diretamente a vida cotidiana -a morte, a perda de um ente querido e
o sofrimento físico e mental encabeçam a lista.
A ansiedade sobre a ameaça
de terrorismo, por exemplo, era
mais pronunciada em Nova
York; mas mesmo lá um número maior de pessoas tinha medo
de não conseguir manter seu
padrão de vida.
Mesmo antes da recente fusão do sistema bancário, as
preocupações com o desemprego e a segurança econômica
afetavam uma porcentagem
significativa dos entrevistados,
assim como a apreensão sobre
tornar-se vítima de violência e
comportamento antissocial.
De modo geral, os que responderam à pesquisa se preocupavam mais com perder suas
casas ou empregos ou ser vítimas de crime do que com um
ataque terrorista.
Cidadãos do Cairo e de São
Paulo podem sentir o medo de
maneira diferente dos de Paris
e Londres, mas em todos esses
lugares são os medos individualizados que predominam.
Cada época, seu medo
Os temores do século 21 formam um contraste acentuado
com os de séculos anteriores.
Em toda a história, as comunidades tendem a experimentar seus medos em comum. No
século 20, as pessoas que viveram no entreguerras temiam o
desemprego e o envelhecimento. Na década de 1950, foi o medo da guerra nuclear que exercitou a imaginação pública.
No período da pesquisa do
relatório, o termo "esmagamento do crédito" havia acabado de entrar na consciência pública, mas os enormes tumultos
que arrasaram o sistema bancário em setembro ainda estavam por vir. A crise financeira
global hoje apresenta uma
ameaça que ecoa diretamente
as incertezas sociais e econômicas preexistentes.
Em reação à crise, está surgindo uma linguagem global do
medo: esta é uma ameaça que
captou a imaginação do público
da Rússia à China, passando pela Austrália e a Europa Ocidental. A reação é evidente mesmo
nas sociedades asiáticas, cujas
economias estão relativamente
sólidas.
A fusão econômica global será experimentada não apenas
como uma ameaça ao indivíduo, mas como um desastre
que afeta toda a comunidade
global. As percepções vão variar de cultura para cultura.
FRANK FUREDI é professor de sociologia na
Universidade de Kent (Reino Unido).
A íntegra deste texto saiu na "New Statesman".
Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves .
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