São Paulo, domingo, 15 de julho de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Retrato de um senhor

(para Eucanaã Feraz)

por Waly Salomão

Lord Mímesis não tem o menor faro Para o que quer que seja poesia. Ele ignora e despacha a Senhora das Feras, a Dona dos júbilos e dos animais, Embora ela invoque: "Possuo as montanhas e os vales E as vilas e as cidades e tudo mais que há". Mister Mímesis dá tiros a esmo Confunde alhos com torresmos. Para ele, o mar não é uma máscara E os ventos só rugem não-palavras sem sentido. Sir Mímesis nunca botou seus ouvidos no chão. Na cova carpetada do seu gabinete Intenta abafar a cacofonia da cidade grande Já que ele não tem tato, já que ele não tem filtro: Mister Mímesis administra seu cachimbo aceso. Posa para o olhar gelado da eternidade. Leciona a prosa do mundo Escapa-lhe a quinta-essência. Lord Mímesis não atina com a razão do poema.


Waly Salomão é poeta, autor de "O Mel do Melhor" (Rocco).



Texto Anterior: A razão da acústica
Próximo Texto: + brasil 502 d.C.: Violência e sociedade fundadora
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.