São Paulo, domingo, 15 de novembro de 2009

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+ crítica

ESPECIAL PARA A FOLHA

If on a Winter's Night..." é um daqueles discos que exigem da gente um espaço, um momento, uma pausa para poder desfrutar integralmente.
São 15 canções que nos transportam para a atmosfera gelada dos invernos do norte da Inglaterra, com todo aquele mistério sombrio, fantasmático, caloroso, religioso e mágico.
Ao ouvi-lo, dá pra imaginar uma reunião de músicos encapuzados ao redor de uma lareira, xícaras de chá fervendo, o vento soprando forte, fazendo as portas baterem, a sonoridade dos instrumentos formando uma textura hipnótica, às vezes, inesperada, ancestral e, ao mesmo tempo, moderna.
Com essa sonoridade, emergem os sons da harpa celta, de cordas de aço, executada pela escocesa Mary MacMaster, o violino (fiddle) e a gaita nortúmbria (algo parecido com a gaita de fole) de Kathryn Tickell, Julian Sutton e seu melodeon, uma espécie de sanfona, Dominic Miller nos violões e no alaúde, Vincent Ségal no violoncelo.
Esse é o chassi musical do disco, mas há faixas com inúmeras participações, como as de Jack DeJohnette na bateria, Ibrahim Maalouf no trompete, Cyro Baptista na percussão e outros tantos mais.
"Gabriel's Message", uma balada tradicional, abre o CD com uma linha de contrabaixo, uma levada de percussão e uma melodia de trompete que dão ao arranjo um ar estranhamente contemporâneo.
Os vocais de Sting são muito bonitos, e o som do violão é lindo de doer. "Soul Cake" é uma cantiga que os garotos entoavam para pedir moedas e "soul cake" [bolo das almas] no Halloween. Tem uma tensão, uma balbúrdia e uma urgência que se intensificam quando brota o contraponto da melodia de "God Rest Ye Merry Gentleman", uma espécie de hit elisabetano, fazendo da canção um mosaico de sons invernais.
Há de destacar também "Cold Song", de Henry Purcell e John Dryden, e "You Only Cross my Mind in Winter", uma sarabanda da "Sexta Suíte" para violoncelo de Bach, com letra de Sting -dois momentos do disco verdadeiramente sublimes. E também uma balada de Schubert com tradução livre de Sting para o inglês e de profunda delicadeza, "Hurdy-Gurdy Man".
É um trabalho riquíssimo nos timbres soturnos, nos vocais elaborados, nas belas melodias, nas estranhas harmonias, nos arranjos criativos e informais.
Um trabalho instigante em que podemos misturar sensações ancestrais com modernas, o frio sempre acompanhando as sombras e a introspecção, as canções formando uma conexão extensa com uma herança milenar onde Sting se une aos trovadores, poetas, músicos e canções centenárias.
Ele se afirma definitivamente como legítimo herdeiro de todo esse legado, mostrando as origens e a sequência desse manancial de lindas baladas, cantigas e melodias que povoam o cancioneiro inglês. (LOBÃO)


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