|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
+ crítica
ESPECIAL PARA A FOLHA
If on a Winter's
Night..." é um daqueles discos que exigem
da gente um espaço,
um momento, uma
pausa para poder desfrutar
integralmente.
São 15 canções que nos
transportam para a atmosfera gelada dos invernos do
norte da Inglaterra, com todo aquele mistério sombrio,
fantasmático, caloroso, religioso e mágico.
Ao ouvi-lo, dá pra imaginar uma reunião de músicos encapuzados ao redor
de uma lareira, xícaras de
chá fervendo, o vento soprando forte, fazendo as
portas baterem, a sonoridade dos instrumentos formando uma textura hipnótica, às vezes, inesperada,
ancestral e, ao mesmo tempo, moderna.
Com essa sonoridade,
emergem os sons da harpa
celta, de cordas de aço, executada pela escocesa Mary
MacMaster, o violino (fiddle) e a gaita nortúmbria
(algo parecido com a gaita
de fole) de Kathryn Tickell,
Julian Sutton e seu melodeon, uma espécie de sanfona, Dominic Miller nos violões e no alaúde, Vincent
Ségal no violoncelo.
Esse é o chassi musical do
disco, mas há faixas com
inúmeras participações, como as de Jack DeJohnette
na bateria, Ibrahim Maalouf no trompete, Cyro
Baptista na percussão e outros tantos mais.
"Gabriel's Message", uma
balada tradicional, abre o
CD com uma linha de contrabaixo, uma levada de
percussão e uma melodia
de trompete que dão ao arranjo um ar estranhamente
contemporâneo.
Os vocais de Sting são
muito bonitos, e o som do
violão é lindo de doer. "Soul
Cake" é uma cantiga que os
garotos entoavam para pedir moedas e "soul cake"
[bolo das almas] no Halloween. Tem uma tensão,
uma balbúrdia e uma urgência que se intensificam
quando brota o contraponto da melodia de "God Rest
Ye Merry Gentleman", uma
espécie de hit elisabetano,
fazendo da canção um mosaico de sons invernais.
Há de destacar também
"Cold Song", de Henry Purcell e John Dryden, e "You
Only Cross my Mind in
Winter", uma sarabanda da
"Sexta Suíte" para violoncelo de Bach, com letra de
Sting -dois momentos do
disco verdadeiramente sublimes. E também uma balada de Schubert com tradução livre de Sting para o
inglês e de profunda delicadeza, "Hurdy-Gurdy Man".
É um trabalho riquíssimo
nos timbres soturnos, nos
vocais elaborados, nas belas
melodias, nas estranhas
harmonias, nos arranjos
criativos e informais.
Um trabalho instigante
em que podemos misturar
sensações ancestrais com
modernas, o frio sempre
acompanhando as sombras
e a introspecção, as canções
formando uma conexão extensa com uma herança milenar onde Sting se une aos
trovadores, poetas, músicos
e canções centenárias.
Ele se afirma definitivamente como legítimo herdeiro de todo esse legado,
mostrando as origens e a
sequência desse manancial
de lindas baladas, cantigas e
melodias que povoam o
cancioneiro inglês.
(LOBÃO)
Texto Anterior: Show de Sting em SP será no dia 22 Próximo Texto: Os Dez + Índice
|