São Paulo, Domingo, 16 de Janeiro de 2000


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+ 3 questões Sobre mercado editorial

1. Por que o livro brasileiro é tão caro?
2. Que gênero de livro não vende no país?
3. Como avalia o mercado editorial na década de 90?

Luciana Villas-Boas responde
1.
Matéria-prima cara + tiragens pequenas, e estamos diante de uma equação insolúvel para o editor interessado em publicar um livro de preço compatível com os baixos salários brasileiros. A tiragem média das edições no Brasil -de 3.000 exemplares- é comparável ao que se tem na Noruega ou em Portugal. Apesar de nossa população ser 20 vezes maior, a indústria editorial brasileira não consegue ganhar em escala devido à proverbial distribuição injusta da renda e, sobretudo, à lamentável rede de ensino público, incapaz de formar uma sociedade minimamente letrada. Nos EUA, editora que se preze tem anualmente dois ou três lançamentos que chegam a 1 milhão de exemplares vendidos, capitalizando a empresa e sustentando os livros menos comerciais. Aqui, quando um livro alcança 250 mil é motivo de muita festa. Os editores então publicam cada vez mais títulos em tiragens menores, numa disputa autofágica pelo leitor da elite, que já adquire seis exemplares por mês e de quem se espera que passe a comprar o sétimo, o oitavo livro.

2.
Fala-se muito da resistência do público à poesia e ao conto, mas minha experiência é de que todo livro de estréia na área da ficção é difícil de apresentar ao mercado. O livreiro é excessivamente pautado pela imprensa, e a imprensa raramente abre espaço para um romancista novo se não houver um gancho extraliterário. Dos desafios que enfrentamos, esse é o mais preocupante, porque aponta para a baixíssima renovação dos quadros da ficção brasileira. De resto, há muito mito. Diz-se que ficção científica não vende, mas também se falava a mesma coisa de policiais, e a Coleção Negra, da Record, é muito bem-sucedida.

3.
A redução das tiragens acompanhada de uma maior oferta de títulos é característica marcante do mercado editorial na última década, não só no Brasil, mas também em outros países, como a Espanha. No mais, mudou tudo. Mudou a indústria, que se profissionalizou imensamente, adotou novas tecnologias e está cada vez mais competitiva. Mudou o público, muito mais exigente com relação à qualidade gráfica e editorial do livro, além de ter desenvolvido novos gostos, como a não-ficção sobre temas brasileiros. Mudou o marketing do livro, mais agressivo e entregue a profissionais. E mudou o próprio livro, um objeto muito mais cuidado, bonito e atraente do que aquele fabricado aqui há dez anos.

Roberto Feith responde
1.
Caro comparado a quê? Se comparado ao livro na Europa, nos EUA ou na vizinha Argentina, o livro no Brasil, por incrível que pareça, é barato. Um lançamento com 300 págs. está custando em média o equivalente a US$ 16. Um lançamento similar nos EUA, na Europa ou na Argentina custa no mínimo US$ 30. Vejamos um exemplo concreto, "O Monte Cinco", de Paulo Coelho. O livro custa aqui o equivalente a US$ 8; na Espanha e na Itália, US$ 14; na Argentina, US$ 17; na Inglaterra, US$ 21. Então o livro no Brasil está barato? Mais uma vez, barato comparado a quê? Se comparado ao poder aquisitivo do brasileiro, claro que está caro. Aí está o cerne da questão: a maioria dos brasileiros simplesmente não ganha o suficiente para consumir livros.
Aumentar o poder aquisitivo dos brasileiros é um desafio que levará anos para ser superado. Enquanto isso, é possível reduzir o preço do livro aumentando a tiragem média por título, difundindo o hábito da leitura e expandindo os canais de comercialização.

2.
Não me ocorre nenhum tipo de livro que não venda. Há gêneros mais vendidos em certos países, como a ficção científica, muito popular nos EUA, mas pouco procurada no Brasil.

3.
A década de 90 foi caracterizada pelo crescimento tanto no número de títulos lançados como no de exemplares vendidos por ano. Em 1990 foram lançados 22.637 títulos. Em 1998, 49.746. Em 90 as vendas foram de 239 milhões de exemplares. Em 98, 369 milhões. O número de título, entretanto, cresceu mais rapidamente do que o de exemplares. Isso é reflexo da segunda tendência da década, a maior competição entre as editoras, que resultou não apenas na maior oferta de títulos, mas também na melhora da qualidade das capas, no acabamento gráfico, no grau de criatividade e sofisticação da atividade editorial e, talvez mais importante, na valorização do autor brasileiro. No final dos anos 90, brasileiros dominaram as listas de mais vendidos. Neste início de década, o grande desafio para os editores é satisfazer a demanda por obras de autores brasileiros de melhor qualidade.



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