São Paulo, domingo, 16 de julho de 2006

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Os novos mercenários

Estudo publicado na França analisa o boom da segurança privada no mundo atual

SYLVIE KAUFFMANN

É a outra profissão mais antiga do mundo: mercenário. O século 20 ofereceu alguns espécimes folclóricos -aventureiros individuais, conspiradores sem escrúpulos ou executores de atos vis.
O fim da Guerra Fria, a proliferação dos conflitos de baixa intensidade, os cortes imperativos nos orçamentos de Defesa nas democracias e a globalização transformaram esse pequeno comércio em uma indústria, que floresce à sombra das grandes potências e de seus exércitos regulares.
A segurança privada é hoje um setor importante da atividade econômica internacional, garantido por empresas sólidas e rentáveis, que vemos em operação, por exemplo, ao lado das tropas americanas e britânicas mobilizadas no Iraque.
Ex-oficial de polícia e pára-quedista convertido ao estudo e exercício do direito, Jean-Marie Vignolles mergulhou nas origens e nas diversas facetas desse fenômeno apaixonante. Seu livro, "De Carthage à Bagdad - Le Nouvel Âge d'Or des Mercenaires" [De Cartago a Bagdá - A Nova Idade de Ouro dos Mercenários, Riaux, 299 págs., 15, R$ 42], o aborda de maneira muito instrutiva, desde a evolução histórica às questões jurídicas, éticas e até técnicas que a privatização da segurança coloca hoje.
Os EUA, sobretudo depois do 11 de Setembro, e a Inglaterra estão evidentemente na ponta da indústria de segurança privada, mas empresas russas, israelenses, italianas e francesas também surgiram no mercado.
Esse novo tipo de servidor contratado não cumpre somente tarefas de apoio civil e logístico; também efetua missões de vigilância, de proteção armada e de formação militar, e assim, como vimos no Iraque, onde os militares privados chegam a 30 mil, pode se ver envolvido em combates.
Para Vignolles, as empresas militares privadas americanas não oferecem apenas a vantagem de permitir que os EUA aliviem o orçamento de Defesa como constituem um meio de remediar as dificuldades de recrutamento e de contornar as reticências do Congresso a autorizar intervenções externas, mantendo o controle político das operações.

Regulamentação precária
Constatando as lacunas do direito internacional na matéria, a ONU se debruça há vários anos sobre a questão, sem até hoje ter conseguido superar suas diferenças e o pouco interesse manifestado pelos grandes países em regulamentar de perto essa indústria.
E na França? Tradicionalmente ativos fora de suas fronteiras, os franceses só podem ser atraídos por esse setor em plena expansão, mas "por enquanto só avançam a pequenos passos no sentido da privatização da segurança, campo considerado da alçada exclusiva do Estado", comenta o autor.


Este texto foi publicado no "Le Monde".
Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves.

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