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Pesquisador traça perfil do êxodo
PARANAENSES LIDERAM DEBANDADA DE BRASILEIROS PARA A ESPANHA, QUE TÊM BOM NÍVEL ESCOLAR; 11 DE SETEMBRO ALTEROU ROTA DE EMIGRAÇÃO
DO ENVIADO A DUEÑAS
O imigrante brasileiro na Espanha tem
em média menos
de 40 anos, segundo grau completo
e ganha 1.000 por mês; os homens trabalham no setor de
construção, e as mulheres, em
serviços domésticos.
O perfil é resultado de um
ano de pesquisa de campo realizada pelo geógrafo Duval Fernandes, da PUC-MG, em Belo
Horizonte, que deve ser publicada em maio.
Durante quatro meses, Fernandes madrugou na fila do
consulado brasileiro em Madri,
percorreu bares, cabeleireiros,
lojas e igrejas em busca de depoimentos que o ajudassem a
montar o perfil do imigrante
brasileiro na Espanha. Entrevistou 404 pessoas, entre legais
e ilegais, e chegou a resultados
que desmentiram algumas noções preconcebidas.
A formação foi uma delas.
"Ao contrário do que se pensa,
o nível de escolaridade dos imigrantes brasileiros na Espanha
é bom, a maioria tem segundo
grau e muitos tem formação
universitária", diz Fernandes.
O geógrafo mineiro também
percebeu que seu Estado, conhecido como exportador de
mão-de-obra para os EUA, não
é o que lidera a imigração brasileira na Espanha.
Máfia
"A maioria é do Paraná, mais
especificamente da cidade de
Maringá, de onde são cerca de
25% dos entrevistados", diz o
pesquisador. "Depois vem São
Paulo, e só em terceiro lugar está Minas. A surpresa foi constatar um grande número de pessoas de Rondônia, que não tem
tradição de emigração."
A pesquisa comprovou a mudança da rota migratória a partir dos atentados do 11 de Setembro, quando aumentaram
os problemas para entrar nos
Estados Unidos. O acesso ficou
ainda mais difícil quando o México passou a exigir visto de entrada dos brasileiros.
"A indústria que existia para
levar brasileiros para os EUA,
que é uma máfia, voltou-se para a Europa", diz Fernandes.
"Entrevistei um rapaz que
decidiu ir para a Inglaterra depois de ser expulso duas vezes
ao tentar entrar nos EUA pelo
México. Os ingleses o devolveram a Madri, que havia sido sua
última escala, e ele resolveu ficar na Espanha."
A ambição do insistente imigrante é comum. "O grande sonho é Londres, onde todos
acreditam ser possível trabalhar e ganhar mais", conta o
geógrafo. Segundo ele, ao lado
de Espanha, Portugal e Reino
Unido são os países europeus
com o maior número de brasileiros, cerca de 100 mil cada.
Depois de recorrer a uma
máfia para chegar à Espanha, o
imigrante precisa de outra para
ficar. A indústria da falsificação
de identidades funciona a todo
vapor, com os preços variando
de acordo com o nível de sofisticação. "Uma carteira falsa geralmente custa entre 170 e
200", diz Fernandes.
O volume de dinheiro enviado pelos imigrantes ao Brasil é
significativo. Em média, as remessas de cada trabalhador ficam entre 300 e 400 por
mês. Há situações excepcionais
em que essa quantia pode se
multiplicar até por dez. É o caso das prostitutas brasileiras.
Segundo o governo espanhol,
há no país cerca de 5.000 brasileiras exercendo a mais antiga
das profissões.
Prostituição rende mais
"Uma hora com uma prostituta custa em média 120. Metade fica com elas. Ouvi histórias de meninas que enviavam
até 1.000 por dia para o Brasil", conta Fernandes. Recentemente, porém, as autoridades
espanholas limitaram em
3.000 o limite mensal de remessas permitido.
Tamanha prosperidade na
Espanha cria problemas no
Brasil.
"Algumas famílias se tornam
dependentes desse dinheiro,
pais e irmãos param de trabalhar e se cria um círculo vicioso. O resultado é que muitas
meninas não podem largar a
prostituição simplesmente
porque sustentam a família inteira", diz.
A maioria dos entrevistados
reclamou de discriminação,
mas o geógrafo percebeu que o
problema diminui à medida
que o imigrante vai se integrando à sociedade espanhola.
Um ilegal sofre mais discriminação e ganha menos, o que aumenta a tentação de comprar
um documento falsificado.
"Uma carteira de identidade,
mesmo falsa, muitas vezes evita a exploração. Muitos empregadores aproveitam a ilegalidade dos trabalhadores para pagar menos e até para não pagar.
Quem reclama é ameaçado de
denúncia às autoridades."
Mesmo ganhando em euros e
com boas perspectivas de conquistar o status de residente legal, pois a Espanha permite a
regularização de quem está há
três anos trabalhando no país, a
maioria dos brasileiros não
abandona o sonho de voltar.
"Isso é uma coisa comum entre quase todos. Eles dizem que
estão na Espanha para trabalhar, mas que o lugar para viver
é o Brasil", diz Fernandes.
"Muitos afirmam não querer
voltar, mas se traem quando revelam para onde vai o dinheiro
que conseguem economizar:
para a compra ou construção
de uma casa no Brasil."
(MARCELO NINIO)
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