São Paulo, domingo, 18 de março de 2007

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+ a vida como ele é, por Pier Paolo Pasolini

O corpo subjugado

S aló" foi baseado em "120 Dias de Sodoma", do marquês de Sade, mas se passa durante a República de Saló, ou seja, entre 1944 e 45.
Portanto, há muito sexo, mas o sexo que aparece no filme é o típico sexo de Sade, cujo traço é exclusivamente sadomasoquista, com todas as atrocidades de detalhes e situações.
[...] Em meu filme, todo esse sexo assume um significado específico: é a metáfora daquilo que o poder faz com o corpo humano, é a reificação do corpo humano, sua redução a coisa, que é típica do poder, de qualquer poder.
Se em lugar da palavra "Deus", de Sade, ponho a palavra "poder", vem à tona uma estranha ideologia, extremamente atual [...]. Outro elemento de inspiração do filme é a evocação daqueles dias que vivi, os dias da República de Saló [...].
Eu não estava em Saló, mas no Friuli. O Friuli se tornara uma região alemã, fora burocraticamente anexado à Alemanha. Chamava-se o "Litoral adriático". De 8/ 9/43 até o final da guerra, ali houve um "gauleiter", uma espécie de governador. Isso quer dizer que passei dias terríveis no Friuli.
Mas ali se deu uma das mais aguerridas lutas "partisans" [de resistência à ocupação], e meu irmão morreu nela [...].
Além disso, o Friuli era sempre bombardeado pelos americanos, e por lá passavam aviões que iam bombardear a Alemanha. Capturas, vilarejos desertos, bombardeios quase inúteis, de pura crueldade.


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