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Antislogan dos trópicos
EM PROSA
FÁCIL, OBRA
LIDA COM
PRECONCEITOS
ESTRANGEIROS PARA FAZER
CRÍTICA SUAVE
AO PAÍS
MARCELO COELHO
COLUNISTA DA FOLHA
Não conheço muita
gente que tenha lido "Por Que Me
Ufano do Meu
País", o notório
objeto de sarcasmos escrito
por Affonso Celso (1860-1938)
para comemorar o quarto centenário da descoberta do Brasil, em 1900.
A sorte de "Brasil - Um País
do Futuro", de Stefan Zweig
(1881-1942), não foi muito melhor. No prefácio à edição de
bolso da L&PM, lançada em
2006, o jornalista Alberto Dines ressalta que o livro estava
esgotado desde 1981.
Pudera: o ano coincide com o
início das "décadas perdidas"
para a economia do país.
Encomenda oficial
Do mesmo modo que o livro
de Affonso Celso, conhecido
hoje em dia apenas por seu título, origem do termo pejorativo
"ufanismo", o fato é que "Brasil
- Um País do Futuro" tornou-se
apenas um slogan, ou melhor,
um antislogan, que só em discursos oficiais pode ser citado
sem ironia.
Nosso "pé-atrás" (tipicamente brasileiro?) com relação
a qualquer tipo de oficialismo
se confirma, de resto, pelas circunstâncias que orientaram a
publicação do livro, em plena
ditadura Vargas [1937-45].
Diz o prefácio de Alberto Dines: "Zweig efetivamente fez
um negócio com o governo brasileiro: em troca do livro (que
desde 1936 pretendia escrever), receberia junto com a mulher um visto de residência permanente [no Brasil]. Uma preciosidade num momento em
que o governo trancava as portas aos que fugiam dos horrores
do nazismo".
Mas o fato de atender, em
parte, a uma encomenda oficial
não torna o livro menos sincero
-e, assim que Zweig toma a palavra, numa introdução de dez
páginas, o leitor se vê enredado
pela fácil prosa do autor.
"Antigamente, antes de tornar público um livro, os escritores costumavam fazer um pequeno prólogo em que informavam por que razões, a partir
de que pontos de vista e com
que intuito haviam escrito o
seu livro".
Não deve passar despercebida a astúcia desse parágrafo inicial. Ora essa, pergunta-se o leitor, mas não é exatamente isso
o que Zweig está fazendo? Por
que apresentar como um hábito antiquado (a ser posto de lado, portanto) uma coisa que ele
próprio está a ponto de adotar?
A resposta vem na frase seguinte. "Era um bom hábito", completa Zweig, num rápido giro de
comutador elétrico: a carga negativa se torna positiva. O assentimento toma o lugar da
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