São Paulo, domingo, 19 de outubro de 1997.



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AS ONDAS DO FEMINISMO
AS PIONEIRAS

O movimento feminista começou na Grã-Bretanha, no fim do século 18, com a publicação, em 1792, do livro "A Vindication of the Rights of Woman" (Vindicação dos Direitos da Mulher), de Mary Wollstonecraft. Expressava o descontentamento da mulher relegada ao exercício dos afazeres domésticos.
Os primeiros passos para vencer as barreiras à ascensão social da mulher tomaram impulso na campanha pelo direito do voto feminino, que cresceu no século 19, especialmente na Grã-Bretanha.
A luta das "sufragetes" assegurou o direito de voto às mulheres em 1920 nos Estados Unidos, em 1928 na Inglaterra, e em 1933 no Brasil. Entre 1942 e 1945, o sufrágio feminino foi adotado por 33 países. Mas somente em 1952 a Assembléia Geral da ONU aprovou a Convenção sobre Direitos Políticos da Mulher.
Nomes de destaque entre as sufragetes: Emmeline Goulder Pankhurst (Inglaterra); Lucretia Mott, Lucy Stone e Elizabeth Cady Stanton (EUA); Berta Lutz (Brasil).

PRIMEIRA ONDA

Anos 40-50 - Entre as décadas de 40 e 60 o movimento feminista entrou na fase do despertar da consciência das mulheres para a reivindicação dos mesmos direitos assegurados ao homem na área social e da sexualidade. Surgiram os primeiros estudos importantes sobre a inferiorização da mulher, entre eles "Adam's Rib" (A Costela de Adão, 1948), de Ruth Hershberger -que abria caminho para as teorias sobre o orgasmo clitoriano- e "O Segundo Sexo" (1949), de Simone de Beauvoir.
Uma rápida reação ao progresso feminista na década de 40 veio com a publicação do livro "Modern Woman - The Lost Sex" (Mulher Moderna - O Sexo Perdido), de Lundberg e Farnham, libelo antifeminista de sucesso, que, pela primeira vez, associava feminismo com anormalidade e lesbianismo. Insuflou a volta à domesticidade da década de 50.
Anos 60 - Identificado com o movimento da contracultura, o feminismo encontrou nesta década seu momento de maior expansão e organização.
Nos Estados Unidos ganhou força o "Women's Liberation Movement" (Movimento de Libertação das Mulheres), mundialmente conhecido como "Women's Lib", sob a liderança de Betty Friedan, autora de "The Feminine Mystique" (A Mística Feminina, 1963), e Gloria Steinem, jornalista e apresentadora de TV, autora de "Revolution from Within" (A Revolução Que Vem de Dentro).
As mulheres se insurgiram contra a idéia mitificada de que se satisfaziam com o papel de esposa e mãe. Era a época do feminismo igualitário, que defendia direitos iguais no lar e na profissão, "salário igual para trabalho igual" e libertação sexual, mas sem cisma com o sexo oposto. A principal publicação a tratar do tema da sexualidade foi "O Mito do Orgasmo Vaginal" (1968), de Anne Koedt.

SEGUNDA ONDA

Anos 70 - Foi o período de radicalização do movimento feminista. A afirmação do orgasmo clitoridiano como forma de a mulher (como o homem) experimentar a sexualidade independentemente de sua função reprodutiva, criou uma situação de cisma com o sexo oposto. A tese de Germaine Greer em "A Mulher Eunuco" (1971), era a de que a mulher precisava se libertar do papel passivo na relação sexual, imposto a ela pela castração de sua libido resultante da opressão social. A publicação, em 1976, de "O Relatório Hite", de Shere Hite, primeiro volume de uma trilogia-tratado sobre a condição sexual, emocional e social da mulher, consolidaria as teorias de feministas radicais.
O feminismo radical combatia o machismo, o sexismo que considerava estar na raiz das instituições patriarcais da sociedade e pregava um rompimento com elas. Apontava para tendências extremistas como o lesbianismo político e o feminismo de caráter socialista radical.
Publicações como "Sisterhood Is Powerful" (A Irmandade É Poderosa, 1970), de Robin Morgan, e "Against Our Will - Men, Women and Rape" (Contra Nossa Vontade: Homens, Mulheres e Estupro, 1975), de Susan Brownmiller, afirmando que todos os homens são estupradores porque está na estrutura biológica deles, ajudaram a estigmatizar os anos 70 como período de cisão com o sexo oposto e de identificação do feminismo com o lesbianismo.
Anos 80 - O número de mulheres dispostas a se identificar com a palavra "feminista" (então sinônimo de "lésbica") diminui. Elas rejeitam o feminismo radical que se transformou numa catalogação de atitudes e que se opunha à família e aos homens.
Ao mesmo tempo que o feminismo vira assunto de estudos acadêmicos nas universidades, começa a surgir uma versão suavizada de "feminista", a mulher independente, a "self-made woman" apaziguada com o sexo oposto. Os modelos surgem de astros da mídia, como Madonna, ou de fenômenos do cinema, como a atriz Jodie Foster e os filmes "Thelma e Louise" e "Tomates Verdes Fritos". Os últimos estertores do feminismo radical ainda aparecem em publicações como "Intercourse" ("Relação Sexual", 1987), de Andrea Dworkin, pregando que toda relação sexual é estupro, porque a mulher, invadida pelo pênis, não tem o poder de consentimento.

TERCEIRA ONDA

Anos 90 - O feminismo passa por um momento inicial de reavaliação, como nos estudos de Susan Faludi, "Backlash - The Undeclared War against American Women" (Recuo - A Guerra Não Declarada contra as Mulheres Americanas, 1991), "Personas Sexuais" (1990), de Camille Paglia, e "Fogo com Fogo" (1993), de Naomi Wolf.
Num segundo momento, o feminismo assume a luta contra a exploração da mulher como símbolo sexual e como vítima de um modelo feminino criado pela moda e pela mídia. São exemplo disso as publicações "Against Pornography - The Evidence of Harm" (Contra a Pornografia - A Prova do Mal, 1994), de Diana Russell, e "Unbearable Weight - Feminism, Western Culture and the Body" (Peso Insuportável - Feminismo, Cultura Ocidental e o Corpo, 1993), de Susan Bordo.
O terceiro momento é o surgimento do feminismo juvenil, expresso no movimento que se autodefine como o das "Bad e Riot Girls".



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