|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
+ Cultura
Razão e sensibilidade
Coletânea lançada na Inglaterra investiga os pontos de contato entre ciência e poesia
PETER FORBES
Como dois reagentes
químicos sem o catalisador necessário, a
ciência e a poesia
permanecem amplamente alheias, apesar de tentativas bem-intencionadas de
ambos os lados.
Esta iniciativa de largo alcance -"Contemporary Poetry
and Contemporary Science"
[Poesia e Ciência Contemporâneas, Oxford University Press,
250 págs., 19,99 libras, R$ 82]-
demonstra algumas das razões
disso e talvez sugira um caminho pelo qual avançar.
A idéia foi encomendar peças
de prosa e poesia a poetas e
cientistas e também arranjar
encontros entre os dois. Os
breves relatos dessas reuniões
traem uma ansiedade excessiva de cada lado para ser deferente com o outro.
Felizmente, como antídoto a
essa polidez, o livro tem uma
peça magnífica de Miroslav
Holub, escrita pouco antes de
sua morte, em 1998. Holub é
tão incisivo, tão irreverente,
tão à vontade no laboratório e
na página que nos faz pensar se
o restante do livro contém tantas interações sólidas, sendo a
resposta óbvia que Holub é o
único entre os contribuintes
que foi agraciado tanto na imunologia quanto na poesia.
Sua peça tenta sabotar o empreendimento, declarando que
"os cientistas tendem a evitar a
aterrorizante palavra "ciência'". Um verdadeiro interesse
pela ciência implica curiosidade sobre coisas específicas.
Mas, como indica Holub, "é
muito mais fácil conversar sobre algo tão... pessoal quanto a
poesia. Eu rejeito totalmente
esse tipo de conversa intelectual". Já Jocelyn Bell Burnell,
famosa descobridora dos pulsares, tem um sentimento profundo pela poesia e escreve
com verdadeiro insight.
Neurociência
O livro tem forte contingente
escocês e o editor (escocês)
afirma que a Escócia tem um
melhor histórico de intercâmbio entre poesia e ciência do
que a Inglaterra. Isso é verdade,
mas ambas as tradições empalidecem ao lado da italiana, de
Lucrécio a Galileu, passando
por Calvino e Primo Levi.
É uma pena que o editor continue dando crédito aos excessos dos primeiros modernistas,
que gostavam de alegar um parentesco espúrio com a relatividade de Einstein e a revolução
quântica. A relatividade é uma
ciência precisa relacionada a
efeitos que ocorrem na velocidade da luz; nada tem a ver com
o relativismo humano.
Mas uma disciplina tem clara
relação com a poesia: a neurociência. Kay Redfield Jamieson
discute um trabalho sobre bipolaridade que mostra que as
pessoas na fase maníaca têm
capacidades verbais e associativas realçadas. Algumas chegam
a "escrever poesia e falar em rimas espontaneamente". Como
diz, o estudo do estado de espírito é o lugar de encontro natural entre poesia e ciência.
Este texto foi publicado no "Independent".
Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves.
ONDE ENCOMENDAR - Livros em
inglês podem ser encomendados no
site www.amazon.com
Texto Anterior: + Autores: Um fragmento da escravidão Próximo Texto: A voz do carrasco Índice
|