Ratinho responde
1.
Várias coisas engrossam o caldo da violência no país. Uma delas é a impunidade. O Brasil, infelizmente, sofre desse mal. Há mais de 30 anos que ela impera no país. Isso tudo é um incentivo ao crime. A própria questão da falta de distribuição de renda também ajuda na violência. Mas, no meu conceito, a impunidade é a principal. A falta de religião das pessoas, a falta de Deus, tudo isso colabora para o crescimento da violência -que não é só aqui no Brasil, é no mundo todo. Mas, como aqui existe a famosa impunidade, aí a coisa fica muito pior.
2.
O diferente atrai audiência. Tudo o que é fora do normal, fora do comum, tudo o que não é banalizado atrai a audiência. O crime já não está atraindo tanta audiência como antigamente. Tanto é que antes, no meu programa, eu tinha muito mais crimes e menos audiência; hoje é o contrário, tenho menos crimes e mais audiência.
3.
Violência é caso de polícia e é caso de política. Eu acho que a violência em primeiro plano é caso de polícia, pois ela tem que combater o crime. Mas principalmente há essa violência porque a função política foi destoada. Hoje nós não temos uma boa educação, que deveria ter sido feita há dez anos. Então, o governo hoje não deveria mais se preocupar com quem tem 18 anos. O governo tem que se preocupar com quem tem 5 anos, para que daqui a 15 anos nós tenhamos uma juventude que respeite, que trabalhe, que tenha instrução. Porque na realidade o que nós temos é uma juventude que está praticamente perdida. E hoje nós temos é que recuperar essa juventude.

Paulo Lins responde

1.
Depende de que violência se trata. Se for a que ocorre nas periferias dos grandes centros, nos morros, favelas -isto é: a violência dos excluídos; a que carrega o filho do pobre para a Febem, presídios e morte precoce; a dos assaltos, das guerras de quadrilhas e chacinas-, são a má distribuição de renda e a falta de informação que engrossam o caldo. Os miseráveis do Brasil têm como maior fonte de informação a televisão de canal aberto, que é de programação duvidosa e pouco reflexiva. Além disso, sabemos da péssima situação da escola pública, do desemprego, da saúde, dos salários dos trabalhadores no Brasil.
Se não tivermos uma política social competente, a violência só vai aumentar. Antigamente o assaltante só queria as coisas de valor das vítimas, deixava até os documentos para não complicar suas vidas. Agora, além de assaltar, ele mata com requintes de crueldade. Mata por ódio, uma espécie de vingança... Eu diria que existe um rancor social muito grande. A violência só tende a aumentar.
2.
Na imprensa, para uma certa camada da população, depende do lugar onde ela aconteça e com quem. Em certos lugares ela é tão banal que já não vende tanto... As pessoas se acostumam. A violência como tema de arte, seja ela qual for, depende da forma que o artista dá a seu trabalho, pois ela sempre foi assunto para o cinema, literatura etc. De um tempo pra cá, discute-se muito sobre violência, mas só depois que a classe média e a elite começaram a sentir na pele os seus efeitos; quando ela se dava somente nas favelas e na periferia, não havia simpósios, palestras, debates como agora. Isso é uma prova do tamanho do descaso que o Brasil tem com seus pobres.
3.
O que não falta nas favelas é a presença da polícia. Ela não vai resolver o problema, muito pelo contrário. Essa vocação que o Brasil tem de matar seus pobres e deixar que eles se matem tem de acabar. Violência é caso de justiça social.



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