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WOO Filme sem gramática
Não conheço nenhuma regra, nenhuma verdadeira
"gramática" do cinema.
Quando preparo uma cena, não digo "oh, é preciso filmá-la
em grande plano" ou "oh, isso é um
grande plano". Prefiro filmar de várias distâncias e tomar minha decisão final na montagem, porque é ao
mesmo tempo o momento em que
melhor consigo ter um espírito de
síntese e aquele em que o filme começa realmente a ganhar vida.
Portanto, não hesito em filmar cada cena com várias câmeras (já tive
até 15 câmeras para cenas de ação especialmente complexas) e até rodar
algumas câmeras em velocidades diferentes (minha velocidade preferida é de 512 imagens por segundo, ou
seja, 20 vezes mais lenta que a normal). O motivo dessa desaceleração
é que, quando descubro na montagem um momento especialmente
forte, do ponto de vista dramático
ou emocional, gosto de fazê-lo durar
o maior tempo possível. Portanto,
filmo sob vários ângulos ao mesmo
tempo, mas pode acontecer que no
final o desempenho do ator seja tão
formidável que eu decida utilizar
apenas o grande plano para a cena
inteira e jogar fora todo o resto. [...]
Burocracia de Hollywood
Já se disse que os estúdios de Hong
Kong são muito duros, e é verdade,
mas unicamente porque eles são obcecados pelo aspecto comercial dos
filmes. Se você tiver um fracasso de
bilheteria, eles se livram de você com
uma rapidez assustadora.
Por outro lado, enquanto funcionar, eles lhe dão um controle criativo
total na filmagem. Nunca mostrei
meus copiões aos produtores, quando trabalhava em Hong Kong. Eu filmava e lhes entregava o produto
acabado, muitas vezes com atraso e
tendo ultrapassado o orçamento.
Mas eles só se queixavam se o filme
não desse dinheiro.
Em Hollywood fiquei francamente
surpreso de ver a que ponto o processo criativo é complexo e político.
Há muitas pessoas envolvidas que
querem impor suas idéias, reuniões
demais e não se assumem riscos suficientes. É preciso ter uma energia
incrível para ainda ter vontade de filmar quando finalmente lhe dão a
aprovação. O problema é que eu trabalho enormemente pelo instinto.
Gosto de criar no set, e não antes. [...]
Para trabalhar bem com atores,
acredito que é preciso estar um pouco apaixonado por eles. Isso é uma
coisa que compreendi muito cedo,
assistindo a "A Noite Americana"
[1973], de [François] Truffaut [1932-84]. Era fascinante ver a que ponto
ele amava seus atores. Para mim é a
mesma coisa. Por isso insisto em
passar muito tempo com eles antes
da filmagem e discuto muito para
descobrir quem eles são e o que têm
na cabeça. Faço-os falar sobre seu
modo de vida, seus sonhos, aquilo
de que gostam e o que detestam.
Traduções de Luiz Roberto M. Gonçalves.
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