São Paulo, domingo, 21 de janeiro de 2001

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Ensaísta explica como os escritores vitorianos conseguiam se manter
Um turbulento mercado da cultura

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O poeta Alfred Tennyson (1809-1892)


Vista à distância e, digamos, no todo, a Grã-Bretanha vitoriana, particularmente a Inglaterra vitoriana, parece ter sido realmente muito boa para os escritores. O reino estava repleto de assuntos de criatividade em potencial e havia muitos escritores, principalmente romancistas e poetas, ajudando a perpetuar essa profusão, bem como diversas editoras, jornais e leitores dando-lhes sustentação para abarcarem seu grande objeto.
A Inglaterra, Londres em especial, era o lugar certo para um escritor, o grande centro do mundo imaginado e imaginável. O mundo dirigia-se a Londres. Para o escritor novato ou recém-chegado, a tônica residia na densidade e amplitude. Lá chegando em 1881, Henry James faria sua famosa declaração, dizendo que Londres era "de maneira geral a forma mais possível de vida... É o maior agregado de vida humana, a mais completa síntese do mundo".
Londres fervilhava de gente -mais do que isso, de gente saída diretamente dos romances. Em sua primeira visita, ainda criança, o pequeno e versado James enxergara por toda parte "o Bill Sykes e a Nancy de "The Artful Dodger", de George Cruikshank, diferentes apenas na maior brutalidade lhes conferida pela vida real". Essa vida na cidade oferecia um enorme potencial, sempre muito maior do que o contido nas obras de ficção anteriores, e havia material de sobra a inspirar os recém-chegados.
A abundância de escritores e de escritos parece ter sido um conjunto tão denso quanto esse mais completo resumo mundano poderia exigir que o fosse. "Há tanto de mim!", exclamou a sra. Oliphant em 1876. E havia mesmo. James chamou-a de "a grande dama da improvisação", tecendo longas, vagas, vívidas, inumeráveis, ininterruptas histórias. E havia vários outros iguais a ela, montes de romancistas, pencas de poetas. Após receber o Prêmio Poeta em 1850, Tennyson reclamaria de como o título lhe trouxera a atenção indesejável dos muitos poetas do país: "A quantidade de poemas que recebo está quase me enlouquecendo; os 200 milhões de poetas da Grã-Bretanha inundam-me de poemas: para falar a verdade, a premiação não é sinecura".
Duzentos milhões, claro, é um certo exagero. O recente "Penguin Book of Victorian Verse", de Daniel Karlin, lista 146 colaboradores; o novo "Oxford Book of 19th Century Women Poets", 103 poetas. E isso já é bastante, ainda que muitos poetas não figurem nessas compilações. Quanto aos romancistas, o número é simplesmente espantoso. John Sutherland avalia em 50 mil o total de romances produzidos no decorrer do reinado vitoriano e as diversas estimativas feitas por ele indicam a existência de 7.000 romancistas. O seu "Longman Companion to Victorian Fiction" (1988) traz 878 romancistas -566 homens e 312 mulheres. Para tantos escritores de livros, histórias e poemas, uma contrapartida igualmente elevada de pessoas dispostas a desembolsar para ler: "Idylls of the King", de Alfred Tennyson, vendeu 40 mil volumes em sua primeira edição; "Our Mutual Friend", de Dickens, vendeu 30 mil em dois dias; ou ainda "Tom Brown's Schooldays", de Thomas Hughes, que vendeu 28 mil exemplares em quatro anos: todos esses leitores depositaram 68.939 libras, 17 shillings e 5 pence na conta bancária de Trollope ao longo dos anos, ou pagaram para escutar Dickens ler (só em um mês de 1858 ele ganhou 1.000 guinéus), ou financiaram o projeto do Capitão Marryat (que escrevia, dizia ele, "romances de improviso para custear a compra de fazendas"). Visto por qualquer critério, o fluxo de dinheiro circulante era impressionante. O editor George Smith aparece na porta de Thackeray com mil libras no bolso, a título de pagamento adiantado, seguro de sua perspicácia em vislumbrar a continuação de "Pendennis"; oferece a George Eliot 10 mil libras por "Romola", paga a Wilkie Collins 5.000 libras por "Armadale". O negócio -ironicamente assim chamado por Jasper Milvain em "New Grub Street", de George Gissing- mostrava-se animador. O cenário cultural era ampla e lucrativamente favorável aos livros: o espectro de leitores ia dos proletários aos primeiros-ministros. É verdade que as leis coibindo obscenidades mandaram Vizetelly para a prisão; a legislação para direitos autorais era bastante imperfeita; a pirataria grassava de um lado a outro do oceano; as grandes bibliotecas itinerantes, Mudie's e Smith's, exerciam uma certa tirania sobre o realismo sexual; a preferência nacional era muito sentimental e extremamente pudica sobre sexo, tendo se tornado exageradamente pró-realeza e imperialista. Mesmo assim, não foram esses um bom tempo e lugar para ser escritor? Para alguns, talvez, mas não para todos. Com Jasper Milvain, Gissing cinicamente sugere que aquela época propiciava o tratamento de livros como qualquer outra mercadoria colocada à venda: "Gênios... só podem alcançar sucesso pela mera força cósmica", porém os demais poderiam ir adiante se observassem o mercado e aprendessem alguns segredos óbvios do negócio. Até certo ponto, Milvain estava certo. Escritores e editores vitorianos bem-sucedidos aprenderam a adivinhar o gosto popular.

O cuidado com as palavras
George Eliot segue à risca os conselhos de Blackwood quanto a palavreado ofensivo, e Dickens é cuidadosamente reticente sobre a prostituição de Nancy. Os escritores atinham-se de bom grado ao modelo de reprises hoje dominante em Hollywood: "Pickwick 2", "Woman in White 4". Smith oferece a Tennyson 5.000 libras por três anos dos direitos de seus próximos poemas ("Querida!", exclama o poeta para sua mulher, "estamos muito mais ricos do que supúnhamos"), mas essa era a consequência da bem-sucedida série "Idylls". Escritores precisavam de editores sagazes: homens que soubessem não somente como colocá-los dentro do mercado, divulgando-os bem (Chapman e Hall distribuíram 1 milhão de folhetos por ocasião do lançamento "Our Mutual Friend"), mas também como mantê-los dentro, que fossem competentes para prolongar a vida dos livros, alguém como John Blackwood, capaz de vislumbrar quando sair de uma edição em três volumes para outra mais barata, quando lançar a "Coletânea de George Eliot" etc. Além de um bom editor, o aspirante a escritor precisava certamente também ter nascido na família certa ou vir a fazer parte dela. O aspecto verdadeiramente notável sobre os 878 romancistas de Sutherland (e os 146 poetas de Karlin) é o reduzido número dos que começaram a vida como meninos e meninas pobres. Naturalmente alguns escritores vitorianos são de origem pobre. Filho de pais analfabetos, Gerald Massey nasceu em uma cabana às margens de um canal próximo a Tring e, na infância, trabalhou como operário de uma fiação de seda, 13 horas por dia; John Clare era de família extremamente pobre, procedente da região central da Inglaterra; o pai de Isa Craig Knox confeccionava meias e luvas em Edimburgo, e o de Ebenezer Elliot trabalhava em uma fundição de ferro em Roterdã. A mãe de Hardy era empregada doméstica; o pai de George Eliot começou a vida como carpinteiro e mestre-de-obras; a mãe de H.G. Wells era camareira; Marie Corelli era filha ilegítima de uma empregada doméstica; Joseph Keating (o romancista zolaiano) descendia de mineiros galeses; Frances Browne, a poeta cega de Donegal, era filha de uma funcionária de correio de uma vila. Mas a maioria dos escritores vitorianos nasceu longe de cabanas à beira de canais ou de fundições. Um grande número veio ao mundo em lares de vigários ou pastores presbiterianos -como os irmãos Tennyson, as Brontë, Eliza Lunn Linton, R.W. Dixon, Lewis Carroll, Edward Fitzgerald, Arthur Symons, C.S. Calverley, Henry Newbolt. Os escritores da Inglaterra vitoriana eram filhos de pessoas cultas, daqueles que Arnold considerava o centro anglicano. E, se o pai não fosse um vigário ou pastor, seria médico, advogado ou banqueiro, diplomata ou funcionário público, oficial da Marinha ou Exército, um administrador de colônia inglesa, funcionário de colônia, importador, fabricante ou funcionário da alfândega. Tennyson pensava ser pobre, e seu pai fora realmente maltratado pelo progenitor no momento de receber a herança familiar. Mas desde o começo Tennyson teve dinheiro saindo pelos olhos, bem antes de seus poemas começarem a render alto -centenas e centenas de libras em herança, doações e pensões. Ele tinha dinheiro para investir, dinheiro para perder no projeto lunático de torneamento de madeira do doutor Allen, mas sempre dinheiro suficiente para que nem sequer uma vez precisasse sair para trabalhar. E havia muitos em situação igual à dele, cuja iniciação na carreira de escritor fora facilitada pela ausência de preocupações financeiras.

Garotos dourados
Nem toda família abastada, claro, era necessariamente fonte de inspiração intelectual e criativa. Mas um começo financeiramente protegido ou confortável era culturalmente útil também. Pense em todos aqueles garotos e garotas esteticamente dourados: as crianças Brontë com seus pequenos e precoces tomos repletos dos resultados dos inúmeros momentos de leitura na infância; ou Bulwer Lytton, que começa a escrever poemas aos 7 e tem o primeiro volume publicado aos 17; ou Arthur Henry Hallam, que escreve diversas tragédias durante sua estadia em Eton, é levado para a Itália por pais embevecidos para que aprenda italiano e escreva precocemente sonetos naquele idioma; ou Algernon Charles Swinbourne, cujo pai almirante financia os dois primeiros volumes do filho.
Lembre-se também de Christina Rossetti, cujos versos, compostos aos 12 anos, são publicados por iniciativa particular do avô; ou William Morris, cujo pai extremamente rico, corretor na bolsa de Londres, compra-lhe uma pequena armadura para as cavalgadas em seu pônei; ou Philip Bourke Marston, filho de um dramaturgo, que, aos 14 anos, quando Swinbourne passa a frequentar-lhe a casa, é capaz de recitar todo o primeiro volume de "Poems and Ballads". Essas crianças tinham, por assim dizer, o nome inscrito na literatura bem antes de nascerem.
E sinais de um começo de sorte estão por toda parte. Do Trinity College, em Cambridge, por exemplo, saiu um número espantoso de grandes nomes de escritores vitorianos -Bulwer Lytton, Winthrop Mackworth Praed, os irmãos Tennyson, Thackeray, Fitzgerald, Arthur Munby. E certamente ninguém chegaria lá se fosse pobre. Além disso, alguns poetas e romancistas vitorianos foram chamados para a Ordem dos Advogados, sem terem jamais exercido essa profissão (Martin Tupper, Ernest Jones, C.S. Calverley, Henry Newbolt, R.D. Blackmore, Thackeray, Charles Reade, Wilkie Collins, J.A. Symonds e outros).
Um dos mais interessantes livros vitorianos sobre escritores e sua produção, "Aspects of Authorship", de Francis Jacox, de 1872, tem um capítulo sobre como advogados fracassados tendiam a se tornar escritores, transformando algum tipo de insucesso na vida real em chave para a arte. E, óbvio, uma razão para tantos desses advogados escritores jamais terem exercido a profissão era o fato de não precisarem desse dinheiro para se dedicar à literatura.
Não muito distante da categoria de "advogados-escritores" vitorianos aparecia a de mulheres casadas e solteironas. De acordo com as estimativas de John Sutherland, as solteironas são de fato o grupo o mais prolífero dentre todos os escritores vitorianos. Isso, mais uma vez, é sinal de escritor egresso de família financeiramente sólida. A mulher de operário, trabalhasse ela fora ou ficasse em casa para cuidar dos 6, 8 ou 11 filhos, não escrevia, ou só o fazia muito raramente, assim como as mulheres solteiras dessa classe. Janet Hamilton, a poeta escocesa cega, filha de pai sapateiro, é caso especial de mulher poeta, solteira e pobre. O grande contingente de mulheres burguesas na sociedade vitoriana a dividir o tempo preguiçosamente entre obras cristãs de caridade e a escrita é produto de dinheiro na família, por parte de pai ou marido. Muitas carreiras de escritores vitorianos foram integralmente viabilizadas por heranças substanciais. Na segunda metade da vida, Robert Bridges viveu à custa dos ganhos obtidos com a venda de terras herdadas; Katherine Bradley e Edith Cooper, o casal homossexual que incluía o poeta Michael Field, viveram da fortuna proveniente do tabaco de Birmingham, herdada do pai de Bradley. A vida estética de Walter Savage Landor foi totalmente assegurada por polpudos aluguéis no País de Gales; Thomas Lovell Beddoes viveu da renda de fazendas galesas herdadas. Heranças libertavam os escritores para seu ofício: W.S. Blunt trocou o serviço diplomático por uma vida de viagens, livros e poesia tão logo herdou as propriedades familiares. Não surpreende que o tema de tantos enredos vitorianos fosse herança. Ou um bom casamento. A situação financeira de Frank Harris reergueu-se solidamente (ele era filho de marinheiro galês que fugira para a vida no mar aos 14 anos) depois de casar com um viúva de Park Lane. E.H. Dering, oficial da Guarda Anglo-Católica forçado a abandonar o posto de soldado devido à malária, recuperou-se e iniciou a carreira de romancista ao desposar Georgina Lady Chatterton, viúva 20 anos mais velha. Após essa guinada de sorte, ele pôde se dedicar a romances pró-católicos (e a romances de costumes dos 1700), trabalhando na casa da esposa, em Mayfair, e na mansão de campo da prima dela.

Rede de amigos
Na ausência de verdadeiros agentes, os escritores vitorianos dependiam de uma rede de amigos, mentores e entusiastas. Gerard Manley Hopkins realmente precisava de R.W. Dixon e Bridges como ponto de apoio; o que teria Tennyson feito sem a ajuda de Arthur Hallam diante de comentaristas hostis?; ou Charlotte Mary Yonge sem John Keble a checar seus manuscritos?; ou Swinburne sem Theodore Watts-Dunton a mantê-lo sóbrio e barbeado? E, obviamente, muito mais útil poder contar com tal pessoa na própria família -um irmão Willie para encaminhar secretamente seu primeiro romance ("Margaret Maitland", da sra. Oliphant) ao editor; ou um marido como o reverendo William Gaskell para conferir o contrato com Chapman e Hall; ou, algo de resultado ainda melhor, ter em casa um negociador durão como George Henry Lewes. George Eliot -ela o admitia com prazer- jamais teria ingressado na ficção sem o apoio paciente de Lewes, nem teria progredido como conseguiu sem a interferência dele com os editores. Anne Thwaite muito apropriadamente começa sua grande "Life of Emily Tennyson" com o instigante poema de Philip Larkin sobre a verdadeiramente útil mulher de Tennyson, que respondia a todas as cartas, providenciava todas as refeições, recebia as visitas e criava os filhos, enquanto o "Sr. Alfred Tennyson se sentava como um bebê/ Fazendo o seu trabalho poético". Não tendo se casado, o próprio Larkin parece ter sentido ainda mais a força da preciosa ajuda de uma parceira estável à época vitoriana. Escrever poderia de fato ser lucrativo, e muito. Mas, quantos dos milhares de romancistas de Sutherland realmente ganhavam o pão somente escrevendo? Quantos dos 146 poetas de Karlin? É fácil deixar-se enganar pelo brilho dos números, dos 20 mais, dos grandes nomes, dos best sellers -"Middlemarch", "Endymion", "Drácula" etc.- e também pela profusão de escritores com produção regular e lucros razoáveis pertencentes à "suave vegetação rasteira" da ficção (tal como a sra. Oliphant a chamava), os competentes provedores de família. Contudo a média de romancistas tinha sem dúvida menos de Dickens do que do contemporâneo Harrison Ainsworth -que despencara de um padrão de 2.000 libras por romance para sofríveis 400 e finalmente para meras 100 por livro. E, como disse Charlotte Brontë a seu editor, 100 libras não é grande recompensa para um ano de trabalho intelectual. Em suas memórias, J.A. Symonds queixa-se da escassa média de 250 libras anuais ganha com a atividade literária, incluindo todas as palestras, artigos para jornais e revistas, verbetes na "Enciclopédia Britânica" e coisas do gênero. "Isso mostra bastante bem que pobre negócio é a literatura." Gissing foi insólito por ter se limitado a viver ou pensado poder viver somente escrevendo; Symonds, assim como a maioria, dispunha de outra fonte de renda na qual se apoiar. Muitos escritores vitorianos, até mesmo alguns bem-sucedidos, ficavam altamente endividados junto aos editores. Poucos deles -quase nenhum poeta- tinham condições financeiras para dispensar outras atividades profissionais. Poesia vendia menos e consequentemente remunerava mal -no mínimo, menos do que a "poesia vitoriana" como dela lembramos hoje. Tennyson vendia, da mesma forma que Browning tempos depois (cujo ganho de 100 libras anuais com poesia no começo da década de 1880 subiu para 1.013 libras em 1889 -ainda assim, bem menos do que as 5.000 libras anuais de Tennyson). Porém, de maneira geral, os versos vitorianos de melhor vendagem foram claramente os mais pobres, os de partir o coração, histórias sentimentais feitas em rima, textos banais e moralizantes, aliterações imperialistas, como a famosa ode de Charlotte Elliott "Just As I Am Without One Plea" -40.000 exemplares- ou "Mother's Last Word", de Mary Sewell -mais de 1 milhão de exemplares vendidos; já "Omar Khayyam", de Fitzgerald, não vendeu nenhum exemplar ao ser publicado, alcançando a condição estética de livro "cult" somente quando um decadente pintor pré-rafaelita o resgatou do fundo do baú da Quaritch. Legados ao público vitoriano, os cânones da poesia vitoriana teriam rendas muito mais escassas do que imaginávamos.

Dependentes de caridade
Daí o fato de tantos poetas terem enfrentado dificuldades, terem sido dependentes de caridade particular, do Fundo Real para Literatura ou da pensão do Fundo Civil. John Ruskin responsabiliza-se pelas traduções de Dante Gabriel Rossetti e concede empréstimo a Lizzie Siddal; amigos de Thomas Cooper levantam fundos para sustentá-lo nos últimos 25 anos de vida. A verba do Fundo Civil destinava-se a trabalhos notáveis de artes e ciências, assim como aos necessitados dessas áreas.
No entanto, muitos escritores recebiam essa pensão sem precisarem dela -Tennyson, a sra. Craik, Matthew Arnold. Mas Thomas Hood certamente precisava do dinheiro recebido; as 50 libras pagas pelo Fundo Real à cega Janet Hamilton eram sem dúvida necessárias à sua sobrevivência, assim como foram indispensáveis as cem libras de pensão do Fundo Civil pagas em 1863 à debilitada Eliza Cook e igualmente a pensão por velhice recebida por Edwin Atherstone, a concedida ao arruinado James Sheridan Knowles e a Edwin Waugh (o poeta da classe operária), a Louisa Costello (a pobre poeta solteirona); a Frances Browne (a poeta cega de Donegal). Poupar escritores como esses da hostilidade do mercado foi o objetivo do Grêmio de Literatura e Arte criado por Dickens e Bulwer Lytton in 1850 (inclusive com a construção de um asilo para escritores em dificuldades). Sem ajuda financeira complementar às vendas, o poeta vitoriano tenderia a não prosperar, talvez a nem sequer publicar algo.
O escritor vitoriano era sem dúvida uma pessoa necessitada -de leitores, de vendas e, claro, de ganhos razoáveis com as edições. Porém, sem ter de fato conseguido isso, acabou ficando dependente de renda de outra fonte, fosse de pai, mãe, heranças ou outra sorte inesperada, de casamentos arranjados, amigos, patronos, ou mesmo de um Estado mais ou menos benevolente.

Valentine Cunninghamé professora de literatura inglesa na Faculdade Corpus Christi, em Oxford. Este texto foi originalmente publicado no "The Times Literary Supplement".
Tradução de Claudia Strauch.


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