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Os anos dourados de Ziggy
Bowie começou inspirando uma geração; hoje, é um
dos poucos veteranos afiados
ANDY GILL
Não é novidade um
astro do rock fazer
60 anos. O notável
sobre David Bowie
é que ele atingiu
esse marco na ativa: ao contrário da maioria de seus contemporâneos, não cogitou se aposentar nem deixou de lançar álbuns da vanguarda popular.
A maioria dos roqueiros
bem-sucedidos se retira para
casas de campo e resmunga sobre os jovens arruaceiros que
os suplantam no afeto público.
Os afortunados cuja lenda se
enraíza suficientemente se
ocupam com apresentações
periódicas de glórias passadas.
Mas é difícil pensar em mais
que um punhado de roqueiros
sexagenários que se tenham
mantido aguçados artisticamente ao longo da carreira. É
uma elite que inclui Bob Dylan,
evidentemente, e o trio de trovadores coadjuvantes formado
por Neil Young, Leonard Cohen e Van Morrison. Mesmo
gênios como Stevie Wonder e
Brian Wilson passaram por
longos hiatos de depressão
criativa nas décadas recentes.
A razão mais mencionada
para explicar a longevidade
criativa de Bowie é sua capacidade de mudar de figura, matando personagens adorados
como Ziggy Stardust e Alladin
Sane, e levar sua carreira a novos rumos -estratégia imitada
por Madonna com diferença
menor no produto resultante.
Esse fator bastaria apenas
para estender o apelo de Bowie
até meados dos anos 80. De lá
para cá, ele adotou uma persona única e passou a vestir o terno ditado aos homens de certa
idade. O afeto que ainda lhe é
reservado tem origem mais
profunda do que roupas.
O apelo de Bowie provavelmente tem mais a ver com o
impacto de suas primeiras
obras. Ele mudou vidas: seu jeito de pavão criou um modelo
para pessoas mais fantasiosas,
e a ruptura com as convenções
ajudou gays a sair do armário.
Mas Bowie ainda revelou inteligência suficiente para combinar a superfície burlesca de
seus personagens a um trabalho substancioso e provocador.
As trocas de papel trouxeram
metalinguagem ao rock. Depois de Ziggy Stardust, tornou-se quase impossível ouvir rock
sem perceber relação entre astro e fãs e outros artifícios subjacentes. Ilusões que sustentavam parcela do pop e do rock
foram demolidas. Foi o fator
mais importante para se desenvolver o punk.
Foi durante a era punk que
ele gravou três álbuns sobre os
quais boa parte de sua reputação repousa -"Station to Station", "Low" e "Heroes", o
equivalente, na carreira de Bowie, à trilogia elétrica de Dylan:
picos diante dos quais qualquer
obra subseqüente será julgada.
Bowie se tornou o barômetro
cultural, alimentando-se de
conceitos culturais da vanguarda da era, da alienação ao vídeo,
passando pelo rock eletrônico
alemão, transformando-os em
pop lucrativo de quilate elevado. Os discos eram o som de
um futuro em construção, e vivemos até hoje naquele futuro.
Este texto foi publicado no "Independent".
Tradução de Paulo Migliacci .
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