São Paulo, Domingo, 21 de Fevereiro de 1999 |
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PONTO DE FUGA She walks in beauty
JORGE COLI O título do artigo remete ao primeiro verso de Byron citado acima DÉCADA - Nas relações entre o homem e Deus, Robert Bresson interroga-se sobre o temporal, o efêmero e o eterno. Para tanto, penetra nas características de um meio social e capta uma época. Rever, 20 anos depois, "Le Diable Probablement" na retrospectiva do diretor oferecida pelo MoMa é voltar aos tempos das calças boca-de-sino, à elegância displicente das roupas moldando corpos longilíneos e andróginos. É perceber também o caráter profético de um olhar desconfiado, que se confirma cada vez mais neste fim de milênio. Bresson desespera-se diante do desrespeito à natureza. Também acerta contas com as grandes ilusões interpretativas de nosso século, o marxismo e a psicanálise, esta última, por sinal, com uma justa crueldade. Isso, num tempo em que elas vigoravam como novos evangelhos, nos quais, é claro, o jansenista Bresson não podia acreditar. Ele atacaria mais tarde o capitalismo, em "L'Argent". Bresson evita os símbolos e as alusões culturais complexas de um Tarkovsky, por exemplo, que se aproxima dele pela postura espiritual. Bresson prefere a vertigem da simplicidade. FEMININO - As mulheres retratadas por Julia Cameron não sorriem. Encerram-se numa grave e sensual melancolia, como a dos modelos de Burne-Jones ou de Rossetti, profunda e sem artifícios. Algo de essencial encontra-se prisioneiro dentro desses corpos e desses rostos, por trás dos olhos muito abertos, dos lábios imóveis, traduzindo impossível plenitude. Sem afetações, sem pose romântica, os temas literários que a inspiraram adquirem uma verdade nem sempre obtida pela pintura. COPO - É como nos velhos filmes em que, a partir das biografias de Zola ou de Rembrandt, brotava uma trama maravilhosa e biruta. "Shakespeare in Love" imagina uma jovem rica, obrigada a se disfarçar de homem para poder amar o bardo. "O amor que não ousa dizer seu nome", cantado por Shakespeare, explica-se assim pelo disfarce, o que não deixa de ser uma certa forma de covardia. Mas instilar algum amargo nessa refrescante água-com-açúcar é que seria um pecado. Jorge Coli é historiador da arte. E-mail: coli20@hotmail.com Texto Anterior: "Trabalho" é próximo tema Próximo Texto: Risco no disco - Ledusha Spinardi: Sereno enigma Índice |
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