São Paulo, domingo, 21 de maio de 2000


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Instrumentos em órbita e em terra e novos modelos matemáticos podem fazer com que a existência de buracos negros seja finalmente comprovada
Caçada aos buracos negros

Redemoinhos cósmicos

STSI/Divulgação
Ilustração mostra aglomerado de partículas sendo tragado por um buraco negro; matéria mais próxima do centro atinge altas temperaturas e emite raios x


Marcelo Ferroni
Editor-assistente de Ciência

Buracos negros, corpos já famosos na teoria, mas ainda indetectáveis na prática, estão a um passo de virar realidade. O uso de instrumentos em órbita e em terra cada vez mais precisos, aliado à elaboração de novos modelos para descrever o funcionamento desses corpos, pode fazer com que sua "assinatura" seja observada. Os objetos mais escorregadios do Universo teriam assim, finalmente, sua existência comprovada.
Em órbita, o telescópio Chandra, da agência espacial norte-americana (Nasa), começou a procurar por emissões de raios X peculiares aos buracos negros. Essa radiação-assinatura indica que parte da energia ao redor desses corpos foi absorvida e "desapareceu" -algo que só pode ocorrer com buracos negros. Em terra, o observatório Cangaroo 2, inaugurado na semana retrasada na Austrália, promete detectar outro tipo de radiação dos buracos negros, os raios gama. Uma segunda assinatura, de alta energia, característica de matéria que é destruída conforme vai sendo tragada.
Outra forma de encontrar esses corpos poderá ser por meio das ondas gravitacionais, fenômeno previsto pela relatividade geral. As ondas gravitacionais podem ser liberadas em colisões entre dois buracos negros. O aparelho para detectá-las, em construção nos EUA, chama-se Ligo e deve estar terminado no final da década.
A confluência das novas possibilidades de detecção fez com que os buracos negros voltassem a ser um dos assuntos principais da comunidade científica. No final de fevereiro sua detecção foi debatida durante o encontro anual da AAAS (Sociedade Americana para o Avanço da Ciência, na sigla em inglês).
"Os buracos negros têm muitas propriedades interessantes que indicam que eles podem trazer novas idéias para a possível unificação da teoria da relatividade e da mecânica quântica", disse à Folha Roeland van der Marel, do Instituto de Ciência do Telescópio espacial, dos EUA. Marel, que estuda buracos negros por meio do telescópio Hubble, participou do encontro da AAAS.
Os buracos negros apareceram pela primeira vez nas equações de Albert Einstein, em 1915. Apesar de inicialmente serem considerados "absurdos teóricos", atualmente já são corpos bem conhecidos dos astrônomos e astrofísicos -pelo menos no papel (pág. 08).
Apesar disso, ninguém é capaz de afirmar que buracos negros, corpos tão pequenos e tão maciços que nada, nem mesmo a luz, pode escapar de sua atração, existam. Para Martin Rees, Astrônomo Real britânico, o máximo que se pode dizer desses corpos é "acho que definitivamente existem". É o que indica o pesquisador, um dos grandes colaboradores no estudo de buracos negros, em entrevista à Folha (leia texto abaixo).
O primeiro candidato no Universo foi descoberto somente em 1964 -três anos antes de o próprio nome "buraco negro" ter sido cunhado pelo físico John Wheeler. Depois disso, diversos outros prováveis buracos negros foram detectados no Universo.
E dos buracos negros "normais", astrofísicos começaram a especular sobre a existência de buracos negros supermaciços, com massas da ordem de milhões de massas solares. A nossa própria galáxia, a Via Láctea, provavelmente contém um desses corpos, com massa de 2 milhões a 3 milhões de sóis (pág. 10).
É difícil prever o que a astronomia promete para o próximo século. Para a próxima década, no entanto, "deveremos ter mais descobertas sobre buracos negros, matéria escura e planetas na órbita de outras estrelas", diz Rees. É esperar para ver.


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