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Instrumentos em órbita e em terra e novos modelos matemáticos podem fazer com que a existência de buracos negros seja finalmente comprovada
Caçada aos buracos negros
Redemoinhos cósmicos
STSI/Divulgação
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Ilustração mostra aglomerado de partículas sendo tragado por um buraco negro; matéria mais próxima do centro atinge altas temperaturas e emite raios x |
Marcelo Ferroni
Editor-assistente de Ciência
Buracos negros, corpos já famosos na teoria, mas
ainda indetectáveis na prática, estão a um passo de
virar realidade. O uso de instrumentos em órbita e em
terra cada vez mais precisos, aliado à elaboração de novos modelos para descrever o funcionamento desses
corpos, pode fazer com que sua "assinatura" seja observada. Os objetos mais escorregadios do Universo teriam assim, finalmente, sua existência comprovada.
Em órbita, o telescópio Chandra, da agência espacial
norte-americana (Nasa), começou a procurar por emissões de raios X peculiares aos buracos negros. Essa radiação-assinatura indica que parte da energia ao redor
desses corpos foi absorvida e "desapareceu" -algo que
só pode ocorrer com buracos negros. Em terra, o observatório Cangaroo 2, inaugurado na semana retrasada
na Austrália, promete detectar outro tipo de radiação
dos buracos negros, os raios gama. Uma segunda assinatura, de alta energia, característica de matéria que é
destruída conforme vai sendo tragada.
Outra forma de encontrar esses corpos poderá ser por
meio das ondas gravitacionais, fenômeno previsto pela
relatividade geral. As ondas gravitacionais podem ser liberadas em colisões entre dois buracos negros. O aparelho para detectá-las, em construção nos EUA, chama-se
Ligo e deve estar terminado no final da década.
A confluência das novas possibilidades de detecção fez
com que os buracos negros voltassem a ser um dos assuntos principais da comunidade científica. No final de
fevereiro sua detecção foi debatida durante o encontro
anual da AAAS (Sociedade Americana para o Avanço
da Ciência, na sigla em inglês).
"Os buracos negros têm muitas propriedades interessantes que indicam que eles podem trazer novas idéias
para a possível unificação da teoria da relatividade e da
mecânica quântica", disse à Folha Roeland van der Marel, do Instituto de Ciência do Telescópio espacial, dos
EUA. Marel, que estuda buracos negros por meio do telescópio Hubble, participou do encontro da AAAS.
Os buracos negros apareceram pela primeira vez nas
equações de Albert Einstein, em 1915. Apesar de inicialmente serem considerados "absurdos teóricos", atualmente já são corpos bem conhecidos dos astrônomos e
astrofísicos -pelo menos no papel (pág. 08).
Apesar disso, ninguém é capaz de afirmar que buracos negros, corpos tão pequenos e tão maciços que nada, nem mesmo a luz, pode escapar de sua atração, existam. Para Martin Rees, Astrônomo Real britânico, o
máximo que se pode dizer desses corpos é "acho que
definitivamente existem". É o que indica o pesquisador,
um dos grandes colaboradores no estudo de buracos
negros, em entrevista à Folha (leia texto abaixo).
O primeiro candidato no Universo foi descoberto somente em 1964 -três anos antes de o próprio nome
"buraco negro" ter sido cunhado pelo físico John
Wheeler. Depois disso, diversos outros prováveis buracos negros foram detectados no Universo.
E dos buracos negros "normais", astrofísicos começaram a especular sobre a existência de buracos negros
supermaciços, com massas da ordem de milhões de
massas solares. A nossa própria galáxia, a Via Láctea,
provavelmente contém um desses corpos, com massa
de 2 milhões a 3 milhões de sóis (pág. 10).
É difícil prever o que a astronomia promete para o
próximo século. Para a próxima década, no entanto,
"deveremos ter mais descobertas sobre buracos negros,
matéria escura e planetas na órbita de outras estrelas",
diz Rees. É esperar para ver.
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