São Paulo, domingo, 21 de outubro de 2007
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A Las Vegas da antigüidade CONSIDERADA A 2ª MARAVILHA DO MUNDO MODERNO, EM SEGUIDA À MURALHA DA CHINA, A CIDADE DE PETRA FUNDE ESTILOS QUE VÃO DO GREGO, ROMANO E EGÍPCIO AO MESOPOTÂMICO E INDIANO ANDREW LAWLER
Burro, cavalo ou camelo?", me pergunta o guia. Opto pelo
modelo econômico,
e conduzimos nossos burricos num trote tranquilo pelos vales íngremes que
cercam Petra, na Jordânia, entre rochas que mudam de cor,
do vermelho para o ocre e o laranja, voltando ao vermelho.
Quando Joukowsky iniciou seu trabalho, Petra não passava de um destino turístico exótico situado num país sem recursos para financiar escavações. Os arqueólogos, de modo geral, tinham passado ao largo do sítio -localizado na periferia do Império Romano-, e apenas 2% da cidade antiga tinha sido descoberta. Desde então, a equipe de Joukowsky, uma equipe suíça e outra americana trouxeram à tona o que foi no passado o centro político, religioso e social da metrópole, jogando por terra a idéia de que Petra não passava de uma cidade de túmulos. Ninguém sabe de onde vieram os nabateus, mas eles desenvolveram um sistema de escrita que acabou se tornando a base do árabe escrito. Nas décadas que se seguiram à morte de Alexandre, o Grande, em 323 a.C., os gregos reclamavam dos nabateus que saqueavam navios e caravanas de camelos. Os estudiosos acreditam que essas investidas acabaram por aguçar o apetite dos nabateus pela riqueza. Com o tempo, ao invés de atacar as caravanas, começaram a protegê-las -cobrando um preço por isso. No século 2º a.C., os nabateus já dominavam o comércio de incenso saindo do sul da Arábia. Em 100 a.C. a tribo tinha um rei, riqueza imensa e uma capital em rápido processo de expansão. Camelos chegavam a Petra carregando caixas de olíbano e mirra de Omã, sacos de especiarias da Índia e tecidos da Síria. Tanta riqueza teria atraído saqueadores, não fosse pelo fato de que as montanhas e os muros altos de Petra protegiam os mercadores quando chegavam à cidade. Os nabateus eram incomuns no mundo antigo por seu repúdio à escravidão, pelo papel de destaque exercido pelas mulheres na vida política e pela abordagem igualitária ao governo. Joukowsky sugere que o grande teatro do Grande Templo, que ela restaurou parcialmente, pode ter sido usado para reuniões de conselho, com espaço para receber centenas de cidadãos. Cidade liberal Tanta riqueza acabou atraindo a atenção de Roma, grande consumidora de incenso para uso em rituais religiosos e de especiarias usadas para fins medicinais e no preparo de alimentos. Roma anexou a Nabatéia em 106 d.C., aparentemente sem combates. Em sua época áurea, Petra era uma das cidades mais liberais da história -mais Las Vegas do que Atenas. Acostumados a viver em tendas, os nabateus primitivos não tinham tradição significativa de construção, de modo que, com a renda que passaram a ter à sua disposição, copiaram estilos que variavam do grego ao egípcio, do mesopotâmico ao indiano -razão das colunas do Grande Templo coroadas com cabeças de elefantes asiáticos. "Eles emprestavam elementos de todos", diz Christopher A. Tuttle, estudante de pós-graduação da Universidade Brown que trabalha com Joukowsky. Um dos enigmas de Petra é a razão que levou os nabateus a empregar uma parte tão grande de sua riqueza esculpindo fachadas notáveis e cavernas, que perduraram por muito tempo depois de as construções erguidas sobre a terra terem desabado em consequência de terremotos ou do descuido. No auge de Petra, sua população chegou a cerca de 30 mil moradores -uma densidade demográfica espantosa, que, no clima árido da região, foi possível graças à habilidade de engenharia dos nabateus. Os moradores de Petra escavaram canais na rocha sólida, armazenando as chuvas do inverno em centenas de grandes cisternas, para serem usadas durante os verões secos. Muitas dessas cisternas são usadas até hoje pelos beduínos. As encostas montanhosas íngremes foram convertidas em vinhedos plantados em terraços, e pomares irrigados abasteciam os moradores de frutas frescas, provavelmente romãs, figos e tâmaras. Uma equipe suíça descobriu recentemente, perto do pico da colina, uma residência impressionante em estilo romano, com casa de banhos repleta de detalhes, uma prensa para produzir azeite de oliva e afrescos no estilo dos de Pompéia. No século 4º d.C. Petra entrou em declínio. O crescente comércio marítimo, ao sul, roubara negócios de Petra, enquanto cidades rivais ao norte que também recebiam caravanas, como Palmyra, desafiavam o domínio de Petra em terra. Então, em 19 de maio de 363 d.C., um grande terremoto sacudiu a região, seguido por um tremor posterior também poderoso. Um bispo de Jerusalém observou numa carta que "quase a metade" de Petra foi destruída pelo abalo. Esquecida por um milênio em sua fortaleza no deserto, Petra ressurgiu no século 19 como destino exótico para viajantes ocidentais. Em tempos mais recentes, Petra vem realizando essa previsão. Hoje ela é a maior atração turística da Jordânia, atraindo centenas de milhares de visitantes por ano. Indiana Jones, personagem hollywoodiano, procurou o Santo Graal em uma das cavernas de Petra em filme de 1989, dramatizando a cidade para o público mundial. O tratado de paz de 1994 entre Jordânia e Israel possibilitou o turismo de massas. Estrangeiros começaram a ir a Petra, e judeus devotos começaram a fazer peregrinações até a vizinha Jebel Haroun, que, de acordo com a tradição, é o local do túmulo do profeta Aarão. Apesar de toda a publicidade e do afluxo de turistas, boa parte de Petra permanece intocada pelos arqueólogos, escondida debaixo de espessas camadas de destroços e da areia acumulada ao longo de séculos. A íntegra deste texto saiu na "Smithsonian". Tradução de Clara Allain. Texto Anterior: Ruínas em obras Próximo Texto: Tour virtual desvenda Pompéia e Petra Índice |
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