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O racismo do 3º Reich em letra de fôrma
Para Mengele, miscigenação provocaria ruína dos EUA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Até o final da vida, o médico
Josef Mengele defendeu teses como a superioridade
dos arianos e os malefícios
supostamente causados pela miscigenação, além de questionar a capacidade intelectual dos judeus.
Segundo Mengele, a raça teria papel preponderante na definição da
capacidade intelectual dos indivíduos. Essa opinião, um dos pilares
teóricos do Terceiro Reich, está fartamente reproduzida em manuscritos e documentos datilografados
por máquinas achadas pela PF entre os pertences do médico.
Em um manuscrito em tinta azul
e sem data, Mengele comenta a teoria darwinista e as diferenças entre
macacos e seres humanos. O médico alemão afirma que a capacidade
intelectual não é igual em todos os
homens, mas varia de acordo com a
raça. A leitura do documento revela
que Mengele acreditava na superioridade das raças nórdicas européias
-especialmente da ariana.
Um texto datilografado em uma
das duas máquinas que pertenceriam a Mengele, provavelmente de
1973, desenvolve essa idéia sobre a
superioridade de algumas raças em
relação a outras. Em meio a diversas referências técnicas (como costumava fazer em seus escritos), o
documento menciona a doutrina
de Joseph Arthur, conde de Gobineau (1816-1882), um dos principais teóricos do racismo. De acordo
com Mengele, "que as raças e os povos são diferentes entre si, é fato
comprovado (...). Nisso não há
qualquer juízo de valor".
Logo a seguir, o autor afirma que,
tendo como medida o nível cultural, "nem todas as raças conseguiram a mesma posição cultural, o
que nos força a concluir que nem
todos os povos têm o mesmo dom
criativo. Na raça nórdica, isso pode
ser constatado de forma clara [...].
Basta tomar as figuras mais importantes da história ocidental e analisar suas características raciais".
O texto condena veementemente
a miscigenação e sugere que essa
prática poderia levar à derrocada
dos Estados Unidos. Há também
um elogio ao apartheid adotado na
África do Sul (que foi eliminado em
1994), apresentado como única forma de convivência possível para a
preservação das raças intelectualmente "acima da média".
Judeus e "hospedeiros"
Datilografado em uma máquina
da marca Zephir-Smith-Corona, o
texto de oito páginas, com correções feitas em caneta azul, traz comentários específicos sobre a origem e sobre a capacidade intelectual do povo judeu.
Afirma que os judeus nasceram
de uma mistura entre raças da Ásia
Menor e do Oriente, "mas, ao longo
de sua migração de milhares de
anos, receberam elementos de raças européias e negróides".
Segundo Mengele, isso explicava
a "indiscutível" produção cultural
do povo judeu, como mostra a seguinte afirmação: "Pode-se perceber
facilmente que seus representantes
de intelectualidade acima da média
sempre, e sem exceção, viviam com
povos que tinham um alto nível cultural. Isso vale para Moisés (Egito),
Einstein (Suábia), [...] Spinoza (Holanda-Espanha), Mendelssohn (Alemanha), [...] Mahler (Alemanha)
[...]. Parece que o componente do
povo hospedeiro desempenhou papel decisivo. Desses, parece que o
alemão foi o mais efetivo".
Em um conjunto de 13 páginas
com registros manuscritos em dias
diferentes do ano de 1976, Mengele
chega a dizer que intelectuais de ascendência judaica, como Freud e
Einstein, desenvolveram idéias meramente "especulativas".
Prêmio Nobel
O interesse de Josef Mengele pela
evolução das espécies também foi
suprido pelas experiências do zoólogo austríaco Konrad Lorenz (1903
-1989), um dos pais da moderna etologia, ciência que se dedica ao estudo
comparativo do comportamento
humano e animal e da qual Darwin
foi um dos precursores.
Existe a possibilidade de Mengele e
Lorentz terem se conhecido, já que o
zoólogo esteve nos quadros do partido nazista no início da década de 40.
Entre os 94 livros apreendidos pela
Polícia Federal em 1985, há cinco escritos por Lorenz, além de um recorte de reportagem publicada na Folha
no dia 12 de outubro de 1973, que noticia a vitória do austríaco na disputa
pelo Prêmio Nobel de medicina daquele ano.
(AM e AF)
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