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São Paulo, domingo, 22 de junho de 2003

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+ poema
de Maçal Aquino e Suzana Prizendt

DOIS INCÊNDIOS

A noite está úmida
O tráfego escorre amargo. Lento.
A súbita parada do carro na curva...
Ambos antigos. Gastos.
Qualquer peça quebrada e o caminho a pé
Sem pensar -cigarros- em nada
Na casa ela espera dentro da nova camisola
Aos meus olhos azedos já se convertendo:
-em vaidade
-em teimosa
-em uma descabida queima de dinheiro
Em um convite perfeito a mais um toque rápido
(vício maldito) no velho isqueiro.

Não é apenas a noite que está úmida.
A espera escorre lenta. Doce.
À espera
Com uma camisola e uma notícia,
Ambas novas. Sedutoras.
Passíveis de causar descontrole
Mas a espera azeda e se decompõe
Até se converter:
-em ansiedade
-em cansaço
-em uma raiva descomunal
Em um perfeito combústível para um incêndio
Antes mesmo que ele descubra
Que vai ser pai.


Marçal Aquino é escritor e roteirista, publicou, entre outros, o livro "O Invasor" (Geração Editorial).
Susana Prizendt é artista plástica.



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