São Paulo, Domingo, 23 de Janeiro de 2000


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Em Havana, as colunas agora sustentam ruínas; Pompéia reabitada; nenhuma memória de que foi o cenário encantador da mais apoteótica festa cívica e política jamais havida nestas Américas
Cuba ida e volta

Associated Press
Fidel Castro, Osvaldo Dortico, então presidente de Cuba, e Che Guevarra (da esq. para a dir.) participam em março de 1960 do funeral das vítimas da explosão do barco La Coubre, atribuída pelos cubanos aos EUA


por Janio de Freitas

A Benetton, símbolo mundial da fusão de mau gosto e esperteza capitalista, enfim está na rua da Amargura. Mais precisamente, esquina com Los Oficios. Na fachada, prevenindo suspeitas de falsificação, o nome por inteiro, United Colors of Benetton. Primeira multinacional de comércio, e por ora única, a se instalar em Havana desde que o governo revolucionário levou ao fechamento, voluntário ou forçado, os numerosos magazines, drugstores e lojas de departamento estrangeiros em Cuba, anos 60. Exceção escandalosa entre as Benetton espalhadas mundo afora, suas vitrines são mortiças e quase vazias -como as vitrines das lastimáveis e escassas lojas cubanas-, embora limpas, qualidade incomum em Havana. Na rua da Amargura o conteúdo Benetton não importa. Loja e vitrines foram estrategicamente situadas para sinalizar ao visitante de Cuba a recém-instituída receptividade ao capital estrangeiro e, portanto, a certas práticas capitalistas. Entre a suspensão e a renovação dessa receptividade, 40 anos. Ínfimos para um país, são, no entanto, 40 anos de vida humana. E, para a maioria, o essencial da vida se passa mesmo em uns 40 anos intermediários, o restante são intróitos indispensáveis e epílogos nem tanto. Idéia que não me abandona e me conduz no reencontro com Havana e com a Revolução Cubana. Jovem repórter, fui uma das testemunhas da ocupação de Havana, mal se iniciara o ano de 59, pelos guerrilheiros de Sierra Maestra ali encabeçados pela coluna comandada por Guevara. É um pedaço da História esfumaçado por interesses fortíssimos. Passados 40 anos, volto a Cuba convidado pela Associação de Jornalistas Europeus como palestrante no seu Forum Iberoamericano, desta vez realizado em Havana. Mas não encontro Havana. Foi esse o hotel, sim, aí está ele. Ali o mesmo mar teimoso, surrando com bravura a amurada que o retém no Malecón. Lá está o Capitólio, em sua alvura externa incondizente com a alma dos capitólios, muito menos a daquele, em Washington, ao qual homenageou imitando-lhe as linhas, no começo do século. No entanto, não encontro Havana. O fascínio dos habaneros por colunas levou um dos seus maiores escritores, Alejo Carpentier, a batizar Havana de "Ciudad de las Columnas". Gregas, mouriscas, modernosas, rústicas, os muitos milhares de colunas faziam Havana parecer uma cidade fora do chão, leve no corpo como alegremente leviana no espírito. As colunas agora sustentam ruínas. São ruínas elas mesmas, descascadas, ventre exposto. Declarada Patrimônio da Humanidade, esta cidade que se desmantela, de pequenos prédios escalavrados, feridos, parece uma lembrança multimilenar. Pompéia reabitada. Nenhuma memória de que foi o cenário encantador da mais apoteótica festa cívica e política jamais havida nestas Américas. Cuba, naquele 3 de janeiro de 59, acorrera a Havana para saudar e ouvir o seu herói. Mais de um quinto da população nacional, de 6 milhões, a longa praça repleta de gente sobre gente. Os postes antigos, solenes na sua beleza clássica, mostravam-se como coqueiros de palmas humanas. As árvores carregaram-se de corpos excitados na sua hora de expansão livre e esperançosa, outra vida começando para um país por fazer.

Contribuições americanas
Fidel Castro não era herói recente, feito naqueles dias. Já era o símbolo de oposição e combate à ditadura do general Fulgencio Batista desde 52. No 26 de julho daquele ano, respondeu à suspensão das eleições, decidida pelo general, comandando o ataque de um numeroso grupo de jovens armados ao quartel de Moncada. Luta feroz, mais de cem baixas. Preso, Fidel Castro, bacharel em direito, fez a própria defesa. Sua argumentação final no julgamento, "a história me absolverá", ficaria célebre. Suspensa a pena de 15 anos pela anistia eleitoral de 54, Fidel saiu de um ano e meio de prisão para os Estados Unidos. Começariam lá as ironias e contradições de americanos e de cubanos. A arrecadação de fundos para o projeto de desembarcar um grupo revolucionário em Cuba foi conduzida por Fidel nos Estados Unidos, com as contribuições de exilados da ditadura e, em não menor proporção, de americanos. O desembarque deu-se em 2 de dezembro de 56. Nada saiu como planejado, desastre trágico e quase total. Alertado desde a campanha nada discreta de Fidel nos Estados Unidos ("ainda em 56 serei herói ou mártir", dizia), Batista dispôs de informações suficientes para esperar, com um dispositivo militar bem organizado, na região costeira prevista para a chegada dos expedicionários. Dos 82 que treinaram por um semestre no interior do México e se amontoavam em um pequeno barco, hoje relíquia exposta em Havana, só uma dúzia escapou em grupo para a floresta. O barco não pôde atracar no lugar previsto: teve que ser abandonado, com perda total das armas, munição e alimentos que lotavam o porão. Além disso, o mau tempo atrasou em dois dias o desembarque, e os aliados de Fidel que o esperavam em terra na data planejada, para juntar-se aos expedicionários, ficaram dramaticamente expostos aos soldados e à polícia de Batista.

A "morte" de Fidel
A aventura épica de Sierra Maestra foi, a rigor, um improviso. O planejado era um levante, encabeçado pelos expedicionários, para tomar a Província de Santiago de Cuba, a mais importante depois de Havana, e dali avançar. As circunstâncias se voltaram tanto contra Fidel e seu grupo que foi fácil para a ditadura propagar a notícia de sua morte e da dizimação dos opositores armados. Fidel esteve morto, com atestado de óbito passado pela United Press e pelo embaixador americano Arthur Gardner, de 2 de dezembro de 56 a 25 de fevereiro de 57. Nesse dia, a edição do "New York Times" trouxe, na primeira página, a entrevista inicial da série de três reportagens feita por Herbert Matthews com Fidel Castro, na Sierra Maestra.
Matthews sempre foi jornalista sério, cujo currículo incluía a Guerra Civil espanhola. Um dos poucos repórteres internacionais americanos que não veio a ser profissional do anticomunismo, dele Hemingway disse que "não mente nunca". Nada disso foi bastante para ressuscitar Fidel. Os americanos que dominavam a economia cubana e o Departamento de Estado eram aliados de Batista. Pela primeira vez em suas quatro décadas de jornalismo, Matthews viu-se acusado de forjar uma reportagem. Fazê-la nem fora iniciativa sua, mas do acaso: chegava a Havana com a mulher, para descansar, quando Fidel pediu a amigos o encontro com um jornalista americano de alto conceito. Só um filmeco de TV acabou com as dúvidas interessadas. Ainda assim, a progressão da guerrilha foi mais do que parcimoniosa e distorcida.
No dia 31 de dezembro de 58, Batista aproveitou-se da distração geral e fugiu de Cuba, deixando em seu lugar um general cauteloso. Decorridos dois anos e um mês desde sua volta conturbada a Cuba, Fidel Castro podia entrar em Havana e discursava pela primeira vez como vitorioso, nesta imensa praça que revejo emoldurada por um casario que bem resistira ao tempo, mas não ao descuido arruinante. "El bloqueo, compañero." Não é o que meus olhos obrigam a deduzir. A cena que repasso na memória é muito impressionante, na conjunção rara de monumentalidade física, de grandiosidade emocional e dos componentes ainda mais incomuns. Aquelas figuras barbudas no palanque, em indumentária de campanha, todos mostrando nos rostos a dificuldade de sentir-se no mundo real, e não em sonho. A voz juvenil e desafinada de Fidel se projeta sobre incontáveis milhares de silêncios. Quem já vagou pelo mar sabe o que é um silêncio oceânico, e era esse.

Uma ilha de liberdade
A oratória de Fidel é espantosamente peculiar. Nada da grandiloquência com que nos sufocam os oradores latino-americanos. Coloquial, empenha-se mais em convencer do que empolgar, mais em se mostrar confiável do que retórico. O tema é empolgante por si, e a multidão faz suas explosões nos parágrafos. Fidel perpassa a ditadura. Narra a epopéia guerrilheira de Sierra Maestra. E se lança no futuro radiante de Cuba: uma ilha de liberdade, respeito integral aos direitos civis, justiça, igualdade, honradez governamental, democracia constitucional, autêntica e plena. Cada ponto esmiuçado e explicado como algo palpável, concretamente à vista e à mão. Um projeto mais revolucionário do que a própria ação guerrilheira por ele liderada.
Qualquer um podia perceber que era um homem orando suas crenças mais enraizadas. Como sempre, cada um viu e ouviu ali o que pôde, o que quis ou lhe interessava. As agências de notícias e a mídia americana, sob venenosa ressaca desde a subida do Sputnik em 57, retomaram o refrão iniciado quando Herbert Matthews ouviu Fidel em Sierra Maestra. Em síntese: sob o disfarce da luta contra a ditadura e pela democracia, Fidel e seu Movimento 26 de Julho eram comunistas, perigosos como todos os comunistas. Na praça, fosse no palanque ou na multidão, não fora visto um só símbolo comunista. Claro. O Partido Comunista, assim como ficara contra o ataque a Moncada, ficou contra o plano de insurreição em Santiago de Cuba e contra a guerrilha.
Uma das definições da linha partidária, na época, dizia: "Consideramos que esse grupo tem boas intenções, mas está seguindo táticas erradas. Por isso não aprovamos suas ações, (...) o que Cuba precisa não é uma insurreição popular, são eleições democráticas" e "um governo de Frente Democrática de Libertação Nacional". Era a linha comum aos partidos comunistas na América Latina.
Os comunistas cubanos foram dos que mais esticaram a linha: a convivência pacífica entre Batista e o Partido Comunista foi por este retribuída com a adesão explícita e ativa ao ditador, em um momento de alta voltagem política e social. Os comunistas combateram a greve geral com que o movimento de democratização desejava parar Cuba, em abril de 58, até a queda da ditadura. Os cubanos estavam exaltados e decididos, ainda sob a comoção com um acontecimento de menos de um mês antes. Enquanto o Diretório Estudantil mantinha outra guerrilha contra Batista, na Sierra de Escambray, os líderes da Federação de Estudantes Universitários idealizaram ação mais direta e rápida para extinguir a ditadura. Batista escapou por muito pouco do assalto espetacular, em 13 de março, ao seu palácio. Cuba tornara-se uma fogueira oposicionista, à qual nem mais a alta burguesia negava colaboração, por intermédio de setores não ligados ao capital externo.

O arrogante e o atrevido
No dia seguinte ao discurso em praça pública foi a vez dos jornalistas. Ou porque a platéia fosse mais apropriada, ou pelo mau tratamento da mídia estrangeira ao seu discurso da véspera, Fidel dedicou a dois temas quase toda a sua primeira grande entrevista -e seu primeiro recorde no gênero, ainda de modestas quatro horas (tive a sorte de me sentar bem à frente dele, do que resultou uma série de fotos até hoje inédita, com uma exceção que, por acaso, recebeu um reconhecimento internacional). Eram jornalistas de todas as partes, e diante deles Fidel entrou nas duas guerras em que atravessou os últimos 40 anos.
O que Guevara tinha de arrogante (a arrogância argentina multiplicada pelo prestígio de herói guerrilheiro), Fidel tem de atrevido. Com humor, com fúria, com informações, com emoção, alternadas com maestria, desnudou, desancou, tripudiou, desacatou o governo dos Estados Unidos. Dera armamentos e assessores militares a Batista, para combater os que lutavam pela democracia; induzira os ingleses a dar até jatos a Batista; acionara sua máquina de propaganda para proteger a ditadura com falsidades -e estava derrotado, pedindo audiência e fazendo ofertas aos vencedores. Pois bem, a junta militar americana estava sendo mandada para fora. Como indesejável. O pessoal da CIA e os diplomatas comprometidos, idem. Dali por diante, relações de absoluta soberania.
Na exposição de Fidel, nenhuma palavra escolhida política ou diplomaticamente, nenhuma expressão que não fosse de superioridade. Salvo para distinguir o povo americano e o poder nos Estados Unidos. Seria o suficiente, mas não era tudo. Fidel comunicou que logo se iniciariam as desapropriações de certos tipos de empresas e a interdição de várias atividades. Americanos controlavam a economia e as finanças públicas de Cuba, por dominarem os dois setores vitais: do cultivo da cana à exportação do açúcar e o cultivo e a indústria do fumo. Os cassinos, os bordéis de luxo, a prostituição para o turismo sexual, as grandes casas noturnas pertenciam a uma máfia americana, cujos chefões eram pessoas influentes como o ator George Raft, especialista em papéis de gângster até no cinema. Para a quase-escravidão dos 40% de cubanos trabalhando no campo, viria logo a reforma agrária. Nas cidades, a reforma imobiliária acabaria com a indústria dos aluguéis. Proibição do jogo, penas altíssimas para a exploração sexual, amplos direitos trabalhistas na empresa privada, controle do sistema bancário, prioridade para cooperativas e dissolução das forças armadas que sustentaram a ditadura. O regime? Socialista, sim. Como desde os primeiros documentos do Movimento 26 de Julho ficara afirmado ("A revolução será democrática, nacionalista e socialista"). Como Fidel Castro dissera e o "New York Times" publicara já na sua primeira entrevista, em Sierra Maestra. Nem social-democracia, nem comunismo. Democracia socialista. Aí estavam a fonte do ódio à Revolução Cubana, por parte dos grandes capitalistas locais e americanos, e o seu atrativo para os críticos do "capitalismo selvagem". A idéia-chave da propaganda americana contra a União Soviética, no quadro da Guerra Fria, era a falta de liberdade política, econômica e cultural no regime soviético. Um regime que realizasse a democracia social e econômica com liberdade política e cultural, e logo ali na cara da Flórida, exemplo desastroso para o império ocidental dos Estados Unidos. Em particular, nesses domínios, sobre o imenso e rico território latino-americano. Mesmo que inexistisse o problema externo, a meta cubana era de complexidade enorme. Desenvolver a revolução social mantendo a plenitude dos direitos civis exigiria uma infinidade de soluções ainda por serem inventadas. Nem as probabilidades históricas favoreciam tal propósito. As circunstâncias, na época, tinham componentes favoráveis, mas, a rigor, tudo era incógnita. Pelas dificuldades do projeto, como por suas implicações. A reação americana ao programa e às primeiras medidas revolucionárias foi dúplice. Não a testemunhei em Cuba, testemunhei-a na tarefa de fazer a cada dia um jornal carioca que, de repente o mais importante do país, era também o alvo principal de todas pressões. É inacreditável, hoje, que ainda na década de 60 publicar em primeira página, por exemplo, a foto da primeira ida de um chefe de governo soviético à ONU, no caso, Kruschev, provocasse acusações de propagandismo comunista e pressões para demissão do editor. Originadas do então cardeal do Rio e da Federação das Indústrias, Associação Comercial, Federação ou Sindicato dos Bancos, certos dirigentes publicitários e outros guardiães do subdesenvolvimento colonialista do Brasil. Os mafiosos americanos da noite e da prostituição, fechados os seus negócios, montaram rico sistema de campanha contra "o comunismo de Cuba", com a pronta adesão dos controladores do açúcar e do fumo. Como seus dólares não tinham limites, a ação não teve fronteiras. Invadiu instituições como a Organização dos Estados Americanos e a Sociedade Interamericana de Imprensa, entre outras que se puseram como subsidiárias da CIA.

Chefia total
O governo americano não faltou com apoio àquela ação, mas, na condição de governo propriamente, estava aturdido. Não achava resposta respeitável para as evidências de que as medidas revolucionárias agiam contra negócios sórdidos e contra a exploração desumana de quase metade dos cubanos na agroindústria. Mas o Poder americano é a deformação frankensteiniana, pela riqueza privada com qualquer origem, dos ideais fundadores dos Estados Unidos. Não fugiria ao destino programado. Em sua única tentativa de dirimir o confronto, Fidel viajou aos Estados Unidos para explicar na ONU a Revolução Cubana e, pelos meios de comunicação, convencer os americanos de que Cuba não era comunista, mas uma democracia socialista. Se alguém se convenceu com os sólidos argumentos de Fidel, os meios de comunicação cuidaram de desconvencê-lo nos meses seguintes. O propósito democrático não era farsa. Na reorganização institucional de Cuba, a presidência foi entregue ao ex-juiz Manuel Urrutia, que enfrentara Batista. O advogado Miró Cardona tornou-se primeiro-ministro. A composição era difícil, porém. De uma parte, a verdadeira liderança depositava-se em Fidel, voz e medida de toda a revolução. De outra, os dois empossados, homens do direito formal, não se conciliavam com a natureza revolucionária do seu poder. Não tardou que entregassem a Fidel os cargos e a chefia total do governo. Talvez fosse a única saída para o impasse, mas não a solução. As dissensões se agravaram entre os revolucionários. A concentração do poder em Fidel Castro deu ao governo americano um tema fértil: a cobrança de eleições em Cuba. Era a "razão moral" desejada pelos Estados Unidos para desenvolver ações também econômicas, além das políticas, contra Cuba. A tudo, no plano externo como no interno, Fidel respondeu de maneira cada vez mais extremada. Em relação aos Estados Unidos, cada ato considerado agressivo recebeu uma retaliação, aplicada contra algum bem americano em Cuba. A extremização sem saída já foi explicada pela falta de duas cabeças menos impulsivas ao lado do impetuoso e irado Fidel. A de Frank Pais, morto pela polícia de Batista em uma de suas descidas da Sierra Maestra. Frank Pais -e não Guevara, como a lenda faz supor- era o segundo na hierarquia dos revolucionários. A ele se seguia, no nível também de Raul Castro, o outro dos mortos prematuros, Camilo Cienfuegos, vitimado em desastre de avião já no regime revolucionário. Cuba agiu com os Estados Unidos como se pudesse fazê-lo de potência para potência. A tática inviável na estratégia impossível. Fidel e a cúpula cubana pareciam esquecidos de que eram guerrilheiros, esquecidos da guerrilha como concepção, mesmo que só política, de luta contra adversário mais poderoso.

A URSS e o desaforo cubano
Os Estados Unidos aproveitaram esse tempo de retaliações mútuas para armar o golpe que consideravam fatal. Cuba foi o fornecedor secular de açúcar e fumo para os americanos. Desde os primeiros meses da revolução, porém, a importação se reduzia. Os americanos articulavam-se com novos fornecedores, entre os quais os brasileiros tomados de euforia com as perspectivas de lucro. A Guerra Fria estimulou a União Soviética a tornar-se compradora do açúcar cubano, mas sem absorver todo o excedente, e fornecedora de gêneros antes provenientes dos Estados Unidos. E então, julho de 60, ano e meio de governo revolucionário, os americanos cortaram a cota de importação do açúcar cubano, no acordo de divisão do mercado internacional.
A União Soviética resolveu bancar o desaforo cubano de sobreviver. Aumentou as compras e o fornecimento, proporcionou mais armas para a defesa de Cuba contra as ininterruptas investidas preparadas pela CIA, com o uso de bem pagos exilados cubanos. A colaboração da URSS, e só ela, enfim abriu aos comunistas o convívio com Fidel e o governo revolucionário.
Os comunistas não foram admitidos na formação do governo, antes nem depois da concentração do poder em Fidel, e seus esforços para apagar a oposição aos revolucionários de Sierra Maestra, como aos outros movimentos contra Batista, não obtinham resultado.


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