|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Ponto de Fuga
Jardins de delícias
Cada traço de Visconti, retomando nas curvas art nouveau as formas da natureza, tem vida; nenhum é inerte ou indiferente, são como veias, que palpitam
de uma vibração calorosa
|
JORGE COLI
COLUNISTA DA FOLHA
Quem não foi ver, corra,
porque termina no dia
7 de dezembro. É a exposição "Eliseu Visconti - Arte
e Design". Visconti, gigante da
pintura, foi ainda formidável
decorador. As grandes superfícies que recobriu em edifícios
públicos do Rio de Janeiro, em
particular no Teatro Municipal, têm, por várias razões, um
lugar excepcional nas artes
brasileiras: estão, na mostra, os
esboços preparatórios.
Visconti também fez estudos
para cartazes, vinhetas, tecidos, cerâmicas. Isso tudo, mais
alguns vasos, potes, xícaras em
porcelana, maravilhosos, foi
reunido na Pinacoteca do Estado (São Paulo): uma exposição
impecável que veio do Rio.
A importância histórica da
coleção, em grande parte emprestada pela família do pintor,
é enorme. Mas não se trata
apenas de erudição nem Visconti é só um pioneiro ou um
elo com os modernos.
Arabesco
Cada traço de Visconti, retomando nas curvas art nouveau
as formas da natureza, tem vida. Nenhum é inerte ou indiferente. São como veias, que palpitam de uma vibração calorosa. As cores irisadas se combinam, intensificando-se umas às
outras, expressivas e delicadas.
As salas da Pinacoteca que
pertencerão ainda a Visconti
por pouco tempo estão banhadas por penumbra artificial e
protetora. Oferecem ao espectador um paraíso raro no qual a
natureza parece ter reinventado, com imaginação humana,
suas flores, suas lianas, suas
mulheres.
Angustura
As grandes xilos de Maria Bonomi expandem as formas em
perfeito equilíbrio, mas habitadas por uma enérgica violência.
São esplêndidas; irradiam-se,
amplas, ocupando o espaço. A
elas acrescentam-se as matrizes, na verdade estupendas e
poderosas esculturas.
Os moldes para as prensagens no cimento também, por
si só, afirmam-se como verdadeiras obras.
A concepção da mostra consagrada à imensa artista, na Pinacoteca do Estado, é, porém,
angustiada, estreita, comprimindo o espaço, saturando-o
de textos pintados nas paredes
e de vídeos, acuando a irradiação das obras, que necessitam
amplidão.
Pelúcia
Como é bom um filme sem-vergonha, sobretudo na ressaca
de tantos festivais cabeça. Em
"A Casa das Coelhinhas" ("The
House Bunny", 2008), há uma
frase imortal: "Os olhos são os
mamilos do rosto".
Dentro do cinema norte-americano, as comédias universitárias constituem um autêntico gênero. Seu traço principal é a hierarquia entre os jovens bonitos, ricos, populares,
vaidosos, e os nerds, freaks, bizarros e tímidos, que acabam
sempre invertendo a situação e
vencendo no final.
Os clubes de estudantes nas
grandes universidades, as "fraternities" e "sororities", têm a
obrigação do prestígio. A seleção é determinada pelas qualidades de cada membro, e também pelo alto custo das anuidades. Se algum aluno sem grande
fortuna é escolhido por uma
delas, fará sacrifícios financeiros para pagar os custos.
A razão é que se formam laços entre esses jovens prometidos a carreiras relevantes, laços
muito úteis no futuro.
As "frat-house comedies" ridicularizam, pelo velho riso
americano que opõe o mundo
popular à alta sociedade, como
nos filmes dos irmãos Marx, e
desmascaram o esnobismo interesseiro.
Fred Wolf, o diretor (também roteirista de "Saturday
Night Live"), mostra uma deliciosa loira, coelhinha da Playboy que cai em desgraça e ensina um bando de meninas desengonçadas a tornarem-se desejáveis. A maluquice do filme,
o tom caricatural, não impedem uma delicadeza certeira.
jorgecoli@uol.com.br
Texto Anterior: Os Dez + Próximo Texto: Discoteca Básica: Pérola Negra Índice
|