São Paulo, domingo, 23 de novembro de 2008

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Ponto de Fuga

Jardins de delícias


Cada traço de Visconti, retomando nas curvas art nouveau as formas da natureza, tem vida; nenhum é inerte ou indiferente, são como veias, que palpitam de uma vibração calorosa

JORGE COLI
COLUNISTA DA FOLHA

Quem não foi ver, corra, porque termina no dia 7 de dezembro. É a exposição "Eliseu Visconti - Arte e Design". Visconti, gigante da pintura, foi ainda formidável decorador. As grandes superfícies que recobriu em edifícios públicos do Rio de Janeiro, em particular no Teatro Municipal, têm, por várias razões, um lugar excepcional nas artes brasileiras: estão, na mostra, os esboços preparatórios.
Visconti também fez estudos para cartazes, vinhetas, tecidos, cerâmicas. Isso tudo, mais alguns vasos, potes, xícaras em porcelana, maravilhosos, foi reunido na Pinacoteca do Estado (São Paulo): uma exposição impecável que veio do Rio.
A importância histórica da coleção, em grande parte emprestada pela família do pintor, é enorme. Mas não se trata apenas de erudição nem Visconti é só um pioneiro ou um elo com os modernos.

Arabesco
Cada traço de Visconti, retomando nas curvas art nouveau as formas da natureza, tem vida. Nenhum é inerte ou indiferente. São como veias, que palpitam de uma vibração calorosa. As cores irisadas se combinam, intensificando-se umas às outras, expressivas e delicadas.
As salas da Pinacoteca que pertencerão ainda a Visconti por pouco tempo estão banhadas por penumbra artificial e protetora. Oferecem ao espectador um paraíso raro no qual a natureza parece ter reinventado, com imaginação humana, suas flores, suas lianas, suas mulheres.

Angustura
As grandes xilos de Maria Bonomi expandem as formas em perfeito equilíbrio, mas habitadas por uma enérgica violência. São esplêndidas; irradiam-se, amplas, ocupando o espaço. A elas acrescentam-se as matrizes, na verdade estupendas e poderosas esculturas.
Os moldes para as prensagens no cimento também, por si só, afirmam-se como verdadeiras obras. A concepção da mostra consagrada à imensa artista, na Pinacoteca do Estado, é, porém, angustiada, estreita, comprimindo o espaço, saturando-o de textos pintados nas paredes e de vídeos, acuando a irradiação das obras, que necessitam amplidão.

Pelúcia
Como é bom um filme sem-vergonha, sobretudo na ressaca de tantos festivais cabeça. Em "A Casa das Coelhinhas" ("The House Bunny", 2008), há uma frase imortal: "Os olhos são os mamilos do rosto".
Dentro do cinema norte-americano, as comédias universitárias constituem um autêntico gênero. Seu traço principal é a hierarquia entre os jovens bonitos, ricos, populares, vaidosos, e os nerds, freaks, bizarros e tímidos, que acabam sempre invertendo a situação e vencendo no final.
Os clubes de estudantes nas grandes universidades, as "fraternities" e "sororities", têm a obrigação do prestígio. A seleção é determinada pelas qualidades de cada membro, e também pelo alto custo das anuidades. Se algum aluno sem grande fortuna é escolhido por uma delas, fará sacrifícios financeiros para pagar os custos.
A razão é que se formam laços entre esses jovens prometidos a carreiras relevantes, laços muito úteis no futuro.
As "frat-house comedies" ridicularizam, pelo velho riso americano que opõe o mundo popular à alta sociedade, como nos filmes dos irmãos Marx, e desmascaram o esnobismo interesseiro.
Fred Wolf, o diretor (também roteirista de "Saturday Night Live"), mostra uma deliciosa loira, coelhinha da Playboy que cai em desgraça e ensina um bando de meninas desengonçadas a tornarem-se desejáveis. A maluquice do filme, o tom caricatural, não impedem uma delicadeza certeira.


jorgecoli@uol.com.br


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