São Paulo, domingo, 24 de junho de 2001

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Beleza é fundamental

Caetano Ernesto Plastino
especial para a Folha

O que é uma explicação científica? Que tipo de compreensão do mundo ela nos traz? Podemos dizer, em muitos casos, que uma explicação consiste em uma resposta à questão "por quê?". No caso da explicação científica, essa resposta baseia-se no conhecimento científico disponível. Queremos descrever adequadamente fatos ou regularidades da natureza (por exemplo, o movimento das marés), mas também queremos saber por que ocorrem e esperamos da ciência uma resposta satisfatória.
Quanto ao tipo de compreensão proporcionado pelas explicações científicas, Wesley Salmon distingue duas tendências. De um lado, considera-se que a explicação se dá mediante a identificação das causas ou a descoberta dos mecanismos subjacentes pelos quais a natureza opera e que resultam nos fenômenos que tencionamos compreender. É o caso, por exemplo, quando se explicam os eventos associados a um desastre nuclear a partir da análise do que acontece com os átomos e com as partículas subatômicas.
De outro lado, entende-se que a unificação é um objetivo central da explicação científica. Compreende-se melhor o mundo quando as explicações dizem respeito à sua estrutura, quando se mostra que situações aparentemente diversas podem ser sistematizadas e subsumidas sob um pequeno número de princípios independentes. Foi o que sucedeu, por exemplo, com a unificação da eletricidade e do magnetismo no século 19. Importa, no caso, o caráter global da explicação.
Assim, uma vez descobertas algumas leis gerais da natureza, podemos tentar explicá-las, mostrando que elas são deduzidas a partir de outros princípios mais fundamentais. No limite, podemos perguntar, como faz Steven Weinberg, se há um ponto para o qual todas as explicações científicas convergem, ou seja, se há uma teoria final unificada, cujos princípios não podem ser explicados por outros mais fundamentais.
Na física, cientistas como Albert Einstein esforçaram-se para realizar o projeto de unificar todas as quatro forças da natureza: a gravitacional, a eletromagnética, a nuclear forte e a nuclear fraca. O próprio Weinberg contribuiu decisivamente nesse sentido, sendo um dos principais responsáveis pela unificação do eletromagnetismo com a força nuclear fraca. As recentes teorias das supercordas representam outro passo importante na busca da grande unificação.
Em "Sonhos de uma Teoria Final" (Rocco), Weinberg sugere que, embora a ciência contemporânea seja incompleta e tenha validade limitada, talvez não se encontre tão distante de uma teoria final.


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