São Paulo, domingo, 25 de julho de 2004

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"Ele dizia: o bom Deus fez o mundo como deve ser, e nós, decerto não podemos fazê-lo melhor; nosso único esforço deve ser o de copiá-lo um pouco. Eu exijo que haja sempre em tudo vida, possibilidade de existência, e aí está bem; não é necessário então perguntar se é belo ou feio, o sentimento de que aquilo que foi criado tem vida, está acima de ambos e é o único critério na arte. Aliás, ele se nos depara raramente, em Shakespeare encontramo-lo e nas canções populares soa por inteiro, em Goethe de vez em quando. Todo o resto pode ser jogado no fogo. As pessoas também não sabem desenhar uma casa de cachorro. Querem figuras idealistas, mas tudo o que delas vi são bonecos de pau. Esse idealismo é o mais vergonhoso desprezo da natureza humana. Seria preciso experimentá-lo alguma vez e mergulhar na vida das criaturas mais ínfimas e reproduzi-la em seus espasmos, em suas insinuações, todo esse fino, quase imperceptível, jogo de expressões faciais." ("Lenz")

"Estou estudando a história da Revolução. Sinto-me como que aniquilado pelo medonho fatalismo da história. Encontro na natureza humana uma terrível uniformidade; nas relações humanas, uma inelutável violência, conferida a todos e a ninguém. O indivíduo é apenas espuma sobre a onda; a grandeza, mera coincidência o domínio do gênio, um teatro de títeres, uma luta ridícula contra uma lei de bronze; reconhecê-lo é o supra-sumo, dominá-lo é impossível. (...) Acostumo meus olhos ao sangue. Mas não sou lâmina de guilhotina. O deve é uma das palavras malditas com as quais o homem foi batizado." (Georg Büchner, "Carta à Noiva", Giessen, depois de 10 de março de 1834)

Trechos tirados de "Büchner - Obra Completa".


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