São Paulo, Domingo, 25 de Julho de 1999
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Laboratório de famílias

da Equipe de Articulistas

A idéia de que já é possível "criar" famílias ("creating families") ou gerações ("growing generations") em laboratório é a tônica dos anúncios de clínicas de fertilidade e empresas de gestação de substituição (aluguel de barriga) nos Estados Unidos.
A homepage da clínica Babies-by-Levin na Internet (http://www.babies-by-levin.com), do médico americano Richard Levin, anuncia com estardalhaço, numa tela animada em que espermatozóides rapidinhos penetram óvulos cor-de-rosa, todas as vantagens que casais não férteis encontrarão ali para resolver seus problemas de infertilidade. A homepage é um verdadeiro outdoor de propaganda, que transforma em logomarca o letreiro "babies-by-Levin" (bebês feitos por Levin).
Em entrevista à Folha por e-mail, Steven C. Litz, diretor da clínica Surrogate Mothers Inc. resume o espírito da coisa: "Nós ajudamos casais desde 1984 e somos a maior organização no mundo nessa área. Nunca tivemos um único caso de mulher doadora de útero que tenha mudado de idéia durante o processo. E não temos nenhum tipo de discriminação contra clientes baseada em raça, estado civil ou orientação sexual. Tivemos até hoje 140 bebês nascidos por aluguel de útero e temos atualmente 55 casais que escolheram a gravidez por esse método e estão esperando bebês. Desse total de 140, 35 nascimentos foram de casais gays. Os demais, de casais não férteis ou de solteiros".
Gail Taylor, fundadora e presidente da clínica Growing Generations (http://www.growinggenerations.com), em Beverly Hills (Califórnia), lésbica e mãe de uma menina por inseminação artificial, diz, na entrevista a seguir, feita por e-mail, não acreditar que o processo de geração de uma criança afete o conceito de família, mas acha antiética a idéia da invenção de um útero artificial, onde a criança fosse gestada sem "o acalento de um outro ser humano enquanto ela está sendo gerada para a vida".

Folha - Qual a técnica de reprodução mais escolhida por mulheres lésbicas na clínica?
Gail Taylor -
A maioria das lésbicas não usa a barriga de aluguel. Cada vez mais casais de lésbicas estão trabalhando juntas para criar uma gravidez com o óvulo/ embrião de uma delas a ser gestado pela parceira.

Folha - Há toda uma geração de bebês nascendo por meio de técnicas de inseminação alternativa. Em que medida isso pode alterar o conceito de maternidade e família?
Taylor -
Eu acho que a reprodução assistida e o aluguel de útero ajudam as pessoas a criar famílias de uma maneira única e diferente. A sociedade concentra seu interesse na ligação biológica e frequentemente tem ideais estreitos e predeterminados sobre o que é um pai ou uma família.

Folha - Os casais que procuram sua clínica têm algum tipo de questionamento ético?
Taylor -
Muitos casais gays que escolhem ser pais ou mães são sempre questionados quanto ao porquê de sua decisão. Mas a maioria dos casais heterossexuais não é. Imagine como seria o nosso mundo se houvesse uma avaliação prévia de qualquer ser humano antes de ele ser considerado qualificado para ser pai ou mãe. As crianças do mundo todo passariam por muito menos sofrimento e abusos. Uma vida de amor, dedicação, alegria e apoio é o elemento chave para se criar uma família. (MF)


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