São Paulo, domingo, 26 de maio de 2002

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Washington Olivetto

Reprodução
O atacante do Barcelona Stoichkov chuta contra o gol da Sampdoria na final da Copa dos Campeões, em 1992


Meu gol inesquecível numa Copa °do Mundo não foi um. Foram quatro. Todos de Mané Garrincha, em 1962, no Mundial do Chile.
Naquele ano, eu ia completar 11 anos, a idade em que os homens gostam de futebol mais do que nunca. Aos 11 anos, você ainda pensa pouco em mulher e nada em trabalho. O futebol ocupa a maior parte do seu tempo e o maior espaço da sua cabeça.
Sozinho, naquele momento, eu era uma comitiva de Jucas Kfouris.
Vi, isso mesmo, tenho certeza de que vi o Mundial de 62 e os gols de Garrincha pelo rádio e tive a confirmação de tudo pelo videoteipe.
O Mundial começou com um 2 a 0 do Brasil em cima do México, gols de Pelé e Zagalo, e continuou com um 0 a 0 no Brasil x Tchecoslováquia.
Nesse jogo, o Brasil perdeu Pelé -e eu, parte das minhas esperanças.
Veio o terceiro jogo, contra a Espanha, e o meu desespero aumentou até os 40 minutos do segundo tempo, quando Garrincha deu dois gols pro Amarildo fazer e aquele 1 a 0 pra eles acabou virando 2 a 1 pra nós.
No jogo contra a Inglaterra, Garrincha fez dois dos meus quatro gols inesquecíveis.
E, na semifinal, contra o Chile, repetiu a dose, acrescentando um hilariante chute na bunda do lateral chileno Rojas, que insistia em tentar marcar Garrincha na base dos pontapés e agarrões.
Veio a final, metemos 3 a 1 na Tchecoslováquia e fomos campeões.
Detalhe: dois dos meus quatro gols inesquecíveis foram de cabeça, coisa que o Mané nunca tinha feito nem voltou a fazer, um de falta, sendo que ele nunca batia faltas, e o outro com a perna esquerda, a perna que normalmente ele não usava nem precisava usar.
Mané Garrincha foi um dos três únicos jogadores de futebol do planeta que ganharam um Mundial sozinhos. Os outros foram Maradona, em 1986, e Romário, em 1994. De Maradona, gosto principalmente dos gols contra a Inglaterra, incluindo aquele com a "mão de Deus". E de Romário gosto, mais do que tudo, do gol de cabeça contra a Suécia e daquela tirada de corpo no jogo contra a Holanda que possibilitou o gol de Branco. São jogadas assim que fazem os meninos de 11 anos gostar de futebol para sempre.

Washington Olivetto é publicitário, diretor de criação da agência W/Brasil.


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