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Alta cultura em um mundo sitiado
FILÓSOFO ROGER SCRUTON ATACA "ICONOCLASTIA" CONTEMPORÂNEA E DEFENDE ELITIZAÇÃO
DO ENSINO EM NOVO LIVRO
JOHN LLOYD
O maior valor do livro de Roger Scruton ["Culture
Counts - Faith and
Feeling in a World
Besieged", A Cultura Importa
-Fé e Sentimento em um Mundo Sitiado, Encounter Books,
136 págs., US$ 20, R$ 40] é dirigir nossas mentes para o valor
e o objetivo da cultura -e testemunhar ao mesmo tempo
sua fragilidade e sua força.
Ela é frágil porque, como
Scruton nos lembra constantemente, a perda da dedicação a
servi-la, passada de uma geração à seguinte, pode fazê-la se
degradar com facilidade e até
se perder: uma situação que,
ele acredita, aconteceu com a
maior parte da outrora refulgente cultura islâmica. Ela é
forte porque, ao assumir, para
muitos, o lugar da religião, deve
suportar grande parte da carga
de nos ensinar a viver.
Scruton argumenta contra o
ensino "centrado na criança"
-uma abordagem que ele vê
como descobrir o que as crianças aceitarão com maior facilidade e dar isso a elas.
Descobrir os mais aptos
Ele defende uma tese diferente, de não servir à criança,
mas servir à cultura: isso é o
mais essencial, pois "está claro
que entramos num período de
rápido declínio educacional,
em que algumas pessoas aprendem maciçamente, mas as massas não aprendem absolutamente nada".
Portanto, a tarefa do professor é descobrir quais são os
mais aptos a transmitir a cultura e garantir que o façam.
Seu argumento, então, é explicitamente a favor da criação
e recriação de uma elite, pois
somente por meio de um corpo
seleto de homens e mulheres as
sociedades serão capazes de
preservar e elevar sua cultura.
Essas elites devem ter uma
certa medida -intelectual e
moral- do que lhes é ensinado
e do que elas, por sua vez, transmitem.
Seus inimigos, portanto, incluem conhecidas figuras odiadas pelos conservadores (e, hoje, não apenas por eles) como Michel Foucault, Jacques Derrida e Edward Said, que se instituíram como sacerdotes modernos por meio de "atos de sacrilégio e iconoclastia" para
criar "uma cultura do repúdio"
-baseada na noção, popularizada por Michel Foucault, de
que todo o conhecimento, toda
a cultura, é meramente um
conjunto de máscaras ideológicas para o poder.
Ao contrário dessa visão,
Scruton escreve que a cultura
ocidental é "nosso mais elevado
recurso moral em um mundo
onde o sentimento está em
constante risco de se perder".
Raios de esperança
Embora muito disso seja pessimista, ele conclui com uma
seção chamada "Raios de Esperança". Aqui estão incluídos
textos de autores como [o dramaturgo] Tom Stoppard, [e os
escritores] Ian McEwan e
(mais surpreendente) Michel
Houellebecq; a virada em direção à música tonal, afastando-se das composições inescutáveis do Arnold Schoenberg [1874-1951] tardio; e o retorno à
pintura figurativa.
Acho que grande parte disso
está certo, mas hesito diante de
algumas de suas conclusões.
É difícil ver uma decadência
fundamental em um mundo
(ocidental) onde se lêem mais
livros, incluindo clássicos, que
nunca, mais peças de teatro são
produzidas e vistas, se escutam
mais músicas clássica e lírica e
se abrem mais galerias para
mais pessoas.
Quando ele escreve que a
classe trabalhadora "foi varrida
de suas ruas conviviais para ser
empilhada em blocos de torres
higiênicas", esquece ou não sabe que milhões de famílias no
pós-guerra sonhavam ter um
apartamento num conjunto
habitacional, principalmente
porque eram higiênicos.
Este texto foi publicado no "Financial Times".
Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves .
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