São Paulo, Domingo, 26 de Dezembro de 1999


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OS NOVOS DEZ MANDAMENTOS

Robert Darnton


O decálogo do historiador
1. Não cometerás anacronismo. Os historiadores
caem com facilidade na suposição de que seu
modo de pensar coincide com o das gerações
passadas. O raciocínio voltado para a cultura é
perigoso em qualquer situação da vida,
especialmente nesta era de mundialização.
2. Não confundirás fato com ficção. Jamais
invente acontecimentos, incluindo atos, idéias
e sentimentos, de que não existam provas. Não
se deixe dissuadir da pesquisa rigorosa pelas
teorias de que todo conhecimento envolve
elaborações mentais e figuras de retórica.
3. Não sucumbirás ao monografismo. Escreve
monografias, se for o caso, mas escreve para o
cidadão comum, de maneira que possam ser
compreendidas.
4. Não esquecerás tua missão. Trata-se de dar
sentido à condição humana, explicando as
experiências vividas pelos seres humanos -e
não marcar pontos entre os colegas acadêmicos.
5. Não te levarás muito a sério. Os historiadores
são cidadãos como quaisquer outros e não
devem subir em pedestais. O pedestalismo é
uma doença diagnosticada pela primeira vez
por James Thurber. Ela se propaga com
facilidade entre as gerações mais velhas, que
costumam deplorar o rebaixamento dos
padrões entre a juventude.
6. Não serás "moderno". Algumas novas modas
são boas, mas a maioria encerra o perigo da
preguiça intelectual. Desconfia especialmente
de tendências ligadas a prefixos, como
pós-modernismo e neoconservadorismo.
7. Não esquecerás o nome de teus alunos. Todos
nós já fomos estudantes e sabemos o que é
sentir-se perdido na multidão.
8. Não usarás mesóclise, voz passiva e orações
subordinadas subjetivas, nem abusarás do
verbo "ser", de aliterações (exceto em casos
extremos), trocadilhos, expressões estrangeiras,
substantivos terminados em "ção"; tampouco
pensarás que o leitor é menos inteligente que tu.
9. Não invejarás teu colega, nem o talento de teu
colega, sua fama, influência ou rendimento. É
melhor escrever mais uma monografia.
10. Não cederás à tentação de escrever com
frequência textos de opinião geral, como este.


Robert Darnton é historiador e professor da Universidade de Princeton (EUA), autor, entre outros, de "O Grande Massacre dos Gatos" (Graal), "Edição e Sedição" e "Boemia Literária e Revolução" (ambos pela Companhia das Letras).
Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves.


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