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Afinal, por que ler nas férias?
IVO BARROSO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Quando minha mulher me viu enfiar
o suspeito embrulho na mala do carro, foi logo perguntando: "Que é isto? Não vai
dizer que está levando livros
para ler nas férias?!"
O espanto era natural: ela
não podia admitir que alguém,
que passa o ano inteiro metido
nos livros, os carregasse para a
montanha ou a praia, onde o
ideal seria quebrar essa rotina
de ler e de escrever.
Explico que a leitura das férias é totalmente diversa da
que fazemos por dever de ofício. São férias de leitura essas
leituras das férias; nelas saboreamos de novo o prazer de ler
sem compromisso, numa boa,
por mera distração.
Leitura e lazer
Rodeado de verde ou embaixo de um para-sol, a leitura se
torna tão agradável e menos
cansativa do que as caminhadas pelo mato e as braçadas na
piscina.
Não que uma coisa vá impedir a outra, pois as férias nos
permitem saborear esse coquetel de ação e meditação: exercício muscular e repouso mental
associados a repouso muscular
e exercício mental.
Nas férias, você pode ler
aquele livro que seus colegas de
trabalho estavam comentando
com você por fora.
Se não gosta de best-sellers,
está bem, mas, nas férias, não
custa ver por que motivo estão
falando de vampiros as mesmas
pessoas que no ano passado falavam de Harry Potter.
Claro, se você é chegado às letras, aproveite para pegar de
novo aquele livro fundamental
que você deixou no capítulo 14.
Novidades? É só passar numa livraria que os tentáculos
envolventes de centenas de tomos, com suas capas chamativas e títulos provocantes, estarão prontos para te agarrar ou
desejosos de serem agarrados.
Nos escaparates (é assim que
se diz vitrines em Portugal
-aprendi isso num livro), centenas de autores estarão disputando a possibilidade de entrar
em férias... com você.
Leve algum, não hesite: haverá sempre um dia de chuva, um
churrasco indigesto, uma festa
de crianças que lhe permitirão
refugiar-se no barato careta da
leitura.
IVO BARROSO é poeta e crítico. É autor de "A
Caça Virtual" (ed. Record) e tradutor de "Arthur
Rimbaud - Correspondência" (Topbooks).
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