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O porviroscópio de Lobato
MONTEIRO LOBATO
O professor Benson prosseguiu:
- Obtenho, pois, neste aparelho, uma corrente contínua, que é
o presente. Tudo se acha impresso
em tal corrente. Os cardumes de
peixe que neste momento agonizam no seio do oceano ao serem
apanhados pela água tépida do
Golfo, o juiz bolchevista que neste
momento assina a condenação de
um mujik relapso num tribunal de
Arkangel; a palavra que, em Zorn,
neste momento, o kronprinz dirige ao ex-imperador da Alemanha,
a flor do pêssego que no sopé do
Fushiama recebe a visita de uma
abelha; o leucócito a envolver um
micróbio malévolo que penetrou
no sangue dum faquir da Índia; a
gota d'água que espirra do Niágara
e cai num líquen de certa pedra
marginal; a matriz de linotipo que
em certa tipografia de Calcutá acaba de cair no molde; a formiguinha que no pampa argentino foi
esmagada pelo casco do potro que
passou a galope; o beijo que num
estúdio de Los Angeles Gloria
Swanson começa a receber de Valentino...
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