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Carta a Fliess
Viena, 7 de maio de 1900
9, Berggasse 19
Querido Wilhelm,
(...) Nenhum crítico (nem mesmo o estúpido
Löwenfeld, o Burckhard da neuropatologia)
consegue sentir mais claramente do que eu a
disparidade entre os problemas e as respostas a
eles fornecidas (em "A Interpretação dos Sonhos"); e será uma justa punição para mim que
nenhuma das regiões inexploradas da vida psíquica em que fui o primeiro mortal a pôr os pés
receba meu nome ou obedeça a minhas leis.
Quando me pareceu que me faltaria o fôlego no
combate travado, pedi ao anjo que desistisse; e
isso foi o que ele fez desde então. Mas não me
saí como o mais forte, embora, desde essa época, venha mancando visivelmente. Sim, na verdade, estou agora com 44 anos, um judeu velho
e meio surrado, como você verá por si mesmo
no verão ou no outono. Minha família, apesar
disso, quis celebrar a data. Meu próprio maior
consolo é que não a privei de todas as realizações futuras. Meus familiares poderão ter suas
experiências e conquistas, na medida em que
elas estejam a seu alcance. Deixei-lhes uma base
de onde começarem, mas não os estou conduzindo ao cume de onde não mais poderiam alçar-se. (...)
Com as mais cordiais saudações a todos vocês,
Seu,
Sigm.
Trechos de "A Correspondência Completa de Sigmund Freud para Wilhelm Fliess - 1887-1904" (Ed. Imago).
Tradução de Vera Ribeiro.
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