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São Paulo, domingo, 29 de junho de 2003

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NELSON ASCHER

INUNDAM COM SEU CHEIRO A ESTAÇÃO ST LAZARE
Seguem como os Reis Magos sua estrela a um lugar
Como a Argentina onde farão fortuna e cada qual
Voltará rico a seu país natal
Uma família leva um edredom como por dentro vós levais
O coração mas o edredom e nossos sonhos não são reais
Há imigrantes que alugam qualquer espelunca
Na rua des Rosiers ou des Ecouffes e não partem nunca
Vejo-os na rua amiúde quando à tarde tomam ar
E como peças de xadrez se movem devagar
São judeus sobretudo cujas pálidas esposas
Que usam perucas ficam só no fundo de suas lojas
Estás frente ao balcão de um bar imundo e ao lado
Dos miseráveis bebes um café barato
À noite estás num belo restaurante
As mulheres daqui não sendo más têm não obstante
Seus problemas e até a mais feia fez sofrer o amante
Seu pai em Jersey de onde vem é um policial
Eu tenho dó das cicatrizes no seu ventre e mal
Havia visto suas duras mãos cheias de calo
Frente à coitada com seu riso atroz me calo
Estás sozinho vem chegando a aurora
Leiteiros fazem tinir latas rua afora
A noite feito a mais linda mulata
Ferdine a falsa ou Léa a afável já se afasta
O álcool que bebes é tua vida e arde igualmente
Bebes tua vida feito uma aguardente
Caminhas rumo a Auteil vais para casa a pé
dormir entre fetiches da Oceania e da Guiné
que são os Cristos de outras formas dos credos alheios
os Cristos inferiores de enigmáticos anseios
Adeus Adeus
Sol pescoço sem cabeça


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