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+(L)ivros
A tribo do dinheiro
Estudo etnográfico
sobre Wall Street mostra como
o mercado
se deslumbra
com a própria
retórica
GILLIAN TETT
Nos tempos anteriores à crise financeira, os banqueiros tinham a tendência a considerar que diplomas em antropologia eram coisas de hippie.
Mas isso mudou. À medida
que foram acontecendo os desastres financeiros dos dois últimos anos, ficou dolorosamente claro que os banqueiros
tinham acreditado demais em
seus modelos quase científicos.
Também ficou claro que a
compreensão de dinâmicas
culturais é crucial para compreender como funciona -ou
deixa de funcionar- o mundo
financeiro moderno.
Em vista de tudo isso, Karen
Ho escolheu um momento excelente para publicar seu novo
e fascinante estudo -ou "etnografia"- dos bancos de Wall
Street ["Liquidated - An Ethnography of Wall Street", Liquidado - Uma Etnografia de
Wall Street].
Ho leciona antropologia social na Universidade de Minnesota, mas dez anos atrás era
funcionária do Bankers Trust,
então gigante bancário poderoso de Wall Street, e realizou
pesquisas em vários bancos.
Ela se lançou em seu estudo
de maneira antropológica clássica: misturando-se às pessoas,
ouvindo atentamente, sem fazer julgamentos. Argumenta
que o "habitus" é moldado pela
experiência educacional dos
banqueiros e seu histórico de
emprego.
Os financistas modernos vivem em um mundo em que não
há segurança no emprego e onde banqueiros são pagos por
comerciar coisas ou fechar
acordos. Tendem a projetar sua
experiência própria sobre a
economia, aspirando a tornar
tudo "líquido", ou passível de
ser comerciado, incluindo empregos e pessoas.
Contradições
Essas projeções costumam
ser apresentadas no discurso
sobre "valores dos acionistas"
ou em conceitos abstratos do
"capitalismo de livre mercado"
-apresentados como "verdades" absolutas.
Ho defende, porém, que muitas dessas supostas "verdades"
estão repletas de contradições
que os banqueiros ignoram,
porque se deixam seduzir por
sua própria retórica.
Castas
Ela descreve como os bancos
de investimentos operam um
sistema de castas implícito que
separa o "escritório de frente",
de elite, dos escritórios inferiores, "médios" e "de fundos".
Analisa as redes de relacionamentos quase "de parentesco"
baseadas em relações entre antigos alunos das mesmas universidades. O mais fascinante é
seu relato sobre como Wall
Street se ilude com seu próprio
discurso sobre a chamada "eficiência de mercado".
Eu, de minha parte, votaria
em favor de o relato de Karen
Ho tornar-se leitura obrigatória em qualquer MBA (ou curso
sobre bancos de investimento).
GILLIAN TETT é editora de mercados de capital
do jornal inglês "Financial Times", onde a íntegra deste texto foi publicada, e autora de "O Ouro dos Tolos" (ed. Campus).
Tradução de Clara Allain.
LIQUIDATED - AN ETHNOG-RAPHY OF WALL STREET
Autor: Karen Ho
Editora: Duke University Press
Quanto: US$ 24,95 R$ 43 (392 págs.)
ONDE ENCOMENDAR - Livros em
inglês podem ser encomendados em www.amazon.com
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