São Paulo, domingo, 30 de agosto de 1998 |
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LUÍS FRANCISCO CARVALHO FILHO
Quando trata dos meios de comunicação, sua visão crítica das empresas jornalísticas não é ilustrada apenas pela informação técnica de como as coisas acontecem em outros cantos do mundo. José Paulo lembra que a população de seu Estado não assistiu à posse do governador Miguel Arraes porque nenhuma emissora -todas submetidas aos interesses das grandes redes- se interessou pela transmissão da cerimônia. As mesmas emissoras que, como mostra outro artigo, são regiamente remuneradas pelo horário eleitoral supostamente gratuito. A prisão inafiançável de dois lavradores acusados de matar dois animais em extinção, dois tamanduás, para comer, mostra com graça o que a lei pode contemplar de fantasia, estupidez e crueldade. Para que o leitor possa dimensionar a tragédia humana que se abateu sobre Goiânia, o articulista lembra que os mortos da radiação são sepultados em caixões de concreto, o que os mantêm "segregados por 400, 500 anos de solidão". Uma imagem terrível, que contrasta com a cena romântica da cova rasa, com palmos medida, e que bem ou mal nos devolve à natureza. Em Eldorado dos Carajás, "cada um de nós é um pouco aqueles policiais que atiraram". Os candidatos deixam "pedaços de suas almas pelas campanhas". O desprezo pela privacidade "sobrevive em nós como uma herança infausta do autoritarismo". Democracia, às vezes, "é não informar". Como sentencia o prefácio de Suassuna, o leitor pode facilmente discordar dos escritos de José Paulo Cavalcanti Filho, mas logo vê que seus impulsos são generosos, do bem. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice |
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