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PENSADOR ANTECIPOU TENDÊNCIAS HISTÓRICAS
DA REDAÇÃO
Nalgumas vezes com grande clareza, noutras nem
tanto, o desenvolvimento
de seus pressupostos teóricos levou Tocqueville a "adivinhar"
muitos dos importantes desenvolvimentos históricos dos séculos 19 e
20. A seguir, algumas idéias do pensador.
Marcha para o Oeste
Para Tocqueville, era inevitável que
os norte-americanos ocupassem os
territórios a oeste de sua formação
original, pois os EUA acreditam na
autocriação. No âmago dessa crença
está a convicção de que circunstâncias herdadas e antepassados são
menos importantes do que a direção
que cada um escolhe para si e o esforço investido nessa escolha. Assim
os norte-americanos estariam livres
para reproduzir o padrão de colonização original em direção ao oeste.
Fim da escravidão
A instituição da escravidão feria imperativos da consciência igualitária
moderna e da ética cristã, ou seja, o
fato de o cristianismo ser uma "religião de homens livres". Para Tocqueville, ao se incutir a religião aos
escravos, surgiriam neles "instintos
de liberdade", que contribuiriam
para o fim da servidão. "A época que
segue à abolição da escravatura", escreveu, "é sempre um tempo de mal-estar e de esforço social". "Esse é um
mal inevitável. É necessário se decidir a suportá-lo ou a eternizar a escravidão."
Guerra de Secessão
A guerra entre os Estados do norte e
do sul dos Estados Unidos (1861-1865) seria uma conseqüência do
fim da escravidão, que era inevitável
com o desenvolvimento da democracia. A liberdade dos negros opunha as duas regiões, além disso demasiadamente desiguais, ambas as
causas contribuindo para a guerra.
O mundo entre EUA e Rússia
Toqueville previu que no século 20 o
mundo seria dirigido pelos EUA e
pela Rússia. Escreveu que havia "sobre a Terra dois grandes povos que,
partindo de pontos diferentes, parecem perseguir a mesma meta: são os
russos e os anglo-americanos".
"Seus pontos de vista são diferentes,
seus caminhos são diversos. Mesmo
assim, cada um deles parece chamado pelo desígnio da providência a
sustentar um dia em suas mãos os
destinos da metade do mundo."
Protestantismo como
o cristianismo moderno
Para Tocqueville, o princípio da
igualdade se apreende primeiro
através da religião, e a democracia é
basicamente uma forma secularizada de cristianismo. O avanço da democracia seria assim uma característica primordial das nações cristãs.
Na sua obra ele faz várias referências
ao mundo cristão como o palco de
suas generalizações sobre a difusão
da igualdade. O protestantismo, em
particular, abriu caminho para a democracia ao dar aos fiéis um acesso
direto a Deus e ao driblar a autoridade de uma igreja autocrática.
Prevalência do privado
sobre o público
A democracia carrega consigo as sementes do individualismo, já que, ao
destruir os laços de hierarquia e lealdade, "traz cada um de volta a si
mesmo e ameaça encerrá-lo, enfim,
na solidão do seu próprio coração".
Ainda segundo o francês, o mundo
igualitário moderno seria necessariamente individualista. A sobrevivência dos indivíduos passaria a depender do esforço de cada um no
mundo do trabalho e da competição, o que favorecia o isolamento social e o confinamento à esfera do privado. Diminuindo a importância
das práticas voltadas para a realização do bem comum, o governo da
democracia se transformava em mecanismo de distribuição de benesses
e de sofrimentos, com riscos de despotismo.
Elogio da descentralização
administrativa
A centralização administrativa do
Antigo Regime, dizia Tocqueville,
era a mesma encontrada ainda em
meados do século 19 francês. Do
mesmo modo, o tratamento do ímpeto racionalista e planejador dos
"fisiocratas" serviu para ele denunciar ao mesmo tempo o despotismo
esclarecido do século 18 e o socialismo. "Crê-se que as teorias destrutivas que são hoje designadas pelo nome "socialismo" são de origem recente; é um erro: essas teorias são
contemporâneas dos primeiros economistas." Entre os norte-americanos, em contrapartida, o fortalecimento do poder local servia como
freio para o gigantismo do Estado e
o ímpeto controlador do governo
central.
Os intelectuais e o poder
Tocqueville criticou nos intelectuais
políticos a "falta de experiência" e a
"tendência para propalarem idéias
gerais que levam a extremismos
simplistas". Ele censurou os intelectuais por, em sua opinião, desempenharem um papel negativo no exercício do poder.
Desenvolvimento gradual
da democracia
O pensador francês defendia que a
democracia seria o resultado de um
desenvolvimento gradual, independente de grandes rupturas. Para ele,
"o desenvolvimento gradual da
igualdade de condições é [...] um fato providencial e as suas características são as seguintes: ele é universal, é
durável, escapa sempre ao poder humano; todos os acontecimentos, como todos os homens, servem ao seu
desenvolvimento". As grandes potências do século 20 seriam aquelas
que obedecessem de forma mais total a essa tendência democrática.
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