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Portugal quer Brasil em suas privatizações FMI, União Europeia e Banco Central Europeu exigem ajuste e venda de estatais de energia, aviação e televisão Potência em energia eólica, gigante estatal EDP recebe propostas de Cemig e Eletrobras; TAM mira a TAP RAUL JUSTE LORESENVIADO ESPECIAL A LISBOA Em seu momento digno de América Latina dos anos 80, Portugal foi intimado pelo Fundo Monetário Internacional, pela Comissão Europeia e pelo Banco Central Europeu a fazer um agressivo programa de ajustes, incluindo privatizar algumas de suas maiores estatais. Empresas do Brasil, de Angola e da China lideram a competição para ficar com as maiores estatais lusas, que podem servir de entrada na Europa e em alguns países africanos. A companhia aérea TAP está na mira da TAM (em tempos de se converter Latam), a gigante energética EDP é cobiçada por Cemig e Eletrobras e a imprensa portuguesa insinua que a Rede Bandeirantes estaria de olho na Rádio e Televisão de Portugal (RTP). Mas ainda tem empresas de TV paga, estaleiros e até a Infraero portuguesa, a ANA, na lista de vendas. A maior de todas é a EDP (Energias de Portugal), terceira maior do mundo em energia eólica, presente no Brasil, na Polônia, na Espanha, nos EUA e na África. Com faturamento de € 14 bilhões (R$ 33,6 bilhões), equivalente ao Grupo Pão de Açúcar ou à Gerdau, tem 12 mil funcionários (3.000 no Brasil) e investe pesado em energias renováveis (já responsáveis por 38% de seu faturamento). "Sessenta por cento dos resultados vêm de fora, o que nos protege da crise portuguesa", diz Antônio Mexia, presidente da EDP. A empresa tem usinas no Rio Grande do Sul, em Mato Grosso e no Tocantins e constrói centrais no Amapá, no Pará e no Espírito Santo. "A língua ajuda, mas o foco não deve ser o mercado da saudade portuguesa", diz. "A EDP se internacionalizou há tempos e o investimento brasileiro tem mais sentido se for para, juntos, sairmos à conquista do mundo." Cemig e Eletrobras competem com a estatal Três Gargantas, da China, e os alemães da multinacional E.on. A maior empresa de TV paga no país, a Zon, deve ser vendida para Isabel dos Santos, 38, a mulher mais rica de Angola, que vem a ser filha do presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, há 32 anos no poder. A imprensa portuguesa também insiste em que a Rede Bandeirantes estaria interessada em comprar a Rádio e Televisão de Portugal (RTP), mas executivos da rede desmentiram. A convenção da emissora aconteceu na semana retrasada em Lisboa, o que reforçou os boatos. OPORTUNIDADE No seminário "Portugal, ameaça ou oportunidade", organizado em conjunto pela Confederação Empresarial de Portugal e pela consultoria Cunha Vaz e Associados, os empresários presentes admitiam que o país já não é a plataforma na Europa para o Brasil, que não precisa mais de intermediários. Mas ainda tinham esperanças nos investimentos brasileiros. Vários, aliás, apostavam que estaleiros portugueses poderiam ser acionados na reconstrução da indústria naval brasileira e sugeriam que a produção portuguesa com investimento brasileiro entrasse no boom do pré-sal como "conteúdo nacional". "Muitas empresas não investiam em Portugal por conta de nossa rígida lei trabalhista, por conta de problemas na economia portuguesa que começam a ser solucionados. Com as reformas que estamos fazendo, a hora de investir é agora", disse à Folha Carlos Moedas, secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro, homem forte do governo português e ex-Goldman Sachs. Moedas se refere às demais reformas exigidas pela troika, como são conhecidos FMI e as duas autoridades europeias: a redução da concessão do seguro-desemprego, que pode chegar a 38 meses e a € 1.600 por mês, e o enxugamento no funcionalismo público, hoje em 700 mil para uma população trabalhadora de 5,5 milhões. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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