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Opinião Mineração

Estados atropelam União ao propor taxas sobre minérios

PAULO CAMILLO VARGAS PENNA
ESPECIAL PARA A FOLHA

A reforma tributária continua sendo uma promessa vazia há seguidos anos. Compreende-se que o governo federal prorrogue o debate por concentrar em suas mãos arrecadação bilionária crescente de impostos, taxas, compensações e outros penduricalhos. É, afinal, um instrumento inigualável para financiar seus projetos.

A tributação brasileira foi pensada há anos, em cenário de elevada informalidade. As alíquotas foram fixadas de modo a obter o máximo de contribuição das empresas legalizadas e dos trabalhadores com carteira assinada.

A economia não tem mais o mesmo índice elevado de informalidade -vemos contratação recorde de trabalhadores registrados ano após ano. Mas a tributação continua altíssima e os ingressos nos erários, aparentemente, não contemplam repartição equilibrada entre União, Estados e municípios.

Como consequência, na tentativa de elevar suas arrecadações à custa do setor produtivo, governos regionais invadem atribuições constitucionais da União. Assim, acabam por colocar em risco sua própria situação econômico-financeira, ao elevar o custo das empresas.

Nos dois principais Estados mineradores (Minas Gerais e Pará), as Assembleias Legislativas analisam a criação de taxa sobre a produção mineral. Como boa parte dos excedentes da produção é exportada, operação isenta de ICMS segundo a Lei Kandir, os governos tentam "recompor" essa arrecadação.

Impressiona a rapidez com que a matéria tramitou no Pará, mesmo sendo, ao que tudo indica, inconstitucional. A AGU já se manifestou, em episódios anteriores, afirmando ser privativa da União a competência para legislar sobre recursos minerais.

Já a Comissão de Minas e Energia da Assembleia mineira tomou outro rumo. Seu presidente, o deputado Sávio Souza Cruz (PMDB), alerta para o risco de a medida desencadear uma série de propostas semelhantes, e não somente sobre a mineração.

Essas iniciativas, quase que conjuntas nos dois Estados, fadadas a não prosperarem pelo que preconiza a Constituição, ocupam tempo de todos os envolvidos, geram despesas e apreensão no setor produtivo, inibem investimentos, maculam o planejamento das empresas, fomentam ações judiciais -e se somam a tudo isso que conhecemos pela alcunha de "custo Brasil", que poderia ser evitado se a discussão da reforma tributária avançasse.

Essa, aliás, é uma das proposições de documento elaborado neste mês pela Frente Parlamentar Mista em Defesa da Infraestrutura Nacional, corroborado por boa parte do setor produtivo. Será que agora vai?

PAULO CAMILLO VARGAS PENNA é diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram).

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