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Kátia Abreu

Deu no 'New York Times'

De forma temerária e gratuita, o jornal insinua que pode ser criminosa a procedência da soja do país

O fato é que "deu no New York Times", para lembrar o jargão celebrizado no Brasil dos anos 1980 pelo cartunista Henfil, no jornal "O Pasquim", ressaltando a importância desse diário norte-americano.

A pretexto de alertar o mundo para o que seria mais uma tragédia ambiental, o "Times" publicou, na edição internacional impressa do último dia 16, um feroz ataque ao mais importante item das exportações brasileiras.

Assim como o fizera na véspera, em sua versão on-line, o jornal sugeriu, com a malícia de uma afirmação travestida de hipótese, que o crescimento da produção nacional de soja é fruto do aumento do desmatamento da Amazônia.

Ao registrar dados obtidos por um sistema global de mapeamento florestal desenvolvido por cientistas da Universidade de Maryland --cuja idoneidade não se discute até por ser referendado pelo Google e por informações dos satélites de observação dos Estados Unidos--, o "Times", gratuita e temerariamente, insinua que pode ser criminosa a procedência da commodity produzida aqui.

"A soja não é a única causa do desmatamento no Brasil, mas é um fator importante", atenua o texto, intitulado "Perdendo terreno na Amazônia" e atribuído ao Conselho Editorial do jornal, composto por 18 profissionais. Logo em seguida, o autor ou autores apontam a aprovação do novo Código Florestal como indutora do processo.

O toque de malícia e inverdade está em associar, como se fossem causa e efeito, um fato concreto sobre a Amazônia a outro fato: a expansão da produção da soja no Brasil. E as duas coisas, ao Código Florestal. Raramente se vê exemplo tão acintoso da chamada "dicotomia da causalidade", quando dois fatos opostos são equivocadamente associados, desprezando outras opções entre as quais pode estar a verdade.

Desprezou-se, nesse caso, o fator produtividade, reconhecida chave da economicidade e dos avanços tecnológicos aplicados no plantio. É isso o que torna competitiva a soja brasileira no mercado mundial, a despeito dos gargalos de infraestrutura e logística que o produtor ainda tem que enfrentar.

Vincular o grão brasileiro ao desmatamento da Amazônia não é um exercício de ingenuidade, posto que, como lembra o próprio texto, "o Brasil é hoje o segundo maior produtor mundial de soja, atrás apenas dos Estados Unidos". Devia também lembrar que a tese já havia sido desmontada com o monitoramento das áreas de produção entre 2006 e 2012, durante a Moratória da Soja, à qual aderiram a Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais) e a Anec (Associação Brasileira dos Exportadores de Cereais).

A vigilância das ONGs, com as quais se comprometeram importadores da nossa soja, impôs rigoroso controle das exportações a partir dos financiamentos e da certificação de origem, produzindo a certeza de que a commodity não provém de áreas desmatadas do Bioma Amazônia. As sucessivas safras recordes do grão também comprovam que os 27,7% do território nacional ocupados pela agropecuária são suficientes para suportar --e com folga-- nossa produção.

Sabemos que faz parte do jogo pagar um preço altíssimo por termos quase dois terços do território na Amazônia. O país é a maior vitrine do ativismo ambientalista mundial, com grande capacidade de mobilização da opinião pública, dada a importância da nossa floresta para a preservação do ambiente.

Ninguém registra, porém, que temos a mais rigorosa legislação ambiental do planeta. Tampouco alardeiam que preservamos 61% da cobertura nativa do território nacional e atribuímos aos proprietários de terras o ônus da preservação quando, noutros países, como os Estados Unidos, os governos compensam aqueles que tomam para si esta tarefa.

O Brasil assumiu --e é justo que tenha feito-- a responsabilidade de preservação da Amazônia. Mas é insuportável que a circunstância alimente inverdades que, perversamente, comprometem nossa produção agrícola desenvolvida fora desse bioma e com padrões de mercado concorrenciais. Nosso pecado é competir, acidentalmente, com a soja americana.


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