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Análise

Medidas de defesa da indústria se justificam, mas devem ser transitórias

ANDRÉ NASSIF
ESPECIAL PARA A FOLHA

Muito se tem discutido sobre medidas impostas e estudadas pelo governo brasileiro contra a avalanche de produtos importados, especialmente os chineses.

São defensáveis os esforços do governo de proteger a indústria local contra o dramático crescimento do valor importado em determinados setores nos quais o Brasil já conte com vantagens comparativas efetivas ou potenciais?

Antecipadamente, a resposta é sim, mas com um condicionante: desde que o período de vigência dos impostos seja transitório.

Os baixos níveis de produtividade, o declínio da competitividade, a desindustrialização e a deterioração de saldos comerciais estão associados à valorização do real.

Porém, ainda que reconheçamos que a sobrevalorização cambial é o fator principal que elide a competitividade e desestimula as inovações por parte do empresariado, o fato é que não é possível equacionar o problema cambial em contexto de elevada dependência de capitais externos para financiar os deficits em conta-corrente.

Sendo assim, o próprio governo sabe que as medidas "ad hoc" de controle de capitais, a maior parte dos mecanismos de estímulo a setores e as recentes medidas de defesa comercial são meros paliativos necessários enquanto a economia brasileira não consiga transitar para taxas de juros reais baixas e real levemente depreciado.

Seja qual for o cenário da economia mundial no próximo ano, é preciso ressaltar que o câmbio vigente não é compatível com o equilíbrio das contas externas brasileiras no médio prazo.

Isso significa que estamos diante de dois cenários: no primeiro, o agravamento da crise do Euro poderia provocar deterioração de expectativas, fuga de capitais e dramática depreciação do real.

No segundo, caso a União Europeia encontre uma solução "civilizada" e sabendo-se que a economia americana se encontra em lenta recuperação, é possível que o Brasil volte a apresentar crescimento um pouco mais rápido nos próximos dois ou três anos.

Nesse cenário, a deterioração das contas-correntes acabaria levando, mais cedo ou mais tarde, à depreciação do real (talvez de forma menos traumática).

Portanto, "enquanto seu lobo não vem", só nos resta defender a indústria brasileira com medidas paliativas e transitórias.

ANDRÉ NASSIF é professor de Economia Internacional da Universidade Federal Fluminense e do MBA em Comércio Exterior da Fundação Getúlio Vargas

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